Prefeito de Caxias do Sul entre 1935 e 1947, Dante Marcucci (1889-1956) teve sua trajetória política reverenciada em 1965, durante a Festa Nacional da Uva. Foi quando a administração municipal e a comissão do evento instalaram um busto do político no antigo parque de exposições da festa, na Rua Alfredo Chaves. A estátua, obra do fotógrafo e escultor Ary Cavalcanti, foi inaugurada em 6 de março daquele ano, com a presença da família, do presidente da festa, empresário Ottoni Minghelli, e de diversas autoridades.
A homenagem, porém, transformou-se em polêmica na gestão seguinte, sob o comando de Mário Bernardino Ramos. O então prefeito decidiu pela transferência da herma para a Praça Dante Marcucci (da Bandeira, ao lado da rodoviária velha), que passava por uma revitalização. A decisão motivou discussões acaloradas entre a família e a prefeitura, além de uma carta do advogado Remo Marcucci (1924-1993), filho de Dante, com duras críticas à iniciativa.
Remo recusou-se a comparecer à solenidade. E sua missiva, em forma de desabafo, foi reproduzida no Jornal de Caxias de 15 de março de 1975 — época em que Mário Ramos licenciava-se da prefeitura para assumir a Secretaria de Turismo do Estado.
"Senhor prefeito, devolvo o convite que me remeteu contra recibo, ontem, para participar das homenagens que hoje pretende prestar ao meu progenitor, cujo busto retirou de onde se achava. Não tomo conhecimento das aludidas homenagens, a respeito das quais deixo de tecer comentários, à luz dos meus sentimentos. No ensejo, quero deixar bem claro que dispenso os protestos de consideração e apreço que formula e, ao mesmo tempo, expresso minha intensa alegria em saber que, dentro de poucos dias, deixará Caxias do Sul entregue a outras mãos".
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Estátua de costas
Em uma crônica no Pioneiro de 26 de julho de 1975, sobre as atrações turísticas de Caxias (foto abaixo), o advogado Remo Marcucci ironizava a "Estátua de Costas".
"Caxias é, ao que sei, a única cidade do mundo que possui um monumento em praça pública de costas. Acredito até que o operoso vice-prefeito em exercício já se deu conta disso e, possivelmente, mais cedo ou mais tarde, ordenará ao seu Secretário de Turismo que inclua no roteiro da cidade a visita à ‘Estátua de Costas’. Eu até que não me importaria com isso, não fosse a estátua o busto do meu querido e saudoso pai".
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Retorno em 1977
A polêmica teve fim em fevereiro de 1977, na sequência da posse do novo prefeito, Mansueto de Castro Serafini Filho. Após a primeira reunião de Mansueto com o novo secretariado municipal, decidiu-se pelo retorno do busto a seu local de origem, o largo fronteiro do antigo pavilhão da Festa da Uva — e que desde 1975 já abrigava a prefeitura.
Conforme reportagem do Pioneiro de 12 de fevereiro de 1977, "muita celeuma causou aquele fato, e agora, com a volta do busto para o Centro Administrativo, onde ele foi colocado sem cerimônias ou festa, tudo serenou".
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