Uma fotografia de 1942 do antigo Armazém Casagrande, postada recentemente pelo empresário Eduardo Casagrande no perfil do Facebook “Caxias do Sul Contemporânea”, despertou uma série de lembranças sobre a trajetória da família, em especial do comerciante Ernesto Casagrande, bisavô de Eduardo e fundador do lugar.
Típico secos & molhados das primeiras décadas do século 20, o Armazém Casagrande funcionava na Avenida Rio Branco, ao lado de onde hoje situa-se o Supermercado Andreazza. Administrado por seu Ernesto, o local era uma espécie de ponto de referência e abastecimento para quem vinha da colônia, principalmente das localidades de Loreto, Pinhal e Cerro da Glória - na casa anexa, inclusive, ficavam hospedados muitos agricultores que se deslocavam à cidade para tratamentos de saúde.
Origens
Ernesto Casagrande era o segundo dos 13 filhos do casal Virgílio Casagrande e Maria Paniz. Nascido em 12 de novembro de 1909, desde cedo mostrou-se um visionário no comércio. Tanto que, já no início dos anos 1940, o jovem montou seu primeiro armazém, na então distante Avenida Rio Branco.
Era onde vendia pães, biscoitos, cucas, ovos, manteiga, arroz, feijão, banha, açúcar, especiarias, frutas, verduras, legumes e, lógico, uma tradição daqueles estabelecimentos: as galinhas vivas. Tudo fornecido pelos agricultores da colônia, com exceção das cucas e dos pães. Eles vinham de um local bem próximo dali: a padaria do tio Zeferino Paniz (posterior Padaria Dona Morena), onde ele trabalhou antes de montar o próprio negócio.
Na imagem acima, o Armazém Casagrande em 1942. Em pé, da esquerda para a direita, estão Otávio Onzi, Ernesto Casagrande, a esposa Adélia Muner Casagrande e as filhas Irondina Casagrande Mocelin (sentada) e Ivone Casagrande Milan (em cima da pedra). Vemos ainda Dulce Muner (com a filha Renata no colo), Otávio Casagrande (irmão de Ernesto), Alexandre Dossin (atrás, de chapéu), Armando Paniz (filho de Zeferino) e integrantes das famílias Rech e Barcarollo.
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A família
Ernesto Casagrande e a esposa Adélia Muner Casagrande casaram em 25 de novembro de 1935, nascendo dessa união os filhos Irondina, Wilson, Ivone, Dalva, Hilda, Ivete e Carlos. Na foto acima, a família em 1954, eternizada pelo fotógrafo Sisto Muner (tio de dona Adélia e bastante atuante na comunidade de Galópolis).
A partir da esquerda estão Ivone, Hilda (a menor), Ivete (no colo da mãe), Wilson (ao centro), Irondina (à direita, atrás) e Dalva - Carlos ainda estava na barriga da mãe.
Na foto abaixo, o jovem Ernesto em 1932, época em que trabalhou distribuindo pães produzidos na Padaria Aurora, em Porto Alegre.
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Pão na porta
Além do trabalho no armazém, seu Ernesto costumava distribuir pães e derivados em uma carroça, de casa em casa, bem cedo. Conforme recordado pela família, ele deixava o pão nas muretas, nos beirais das janelas e na porta das residências, um costume daquela época.
Com a carroça, também abastecia diversos outros mercados espalhados pela cidade, enquanto a esposa Adélia cuidava da casa, dos filhos e do armazém.
Detalhe: à tarde, seu Ernesto fazia a volta novamente e trocava o pão velho por pão novo, gratuitamente.
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Comércio desde sempre
A vocação para o comércio passa de geração em geração na família Casagrande. Seu Wilson, 82 anos, filho de Ernesto, foi comerciante a vida inteira. Assim como o pai, manteve, até 1973, seu próprio armazém, localizado na Rua Os Dezoito do Forte, ao lado da escadaria do Parque dos Macaquinhos.
Atualmente, Wilson auxilia o filho Claudio Casagrande e os netos Arthur, Eduardo e Rodrigo no comércio de produtos para móveis que a família possui, no bairro São José (foto acima).
Além deles e de todos os outros filhos de seu Ernesto, quem auxiliou a recontar toda essa história foi dona Ana Dulce Casagrande Velho, filha de Wilson, e dona Rosa Casagrande Sgarabotto, 94 anos, única irmã viva de seu Ernesto.
Curiosidade: moradora do “bairro dos Capuchinhos”, dona Rosa foi comerciante a vida toda. Assim como o irmão…
Na imagem abaixo, de 1930, dona Rosa é a menina entre os pais, Virgílio Casagrande e Maria Paniz, na época grávida da caçula Severina. Na foto estão ainda os irmãos Honorato, Primo, Ernesto, Frederico, Alfredo e Fausto (atrás). À frente, à esquerda, Ema e Regina, e à direita, Angelin, Ricieri e Otávio.
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Nome de rua
Seu Ernesto faleceu em 1974, aos 64 anos. Dona Adélia em 2008, aos 94. Ernesto Casagrande dá nome a uma rua no bairro Cristo Redentor.
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