Menos de um ano após o incêndio do primeiro prédio do cinema, ainda em madeira, em 28 de maio de 1927, a esquina das ruas Pinheiro Machado e Dr. Montaury recebeu aquele que, até 1994, foi um símbolo cultural da cidade.
Falamos do novo Cine Theatro Apollo, em alvenaria, reinaugurado em 7 de abril de 1928. Parte dessa história foi destacada no livro Cinema: Lembranças, lançado em 2007 pelas professoras Loraine Slomp Giron e Kenia Pozenato, cujos trechos reproduzimos a seguir:
“Em 8 de março de 1928, a reportagem do jornal “Caxias” visitou as obras do conhecido centro de diversões, mandado construir no mesmo local do prédio que foi destruído pelo violento incêndio (tema da coluna desta quarta). É uma obra imponente de alvenaria, construído por Silvio Toigo, sendo seus proprietários Pedro Fonini, Rodolpho Braghirolli e Savério Postiglione”.
Conforme as autoras, a edificação apresentava três pavimentos, com 14 amplas janelas em guilhotina por andar, com tampos internos de madeira para o escurecimento da sala, conforme vemos na foto acima:
“Pseudo-colunas encimadas por liras feitas em cimento decoravam a fachada de linhas severas, cuja beleza residia no arredondado da entrada, onde se encontrava a bilheteria e onde eram expostos os cartazes anunciando os filmes. O interior era todo em madeira, o que fazia da sala de espetáculos uma excelente caixa de som. Foram mantidas as três ordens de camarotes (que somavam 472 lugares). Na terceira ordem, ladeando a cabine de projeção, havia o famoso galinheiro – ou poleiro –, nome dado pela população ao local com uma série de 10 poltronas colocadas em seis filas, praticamente perpendiculares à plateia. Ao todo, a plateia comportava 1.200 lugares, com poltronas fixas de madeira. Além das escadas internas, havia uma externa, que possibilitava o acesso à parte superior do cinema, onde se localizava a moradia do gerente. As dependências eram amplas, dando para a sacada situada sobre a entrada principal”.
Pouco após a reconstrução, que durou 11 meses, o cinema foi vendido para o sr. Laurentino Muratore. Na imagem acima, o novíssimo prédio em 1928, captado pelo fotógrafo italiano Domingos Mancuso. Repare que o letreiro não traz a identificação cinema, apenas “Theatro Apollo”.
Toda essa estrutura permaneceu até o início dos anos 1950, quando uma nova reforma do prédio anunciou a chegada de outro ícone: o Cine Theatro Ópera, inaugurado em 14 de junho de 1952. Mas essa é uma outra história...
Nas imagens abaixo, dois anúncios publicados nos jornais "O Momento" e "A Época", trazendo a programação do Apollo na década de 1930.
Galinheiro, gelados e guloseimas
Às vésperas da reinauguração, o público já se mostrava ansioso pelo novo Apollo. Texto publicado na coluna “Fatos & Coisas” do jornal “Caxias”, em 1º de março de 1928, destacou o “galinheiro”:
“O cinema terá 70 camarotes e contará ainda com um belíssimo galinheiro, para guardar um grande número daqueles que, como nós, não podem despender muitos tostões para assistir a passagem das fitas americanas e outras do mesmo estilo. Para alegria daqueles que “quem não entorta o braço é trouxa”, contará também com um sortido bar, contendo apetitosas bebidas e gelados, misturado com toda sorte de guloseimas”.
Filme da Festa da Uva de 1937
A festa de reinauguração do Apollo, em 7 de abril de 1928, foi marcada por diversos discursos e um recital de trechos de óperas, apresentado pela orquestra do teatro.
Conforme detalhado pelas pesquisadoras Loraine Slomp Giron e Kenia Pozenato no livro, o ressurgimento do Apollo alegrou a cidade, que pode novamente contar com mais uma sala de projeções. E a rápida reconstrução – menos de um ano – ratificou sua importância para a vida social e cultural da cidade.
Uma prova disso deu-se em 1937, quando o Theatro Apollo e o Cine Central promoveram sessões de apresentação do filme oficial da Festa da Uva de 1937. A notícia (foto acima) figurou no jornal “O Momento” de 19 de abril de 1937:
“Trata-se de um excelente apanhado, focado com muita precisão e sincronizado com boa música, tendo duas longas partes, por onde poderá se observar o entusiasmo que despertou a festividade da vindima no corrente ano”.
Oscar Baciquet em 1948
Um dos personagens do antigo Cine Apollo foi recordado pelo fotógrafo e antigo titular da coluna Memória Roni Rigon, em uma publicação de 6 de julho de 2013. Trata-se do senhor Oscar Baciquet (1914-1992), atuante como projecionista na década de 1940. Conforme Rigon, nessa função, seu Oscar aprendeu a fazer a manutenção do equipamento cinematográfico, cuja tarefa exigia cuidado e delicadeza na limpeza das lentes.
O ofício na sala escura mesclava-se ao dia a dia na Metalúrgica Abramo Eberle, onde seu Oscar ingressou em 1936 - exímio moldador, ele foi um dos responsáveis pelo trabalho nas botas do Monumento Nacional ao Imigrante. Na imagem acima vê-se Oscar Baciquet na cabine de projeção do Cine Apollo em 1948.