O candidato ao governo do Estado Eduardo Leite (PSDB) deu todos os indicativos de que adotará um caminho de neutralidade em relação ao segundo turno para a eleição a presidente durante entrevista ao Gaúcha Atualidade, nesta quinta-feira. Disse que chegou ao segundo turno tentando se descolar da polarização nacional. Não deve mudar essa estratégia, avaliando as perdas e ganhos de eventuais apoios à contabilidade eleitoral, pois haverá perdas e ganhos em qualquer decisão que tomar. Até porque não encaminhou nenhuma interlocução no sentido de buscar apoio, especialmente com os petistas, que têm um patrimônio eleitoral de 1,7 milhão de votos no Estado, destinados ao candidato Edegar Pretto no primeiro turno. Claro, os partidos da federação PT-PCdoB-PV não detêm o controle sobre esse volume de votos, pois o eleitor decide por sua conta. Mas é uma referência e um cacife eleitoral nada desprezível.
A lógica eleitoral habitual supõe que Leite e os petistas poderiam promover uma troca mútua de apoios, pois ambos precisam de votos. Os petistas, no entanto, encontram-se em uma posição bem mais confortável que a de Leite. O candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva precisa aumentar sua votação em 1,57% dos votos válidos, algo em torno de 1,8 milhão de votos, mas dispõe do país inteiro para buscá-los. Já Leite fez 1,7 milhão de votos, contra 2,380 milhões de Onyx Lorenzoni (PL), uma diferença de 680 mil votos, a serem buscados do Mampituba para baixo. Ainda assim, Leite reforçou:
– Chegamos ao segundo turno superando a polarização, com a força de um projeto que colocou o Estado no rumo, sem nos pendurarmos num candidato A ou B no cenário nacional.
Leite disse que a decisão a ser tomada, que deve ser anunciada hoje, não será tomada individualmente, mas em um debate com o partido e o grupo partidário que o apoia. O presidente do PSDB no RS, Júlio Redecker, ainda que ressalvando ser a sua uma posição individual, e não do partido, antecipou-se e anunciou apoio a Jair Bolsonaro.
"Não vejo como sem os votos do Edegar"
O deputado estadual reeleito Pepe Vargas (PT), que é uma das lideranças do partido no RS, avaliou, em entrevista ao Gaúcha Hoje, a inusitada conjuntura estadual para o segundo turno, em que os votos petistas podem ajudar o candidato do PSDB, e vice-versa.
– Não vejo como o Leite ter sucesso sem apoio de quem votou no Edegar. (...) O que posso garantir é que de forma alguma vamos votar no Onyx Lorenzoni, porque ele é apoiador do (presidente Jair) Bolsonaro, e não concordamos com o programa que ele desenvolve.
A diferença é grande
Pepe deu uma pista. Sem um aceno de Leite para os petistas, será difícil receber os votos de quem votou em Edegar Pretto. Porém, Eduardo Leite sempre manteve um relacionamento ríspido com os petistas, levando-se em conta suas declarações públicas. E, a julgar pelas pistas que ofereceu na entrevista ao Atualidade, deve tentar a empreitada de tirar uma diferença de 580 milhões de votos "com a força do projeto que colocou o Estado no rumo". No entanto, a diferença, a essa altura, já é maior, pois o PP, com um cacife eleitoral de 270 mil votos do candidato Luis Carlos Heinze, já anunciou apoio para Onyx.