“Os pequenos frascos contêm as grandes essências, mas as grandes essências também estão contidas nos grandes frascos”. A curiosa analogia integrou o texto de divulgação da fábrica de garrafões Facchin Sgarioni, de Flores da Cunha, publicado no suplemento especial do jornal Diário de Notícias, em fevereiro de 1967 - por ocasião da 1ª Fenavindima. A reportagem destacava ainda fotografias do depósito de garrafões ao ar livre, “de onde saem os recipientes para os engarrafadores do saboroso vinho”, e da partida de um caminhão com a mercadoria.
Essa breve introdução destaca um clássico da Serra Gaúcha e da cultura da imigração italiana que, a cada dia, vem perdendo espaço para embalagens mais modernas e práticas: o garrafão de vinho (leia mais abaixo).
Embora vinícolas pioneiras como a Mosele (foto acima), a Michielon e a Antunes possuíssem vidrarias próprias para o engarrafamento de suas bebidas, dezenas de outras fábricas de garrafas abasteceram e fomentaram o setor vitivinícola da região entre as décadas de 1940 e 1970.
Entram aí, além da Facchin Sgarioni, a Vidraria Zaccaron, na BR-116; a fábrica de garrafões de Nirvano Zanetti, no bairro Cruzeiro, que também comprava cacos de vidro; e a Vidraria Muratelli Ltda, localizada na então Vila Kayser e com escritório central nas ruas Sinimbu e Dr. Montaury.
As três estamparam anúncios publicados nos jornais Caxias Magazine e Assessor em meados da década de 1960 - especialmente às vésperas do Dia das Mães e das festas de final de ano, quando ofereciam votos e felicitações (seleção abaixo).
Detalhe: com opções até cinco litros, os garrafões eram ofertados “empalhados e desempalhados”.
A vidraria da Vinícola Luiz Michielon
A Vinícola Luiz Michielon mantinha o prédio de sua vidraria ao lado da chaminé, conforme vemos na foto abaixo - captada a partir do início da Av. Júlio e aproximada para possibilitar a leitura dos letreiros “vidraria” e “Vinhos Cruzeiro” na chaminé. Trata-se do atual complexo de gastronomia e lazer Fabbrica, reformado e aberto ao público desde 2017.
Conforme jornais do início dos anos 1940, um incêndio teria atingido o prédio, mas são poucas as informações a respeito. Uma das únicas estampou uma breve nota na capa do jornal "O Momento" de 21 de julho de 1941, reproduzida a seguir:
“O representante do Ministério Público da Comarca requereu perante o Juiz de Direito o arquivamento do inquérito policial referente ao incêndio verificado na vidraria da Cantina Luiz Michielon & Cia. O Juiz de Direito ordenou o arquivamento”.
Tradição em queda
Matéria publicada pelo Pioneiro em 25 de junho de 2017 avaliou o cenário dos clássicos garrafões de vinho - inicialmente envoltos em palha de vime, depois, em plástico. Em 2004, eles representavam 10,2% do engarrafamento do vinho. Em 2016, esse percentual caiu pela metade, ou 5,3%.
Em 2017, o diretor de Relações Institucionais do Ibravin, Carlos Paviani, comentou que o garrafão ainda vai durar pelo menos 15 anos, mesmo em quantidade menor. Mas admitiu:
“A correria da vida nos empurra para a praticidade. No entanto, a tradição desse símbolo do vinho na Serra é muito forte, e ele só será extinto na troca de gerações”. Grandes vinícolas da Serra, no entanto, já abandonaram o ícone, caso da Cooperativa Vinícola Garibaldi e da Vinícola Perini.
Agora, é o reinado da bag in box...