O livro Era uma Vez, escrito pelo médico Virgilio Tonietto em 2018, é uma viagem nostálgica pelo bairro Rio Branco dos anos 1950 e 1960, período em que ele residiu com a família no clássico endereço da Av. Rio Branco, 808, defronte ao quartel. Conforme mencionamos na coluna da última sexta, são várias as abordagens que iremos destacar, desde a família até o armazém fundado pelo avô, Virginio, e, a partir de 1948, pelo pai, Luiz Tonietto.
Hoje, as lembranças recaem sobre algumas curiosidades, endereços e personagens folclóricos do bairro, que muita gente vai lembrar. Parte do texto a seguir foi reproduzida do capítulo 5:
"Dois fatos foram marcos muito importantes para o desenvolvimento do bairro: a instalação de uma guarnição do Exército Brasileiro, em 1923, e a chegada dos freis capuchinhos, em 1930. O quartel foi construído numa grande área de terras na quadra em frente ao Armazém Tonietto. A pedra fundamental foi lançada em 1922, e o prédio foi inaugurado em 1923. No período de 1927 a 1949, ali esteve sediado o 9º Batalhão de Caçadores (9º BC). Foi ali que meu pai, Luiz Tonietto, prestou serviço militar, de 2 de maio de 1935 a 2 de maio de 1936 e jogou futebol no time do 9º BC, coisas que ele gostava de relembrar mostrando fotos da época. A equipe do 9º BC, denominada 9º Batalhão Atlético Clube chegou a participar de campeonatos citadinos, disputando com o Esporte Clube Juventude, o Grêmio Esportivo Flamengo e o Grêmio Atlético Eberle".
A paróquia
A ligação do pai de seu Virgilio com a Paróquia Imaculada Conceição também foi destacada no livro:
"Luiz Tonietto, meu pai, era muito ligado à paróquia dos Capuchinhos e amigo do vigário da época, o frei Nelson Simonetto, e foi o primeiro festeiro da Trezena de Santo Antonio. Eram 13 semanas de missas nas terças-feiras à noite, culminando com uma missa solene e uma grande festa no dia do santo, 13 de junho. Em 1962, foi fundada a Associação Infanto-Juvenil Esperança, sendo seu primeiro presidente meu irmão mais velho, Airton Luiz Tonietto. A sede ficava no prédio que foi construído no local da antiga igreja (foto ao lado), e os jovens sócios divertiam-se jogando cartas, xadrez, futebol, tênis de mesa e sinuca. Havia também uma biblioteca à disposição dos sócios. A associação promovia eventos sociais e esportivos e chegou a ter 120 participantes. Depois de algum tempo, passou a denominar-se Associação Juvenil Esperança e encerrou suas atividades no início dos anos 1990, após a transferência de seu idealizador, frei Silvino Miorando, para a cidade de Garibaldi".
Bar Cacique e Estrela do Oriente
Também não faltaram as lembranças dos clássicos estabelecimentos comerciais que marcaram a infância e adolescência de Virgilio e milhares de outros jovens do bairro. Seu Virgilio escreve:
“O bairro era repleto de casas comerciais, da Rua Olavo Bilac até a Sarmento Leite. Do mesmo lado da rua havia três bares: o Bar Sonho Azul, o Bar do Nichele e o Bar Cacique. Havia os armazéns Gomes, Dossin, Tonietto e Biaggio, e uma loja de armarinhos, chamada de Estrela do Oriente, cujo proprietário era judeu. O Biaggio foi apelidado de Pistola, e como ficasse irritado ao ser assim chamado, a alcunha pegou. Por causa desse apelido, o bairro também era denominado jocosamente de Vila Pistola”.
Maria Mijona e Trem das Onze
Crianças são experts em apelidar vizinhos e “personagens” do entorno, ainda mais numa época em que a rua era o espaço por excelência para a diversão dos pequenos. Seu Virgilio recordou de alguns:
“Na década de 1950 havia alguns tipos inesquecíveis, como a Maria Mijona, uma andarilha que urinava em qualquer lugar e tinha o odor característico, era xingada pelas crianças e saía correndo atrás delas; o Catarina Louco, um doido varrido que andava sem rumo pela cidade e que tinha acessos de fúria quando provocado; e o Trem das Onze, um indivíduo que vivia caminhando em alta velocidade daqui para lá e de lá pra cá, sem destino e que nunca se cansava”.