Surgida em maio de 1998, durante a gestão do então prefeito Pepe Vargas, a Feira Ecológica de Caxias do Sul chega aos 23 anos consolidada no calendário de quem não dispensa saúde aliada à consciência ambiental. E um dos nomes mais emblemáticos dessa trajetória foi o agricultor Avelino Rossi, falecido em 2020, aos 86 anos.
Seu Avelino participou da Feira Ecológica desde que ela era só uma semente. Ajudou a construí-la, lutou e viveu por ela. A partir de sua trajetória no campo, costumava dizer que “na agricultura, era assim, sem agrotóxicos, que se aprendia a plantar, cultivar e colher”.
Nascido ao desabrochar do ano de 1934, em 1º de janeiro, o feirante amava plantar, cuidar, contemplar o desenvolvimento das uvas, da batata, das hortaliças, dos feijões e tomates. Ao mesmo tempo, “cultivava” as típicas preocupações de quem vive da terra: a seca, o excesso de chuva, o granizo, o calor intenso.
Defensor da agroecologia, mesmo com maior necessidade de mão-de-obra e investimento, seu Avelino costumava dizer que era mais feliz assim do que quando atuava na agricultura química. Em resumo: livre do “peso” dos agrotóxicos, o agricultor sentia-se mais leve também.
Exemplo de vida
Conforme a família, seu Avelino deixou o exemplo de quem amava a terra, a vida, o trabalho, a Feira Ecológica e seus clientes. Esteve por lá, fizesse chuva ou sol, por 22 anos. E partiu, logicamente, num sábado de feira: dia 22 de agosto de 2020, às 11h30min, quando todas as atividades da feira, como a venda e a reunião semanal dos agricultores, estavam encerradas. Despediu-se com o dever cumprido, deixando um legado a quem retorna à feira a cada novo sábado.
Se você for à Praça das Feiras, neste sábado de manhã, lembre-se disso...
Adesão de outros agricultores
Apesar de ter trabalhado com agricultura química durante algum tempo, seu Avelino retornou à prática sustentável na década de 1990. Começou a produzir batata-inglesa no sistema agroecológico e procurou a prefeitura para propor vender, com identificação especial na banca, seus produtos na Feira do Produtor de Caxias do Sul.
A ideia, no entanto, só passou a ter chance de se concretizar no ano seguinte, em 1997. Foi quando o então secretário da Agricultura, Mauro Cirne, e o coordenador do Centro Ecológico de Ipê, Laercio Meireles, visitaram a propriedade de seu Avelino, na Linha 40, mostrando a intenção de desenvolver a agroecologia em Caxias e promover a adesão de outros agricultores para essa iniciativa. Avelino Rossi e a família apresentaram a ideia a outros agricultores, e o sonho foi se tornando realidade.
Uma realidade de 23 anos.
O Ponto Ecológico
A criação do Ponto Ecológico, em 1999, também teve o incentivo da família Rossi, juntamente com parte dos agricultores que integravam a Feira Ecológica. O estabelecimento, inicialmente vinculado à feira, hoje pertence e é administrado pelos Rossi – a sede fica na Rua Marquês do Herval, 750, esquina com a Hércules Galló.
Toda a dedicação de seu Avelino Rossi foi homenageada ainda na Câmara de Vereadores de Caxias, em 2013, quando ele recebeu a medalha de produtor destaque na agroecologia (foto acima).
A família
Seu Avelino e a esposa, dona Hortência, foram casados por 64 anos. Da união, celebrada em 1956, nasceram os filhos Lori, Larri, Antônio, Rosane, Claudir, Neri, Paulo (in memoriam) e Lauri. Natural da comunidade de São Roque Figueira de Mello, em Garibaldi, a família mudou-se para a Linha 40, em Caxias do Sul, em 1975 – mais precisamente em 25 de julho, no Dia do Colono.
Com o falecimento de Avelino e Hortência, em 2020, tanto a propriedade da Linha 40 quanto a banca da família Rossi na Feira Ecológica continuam sendo conduzidas pelos filhos.
Uma tradição que se perpetua...