As reformas na área do futuro complexo Pátio da Estação trazem à tona as lembranças dos estabelecimentos que marcaram a área lindeira à linha férrea, próxima à Rua Olavo Bilac, na divisa entre os bairros São Pelegrino e Rio Branco.
Falamos da antiga Sociedade Vinícola Rio Grandense Ltda, da Cooperativa Vinícola Caxiense Ltda e, por um breve período, da filial do Frigorífico Rizzo, dos irmãos Alexandre, João Nestor e Guilherme Rizzo, cuja sede surgiu em Porto Alegre e, posteriormente, em 1938, foi inaugurada no bairro Desvio Rizzo.
Embora boa parte da área tenha sido suprimida com o prolongamento da Rua Feijó Jr., em 1998, e o restante dos pavilhões tenha sofrido um gradativo processo de deterioração e abandono, as lembranças dos prédios e do famoso "beco", ligando os fundos do Colégio Pena de Moraes à Rua Olavo Bilac, seguem mais vivas do que nunca.
Na foto abaixo, o antigo prédio que abrigou, nos anos 1930, a filial do Frigorífico Rizzo, localizado na área onde foi aberto o prolongamento da Rua Feijó Jr.
Leia mais:
Você é um morador "raiz" do bairro Rio Branco? Teste seus conhecimentos
Você é um morador "raiz" do bairro São Pelegrino? Teste seus conhecimentos
Se diz cria de Caxias, mas...
Caxias antiga: quando o trem cortava a cidade
Demolição da Vinícola Mosele em 1981
A cooperativa
Fundada em 14 de abril de 1930, a Cooperativa Vinícola Caxiense eternizou os vinhos Casto, Defesa e Capelinha, turbinando as vendas para o centro do país com um escritório em São Paulo, gerenciado pelo empresário Arthuro Matarazzo. Surgida a partir dos esforços de 50 cooperativados, entre eles Domingos Tronca, Luiz Boff e Isidoro Moretto, foi uma das várias entidades congêneres que buscavam fazer frente ao monopólio do comércio de vinho da época.
A empresa também foi um dos estabelecimentos destacados no álbum 75º Aniversário da Colonização Italiana no Rio Grande do Sul, lançado em 1950:
"Os bens patrimoniais pertencentes à Cooperativa Vinícola Caxiense são, entre outros, a Casa Central, ótimamente instalada e perfeitamente aparelhada em alteroso prédio próprio à Rua Olavo Bilac, 503, e mais oito postos de vinificação".
Na imagem abaixo, o fundador Luiz Boff (à esquerda) nas dependências da Cooperativa Vinícola Caxiense, nos primeiros anos de funcionamento. Na sequência, um grupo de cavaleiros reunidos por ocasião de uma assembleia geral da Cooperativa, em frente à sede, no início dos anos 1930. Ao fundo vê-se o prédio da empresa "A. Rizzo Irmãos e Cia - Filial" (Frigorífico Rizzo) — posteriormente integrados à Vinícola Rio Grandense — e a oficina de locomotivas, atual Biblioteca Parque da Estação. Por fim, o mesmo trecho, com a novíssima fachada da cooperativa, em art déco, em meados da década de 1940.
Leia mais:
Cantina Antunes em rótulos e receitas
Cantina Antunes: uma carta e um catálogo
A Brasileira de Vinhos S.A. em 1971
Estação Férrea em 1958
Luiz Boff e o primeiro pouso de avião de Caxias
A Rio Grandense
A Sociedade Vinícola Rio Grandense Ltda foi fundada em 5 de junho de 1929. Conforme informações do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, o início de suas atividades buscava ajustar interesses historicamente antagônicos: construir novos padrões de qualidade para o vinho e coordenar o recebimento, homogeneização e comercialização da produção de seus fundadores e associados — o que garantiria a aglutinação dos negociantes de vinho da região.
Três anos depois, em 1932, a Rio Grandense efetuou uma importação de cerca de 130 variedades europeias (italianas e francesas) e iniciou a formação dos famosos vinhedos conhecidos por Granja União, em Flores da Cunha. O objetivo? Dar os primeiros passos na direção de produzir vinhos varietais finos (uvas viníferas), tudo sob a inspeção de seu diretor técnico, o enólogo Guido D’Andrea.
Já em 1935, a Sociedade engarrafou e comercializou a primeira produção de vinhos varietais finos, sob o rótulo Granja União, que fizeram sucesso em todo país.
Leia mais:
Vinhos Raposa: um clássico da Mosele
Cooperativa Vinícola São Victor nos anos 1950
Trajetória da família Zandomeneghi
Leia mais:
Imigração portuguesa: Tanoaria São Martinho em 1948
Izaura Mano Bonho e um Natal em 1944
Baile no Esporte Clube Juventus na década de 1950
Juventus: os 60 anos do tricampeonato varzeano
Terceiro Grupo de Canhões Automáticos Antiaéreos 40mm nos anos 1950
A área física
Embora diretamente associada ao prédio central da Rua Os Dezoito do Forte (atual FSG), a Sociedade Vinícola Rio Grandense expandiu sua estrutura física pelas ruas Olavo Bilac e Tronca — o extinto complexo localizado entre entre a Garibaldi e a Luiz Antunes.
Na área contígua à Olavo funcionavam o depósito de vinhos e mosto simples e a tanoaria. Já no terreno em frente, em direção à Tronca, situavam-se o depósito de madeira, a fábrica de pipas e a carpintaria, conforme vemos na área envolta por um fio na foto que abre a matéria — a Sociedade possuía ainda um conjunto de casas próximas ao entorno, onde viviam alguns de seus funcionários.
Depois de 68 anos de atividades, a empresa, então já sob a denominação Companhia Vinícola Rio Grandense, encerrou as atividades em 1997.