Celebrado por muitos como o "ano de ouro" de Hollywood, com as estreias de ... E o Vento Levou, O Mágico de Oz, Ninotchka e O Morro dos Ventos Uivantes, 1939 também marcou a inauguração do Cine Teatro Guarany, em Caxias do Sul. Em 8 de outubro de 77 anos atrás, a chegada do novo "espaço de entretenimento da cidade" foi notícia de primeira página do jornal A Época.
Conforme informações contidas no livro Cinema: Lembranças, de Kenia Pozenato e Loraine Slomp Giron, não se tratava de uma nova construção, mas de uma grande reforma do antigo cinema. Na época em que foi erguido, provavelmente final dos anos 1920, sua arquitetura apresentava linhas simples e modernas.
A fachada era revestida de cimento com mica, na cor cinza. Havia duas bilheterias, uma em cada lado, para dar conta das enormes filas. Já o hall de entrada apresentava um chão de lajotas hexagonais em tom telha, sempre muito bem encerado e lustroso, além de sofás e poltronas vermelhas e pretas. Nesta mesma sala costumavam ser expostos, para conhecimento do público, os cartazes dos futuros lançamentos.
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A estrutura
O prédio tinha dois pavimentos. Na parte inferior ficava a plateia maior e, na superior, o mezanino. Este último era acessado por duas escadarias, uma de cada lado do hall de entrada, com um corrimão em imbuia. Naqueles primórdios, as cadeiras da plateia eram marrom escuras, com assento dobrável em madeira trabalhada de forma anatômica e com apoio para os braços, conforme vemos na foto abaixo e na imagem que abre a matéria.
Mais tarde, por volta de 1952, o cinema passou por uma nova reforma, recebendo assentos estofados em vermelho. Foi o período em que o Guarany consagrou-se como o cinema mais moderno da cidade, sendo inclusive o primeiro a exibir filmes em Cinemascope - o que exigiu a ampliação da tela.
Semelhanças entre os camarotes
Embora o interior do Guarany, mostrado nas duas fotos acima, assemelhe-se bastante ao do antigo Cine Apollo/Ópera, com seus camarotes laterais, as incrições CTG (Cine Teatro Guarany), no alto do palco, e a figura de um índio com um cocar, na cortina, não deixam dúvidas de que se trata do clássico endereço da Rua Marquês do Herval.
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Pavor em 1939
Conforme o educador Olindo Müller, o Irmão Bonifácio, em seu livro "Crônicas do Carmo", um fato marcante ocorreu em1939. Foi quando o Guarany exibiu o primeiro filme sobre Frankenstein na cidade, no caso o clássico estrelado por Boris Karloff e lançado em 1931.
Foi um filme que realmente apavorou a cidade, não tanto pela película em si, mas porque os assistentes de então ainda não estavam tão contaminados pela violência macabra da vida moderna. Encerrado o espetáculo, a plateia dispersou-se correndo pelas ruas escuras, "enxergando" o monstro avançando contra todos, com suas cicatrizes suturadas pelo rosto e sua testa enorme. Os alunos internos voltaram ao Carmo apavorados e, mais do que eles, o Irmão Arnaldo Isidoro, responsável pela disciplina.
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Parte das informações desta coluna foi reproduzida do livro "Cinema: Lembranças", de Loraine Slomp Giron e Kenia Pozenato.