A notícia da segunda tentativa de locação da sede social do Clube Juvenil, na esquina da Av. Júlio de Castilhos com a Rua Marquês do Herval, despertou as mais variadas reações da comunidade caxiense no decorrer da última semana – quando uma foto da placa de “aluga-se” na fachada viralizou nas redes sociais.
Tombado pelo Patrimônio Histórico do Município desde 2007 – época em que as Lojas Renner buscavam autorização para alterar a estrutura interna, o que não foi permitido – , o prédio dialoga com a história de Caxias desde 8 de setembro de 1928, data de sua inauguração. Toda essa história, porém, remete a bem antes, quando a Vila de Caxias nem havia sido elevada à categoria de cidade.
Construído pelo italiano Silvio Toigo, o prédio “debutou” 23 anos após o surgimento da agremiação, em 1905. Consta no histórico oficial do clube:
“No dia 17 de junho de 1905, Américo Ribeiro Mendes, Henrique Moro e Carlos Giessen começaram a discutir as ideias para fundar uma sociedade recreativa. Dois dias após, 20 rapazes foram convidados para comparecer a uma reunião e estruturar o planejamento da associação. No entanto, somente 11 compareceram. Reuniram-se na residência do Dr. José Bragatti os jovens Archimino Selistre Campos, Antonio Guelfi, Romano Rossi, Vitório Rossi, Dante Penerari, Umberto Jaconi, Luiz Amoretti, Heitor Pezzi e mais os três organizadores, fundando neste dia, 19 de junho de 1905, o Clube Juvenil. Américo Ribeiro Mendes propôs o nome ‘Club Juvenil’, pois surgia da iniciativa de jovens. Sua sugestão agradou a todos e, então, discutiram o estatuto, escreveram a ata de fundação e denominaram os cargos. No estatuto ficaram definidos os valores, direitos e deveres dos associados, composto apenas por homens solteiros. O baile inaugural, de gala, intitulado ‘Baile Rosa’ devido à decoração do salão ser rosa e a maior parte dos convidados também ir vestida com esta cor, contou com 320 pessoas, marcando o início de grandes eventos que surgiriam tempos depois”.
Toda essa badalação inicial ocorreu em sedes provisórias. Primeiro, na própria casa de Bragatti, na esquina da Júlio com a Dr. Montaury. Na sequência, junto ao sobrado de alvenaria do comerciante italiano Stefano Alberti, na Júlio entre as ruas Garibaldi e Marechal Floriano – originalmente um secos & molhados e, depois, uma das sedes do Hospital Pompéia e o consultório/residência do médico José A. Brugger.
Já em 19 de junho de 1911, sob a gestão de Orestes Manfro, foi lançada a pedra fundamental da sede própria, inaugurada em 1912 na antiga Rua Andrade Pinto (atual Os Dezoito do Forte), esquina com Visconde de Pelotas. O Juvenil permaneceu ali até 1924, quando um incêndio destruiu totalmente o prédio. Começaria a tomar forma, a partir desse trágico episódio, o atual Clube Juvenil...
As obras
Conforme informações compartilhadas pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, para a construção de sua sede definitiva, o Clube Juvenil abriu um concurso, cujo vencedor foi o engenheiro Pedro Paulo Scheunemann, de Porto Alegre – o projeto, aprovado pela Intendência Municipal em 24 de agosto de 1925, inclusive integra o acervo do Arquivo Histórico Municipal.
Edição do jornal “O Regional” de 20 de agosto de 1928, às vésperas da inauguração, em 8 de setembro de 1928, trouxe mais detalhes de todo aquele processo:
“Aberta a concorrência para a construção do prédio, foi a parte de alvenaria contratada pelo sr. Silvio Toigo, a de madeiramento pelos srs. João Spinato & Irmãos, e a de esquadria pela firma Zuardi, Galleano & Cia, cujas obras foram todas concluídas e entregues já à Comissão Construtora, da qual é presidente o sr. Carlos Giessen.”
A mesma matéria detalhou o mobiliário e os vários ambientes do clube:
“Existem no pavimento superior sala de fumantes e biblioteca, dispondo ainda o prédio de um amplo terraço, de onde se descortina empolgante panorama da cidade e seus contornos. É digno de nota o mobiliário do novo prédio. Os móveis foram fornecidos pelas conhecidas casas José Sanguinetti e Arbós & Salvador. Obedecem elas ao estilo barroco, sendo o estofamento de damasco amarelo e encarnado, que são as cores do Clube Juvenil”.
Curiosidades
- O anúncio da elevação de Caxias à categoria de cidade e o baile festivo, em 1º de junho de 1910, ocorreram no Clube Juvenil (sede antiga junto à área do Hospital Pompéia).
- A festa da cumeeira (celebração ao fim de uma obra em mutirão) ocorreu em setembro de 1927, com um “magnífico churrasco”, segundo o jornal “O Regional” de 3 de outubro de 1927.
- O Juvenil promoveu os primeiros saraus literários de Caxias, além de dar forma e abrigar os ensaios da pioneira orquestra sinfônica da cidade, na década de 1940.
- Em 1990, a pintura externa da sede social, em tons de rosa, buscou homenagear o Teatro Amazonas, em Manaus, vide o estilo neoclássico de ambos os prédios. A obra ocorreu durante a gestão do casal Flávio e Leonor Aguzzoli, com a assessoria do arquiteto Ângelo Guizzo Neto.