A instalação de um mercado público no complexo da Maesa é uma das principais reivindicações da comunidade caxiense desde que se iniciaram os estudos para a ocupação do espaço. E, em meio a toda essa expectativa, vale recordarmos do início - e do ocaso - do lendário Mercado Público Municipal, na esquina das ruas Vinte de Setembro e Marechal Floriano.
O espaço, um amplo pavilhão subdivido em bancas, foi inaugurado em 11 de janeiro de 1968 - exatamente 20 anos após a instalação das primeiras Feiras Livres de Caxias, em 1948. Assim como as feiras, o mercado buscava oferecer frutas, verduras, hortaliças e iguarias coloniais a preços mais acessíveis, estreitando as relações entre consumidores e produtores.
Conforme matéria do Pioneiro de 13 de janeiro daquele ano (reprodução abaixo), a solenidade contou com a presença do prefeito Hermes João Weber, que cortou a fita inaugural, e do bispo auxiliar da Diocese de Caxias do Sul, Dom Cândido Maria Bampi, responsável pela tradicional bênção das instalações.
Além das centenas de consumidores, expositores e produtores rurais, passaram por lá o presidente da Câmara Municipal, vereador Aurélio Barp; o empresário Livio Gazola, presidente da Comissão da Festa da Uva de 1969; o diretor do Departamento Municipal de Abastecimento Público, Isidoro Moretto; e o senhor Wilson Schaefer, representando os locadores dos estandes.
A saber: nos primórdios, o Mercado Público concentrava 36 bancas, dispostas em uma área de 890 metros quadrados. Além disso, abrigava a filial 5 do Super Calcagnotto, também inaugurada naquele dia pelo empresário Antonio Calcagnotto.
Lembranças de Mansueto
Três anos antes de a Maesa - provável “acolhedora” do novo Mercado Público - ser repassada ao Município, em 2014, as lembranças do antigo espaço foram tema de uma reportagem do Pioneiro em 1º de novembro de 2011. Foi quando o ex-prefeito Mansueto Serafini Filho recordou: "Quando eu era vereador, nos anos 1960, encampei uma campanha para a criação do mercado. Foi fechado, não lembro o porquê, talvez em função de dívidas, no final dos anos 1980. E eu reabri, no meu segundo mandato como prefeito, em 1991, porque haviam muitos pedidos do povo. Tinham feirantes, artesãos, um barzinho, uma padaria. Era parecido com o Mercado de Porto Alegre, mas numa escala bem menor".
Polêmica em 1993
Tanto o formato das bancas quanto a estrutura do prédio sofreram diversas alterações ao longo das décadas, até o complexo ser desativado e posteriormente demolido, em meados dos anos 1990 - para abrigar posteriormente o Pronto Atendimento 24 Horas (Postão), atual UPA Central.
O “início do fim” deu-se em julho de 1993, quando o prefeito Mario Vanin encaminhou o processo para encerrar, em setembro, o contrato. Matéria do Pioneiro de 17 de julho de 1993 destacou o imbróglio entre a administração municipal e os locatários:
"Com prazo de dois anos de carência, cerca de 20 feirantes reabriram o Mercado Público em 1991, depois do prédio ficar por quase três anos fechado. Agora, Vanin tem novos planos para a área. Alegando que o Mercado não cumpre com seus objetivos, de ser um regulador de preços, e que a inadimplência dos usuários em Cr$ 1,5 bilhão está onerando os cofres públicos, o prefeito pretende utilizar a área para o setor da saúde. Apesar de existir um projeto para instalação do Hemocentro naquele prédio, Vanin não confirma esse uso."A decisão fica para o futuro secretário da Saúde."
Feirantes surpresos
Matéria do Pioneiro de 20 de julho de 1993 destacou a surpresa dos locatários dos espaços diante do anúncio do anúncio do fechamento do mercado:
“Os 17 microempresários que atuam no mercado estão surpresos com a decisão do prefeito Mario Vanin, segundo o representante do grupo, Antonio Carlos da Silva. Ele não acredita no fechamento definitivo e aguarda audiência na prefeitura. Silva afirma que Mario Vanin vinha prometendo uma solução. Ele encaminhou a questão ao vereador Kalil Sehbe (PDT), que fez um pedido de informações sobre a dívida de cada banca. Os feirantes não negam a inadimplência, mas querem seguir na negociação de uma forma de pagamento”.
Apesar de prorrogado o prazo de permanência dos locatários, o encerramento das atividades do Mercado Público Municipal deu-se alguns meses depois.
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