Assim como as mulheres operárias, que em 1939 representavam 25% do total de funcionários da Metalúrgica Abramo Eberle, os menores aprendizes também tiveram papel fundamental nas diversas seções da fábrica a partir de 1900.
Os jovens empregados também foram destacados em um dos tópicos do espaço virtual Educa Maesa, desenvolvido na disciplina de Estágio em História IV, do curso de História da UCS – abordado na coluna de terça-feira.
O texto retoma aquele cotidiano de um século atrás:
“As crianças e os jovens tiveram participação significativa no operariado de Caxias do Sul nas primeiras décadas do século 20. Na Metalúrgica Abramo Eberle, uma das empresas que mais empregou aprendizes na região, os jovens começavam a trabalhar cedo, por volta dos 10 ou 12 anos de idade, em média. Os aprendizes, que atuavam como auxiliares nas seções de trabalho da fábrica, eram orientados (e vigiados) por um empregado adulto, podendo-se observar em várias fotografias da Metalúrgica que algumas seções possuíam mais aprendizes do que adultos. Dessa forma, meninos e meninas aprendiam desde jovens um ofício e, por extensão, a disciplina e as relações hierárquicas estabelecidas no ambiente de trabalho”.
Quadros de multa
Um detalhe observado na pesquisa – e na foto acima – traz uma realidade bastante comum naqueles tempos:
"Nas seções de produção, durante o período dos anos 1920, é comum se observar os quadros de multa afixados nas paredes dos locais de trabalho. As multas referiam-se a faltas atentadas contra o regulamento interno de trabalho e significavam descontos no salário. Estando presente nas seções, os quadros de multa tinham uma certa função de coação, pois é provável que nenhum operário desejasse ter o seu nome ali registrado, para a vista de todos os colegas".
Ernesto Barbisan, o primeiro
Conforme destacado na pesquisa, a primeira criança aprendiz da ainda Oficina Abramo Eberle foi Ernesto Barbisan, então com 12 anos à época de sua contratação, em 1901. Assinaram o contrato de aprendiz seu pai, Vincenzo, e os representantes da fábrica, Abramo e Giuseppe Eberle (leia abaixo).
Durante o período em que atuavam como aprendizes, e especialmente nos primeiros anos da oficina, muitos jovens moravam nas dependências da própria fábrica, sendo a aprendizagem trocada por abrigo e comida.
O contrato de 1901
Abaixo, os termos do contrato de trabalho do primeiro aprendiz da metalúrgica, documento que é trazido no estudo Pequenos trabalhadores: Infância e Industrialização em Caxias do Sul, do historiador Ramon Tisott:
“Nós, Eberle Giuseppe e Abramo, declaramos que aceitamos na nossa oficina de funileiro o filho de Barbisan Vincenzo, Ernesto Barbisan, obrigando-nos de ensinar-lhe a arte de funileiro com a condição que este aprendiz more por três anos, sendo nós obrigados a fornecer ao aprendiz de mais do ensino da arte, também a comida e a pousada. O aprendiz tem obrigação de cuidar as ordens dos patrões e prestar toda a obediência como a seus pais durante todo o tempo que morará na casa nossa. Se durante o tempo de aprendizagem o aprendiz não tivesse de ser sujeito às ordens de nós patrões e que nós tivéssemos de despachá-lo da oficina, o pai dele não terá direitos de pretender alguma indenização alguma e demais pagar a nós alguma indenização pelo tempo perdido e alimentação fornecida. E eu, Barbisan Vincenzo, declaro que aceito este contrato obrigando-me por meu filho ao cumprimento das mesmas. 9/5/1901.”
A pesquisa
O Projeto Educa Maesa teve como campo de atuação o Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da UCS. Sob a orientação de Anthony Beux Tessari (diretor do IMHC e professor no curso de História), o estágio teve a participação dos seguintes alunos: Alice dos Reis De David, Bianca Mascarello Giotti, Brenda Martins de Matos, Ezequiel Milicich Seibel, Jocimara Strada da Silva, João Pedro Cavalheiro, Juliana Poloni da Cunha, Matheus Pandolfi Martins, Rodrigo Santos Camargo e Sabrina de Lima Greselle.
Entrevistas e colaborações
O espaço virtual Educa Maesa também traz entrevistas com representantes do poder público, de entidades e de coletivos da comunidade (Abrace a Maesa e VivaCidade). O objetivo é trazer reflexões e ideias sobre o potencial da Maesa para diferentes áreas e setores, com destaque para a cultura, a educação e a economia criativa.
Participam o jornalista Carlinhos Santos, os arquitetos Maurício Rossini dos Santos, Helena Marcon e Jessica De Carli, o engenheiro mecânico Orlando Michelli (integrante da Associação dos Amigos da Memória e do Patrimônio de Caxias do Sul), os historiadores Ramon Tisott e Roberto Nascimento, e a gestora Rúbia Frizzo, coordenadora da Comissão Especial de Acompanhamento do Projeto de Uso e Gestão do Complexo Cultural e Turístico Maesa.