Parece inacreditável, mas Caxias já dispôs de um charmoso chalé municipal, com restaurante, café, comércio, venda de bebidas e música ao vivo bem no coração da Praça Dante Alighieri — exatamente onde, desde 1937, situa-se o chafariz. A estrutura surgiu 20 anos antes, em 1917, conforme destacado pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami em sua série de publicações semanais no Facebook — e que hoje compartilhamos neste espaço.
Firmado o contrato entre a Intendência Municipal e os concessionários Jorge Domingos de Arruda e Alziro Baptista de Lucena em agosto de 1916, o “Chalet Municipal” tomou forma entre os meses de setembro de 1916 e janeiro de 1917. Já a inauguração ocorreu em 1º de fevereiro de 1917, conforme noticiou o jornal “O Brazil” em sua edição de 3 de fevereiro:
"Teve lugar quinta-feira, às 21h, a inauguração do elegante e confortável chalet da Praça Dante. A todos que visitaram o chalet, os senhores Lucena & Arruda ofereceram profuso chopp, abrilhantando o ato duas bandas de música."
Cerca de um ano depois, em fevereiro de 1918, circulou a notícia de que Arruda & Lucena venderam "as existências do Chalet da Praça Dante" ao sr. Dionysio Cibelli. Após algumas reformas, o lugar foi reinaugurado em outubro daquele ano, sob a propriedade de Cibelli & Valencia, conforme destacado pelo jornal Città Di Caxias, edição de 4 de novembro de 1918:
"Grande tem sido o número de excelentíssimas famílias que, todas as noites, acorrem ao Chalet no desejo de ouvir boa música, passando momentos agradabilíssimos."
Posteriormente, em 1920, o local teve como arrendatários os senhores Ary Fontoura e Antonio Veiga, que deram sequência ao serviço de restaurante.
O registro abaixo, reproduzido do livro “O Rio Grande do Sul Colonial”, traz uma montagem do entorno da Praça Dante Alighieri e o chalé recém-concluído em 1917. Na foto que abre a matéria, um cartão postal da praça e do chalé, vistos a partir da então Rua Júlio de Castilhos.
Em ambos, a praça ainda aparece cercada e com muros - antes das reformas que culminariam com o nivelamento do terreno e a demolição do chalé, em 1925.
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Outras abordagens
O chalé também já apareceu em fotos que ilustraram outros assuntos abordados na coluna, como a inauguração da Estátua da Liberdade, em 1922, e a Gripe Espanhola de 1918. Na foto abaixo, a Praça Dante Alighieri coberta de neve em 7 de junho de 1918.
Trata-se de um registro dos trabalhos de ajardinamento realizados durante a gestão do intendente Penna de Moraes. Captada a partir da Rua Marquês do Herval, com a Dr. Montaury ao fundo, a foto traz, ao centro, o Chalet Municipal.
Na parte inferior, avista-se também as entradas dos sanitários públicos, que já apresentavam uma proposta moderna para a época: construções subterrâneas com acessos individuais masculino e feminino.
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Jardim, pintura e jogos lícitos
Conforme informações do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, o edital de concorrência para o arrendamento do chalé foi publicado pela Intendência Municipal em agosto de 1916. Segundo o documento, a concessão se daria pelo prazo de 20 anos, a contar de 1º de janeiro de 1917, e estaria sujeita a diversas condições. Cabia aos concessionários, entre outras:
:: O direito de estabelecer um bar com qualquer gênero de diversão moral e jogos lícitos, podendo transferir a terceiros a concessão ou sublocar o chalé.
:: Depositar nos cofres da Intendência Municipal o valor da construção do chalé, ajustado pela proposta com o construtor Ferrucio Duso, no total de "dez contos e quinhentos mil réis", em três prestações, ficando isentos de qualquer aluguel durante o prazo da concessão.
:: A utilização do jardim, sem prejuízo da arborização e plantação, porém não poderiam fazer ali instalações para festejos populares.
:: A obrigação de zelar pela conservação do chalé e suas dependências devendo o mesmo ser caiado e pintado pelo menos uma vez a cada dois anos e também realizar a limpeza do perímetro ocupado.
Já à Intendência Municipal cabiam, entre outras condições:
:: Fornecer água para mais de um encanamento instalado no interior do chalé e também para uma torneira, correndo as despesas por conta da construção do chalé e estando incluídas no seu custo total.
:: Responsabilidade pela limpeza e manutenção do jardim, pelo policiamento do local e por manter acesas as lâmpadas da iluminação pública durante a noite, nas horas regulamentares.
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Curiosidades
:: O local oferecia, além de sanduíches, cafés e bebidas diversas, o “famoso fumo em corda amarelinho”, conforme anúncios publicados em jornais de 1922.
:: No chalé também eram expostos e comercializados livros, como Os Irmãos Brocato - Crimes e Aventuras, de Crispim Mira. Volumes da obra foram oferecidos para venda pelo senhor Augusto Gavioli, segundo notas de 1918 no jornal Città di Caxias.
:: As noites de verão costumavam ser animadas por “afinadas orquestras”, conforme publicações de 1918.
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