O aquecimento global já é um tema de debate recorrente, mas, com as últimas tragédias climáticas com foco no Rio Grande do Sul, o assunto tornou-se urgente. Em Caxias do Sul, uma das cidades impactadas pelas fortes chuvas de setembro de 2023 e maio de 2024, foram realizadas algumas medidas de prevenção, mas é um trabalho que precisa ser constante.
O Mirante buscou ouvir a bióloga e embaixadora em Caxias do Instituto Lixo Zero Brasil, Victoria Mello, para fazer uma avaliação, com foco no meio ambiente, dos últimos quatro anos em Caxias do Sul. Victoria também elencou alguns dos desafios e prioridades da área para a administração pública a partir de 1º de janeiro de 2025.
Em sua visão, a prefeitura precisará trabalhar na efetivação do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, política que reúne ações, programas e diretrizes para a coleta e tratamento de resíduos urbanos, de construção civil, de saúde e de tratamento de esgoto, entre outros. A embaixadora do projeto também frisa a importância de investimentos na educação ambiental e na escuta da sociedade, para trazer mais transparência sobre as atividades do setor. (Com Renata Oliveira Silva)
O PRIMEIRO GOVERNO
"Acho que começando pela gestão de resíduos, algo muito importante que aconteceu nesses últimos anos e se concretizou agora em 2024, que foi a revisão do PMGIRS (Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos), trazendo metas um pouco mais executáveis e monitoráveis. Dentro de mudanças climáticas, a gente entendeu que os eventos climáticos do Estado aconteceram aqui, e o município parece estar trabalhando nessa ampliação do plano de contingência para mudanças climáticas. Então, no ano passado, eles criaram a Comissão Municipal de Mudanças Climáticas, e este ano aconteceu o primeiro encontro aqui em Caxias, e a gente conversou especificamente sobre emergência climática, que foi o tema trazido pelo município. Acho que foi um momento muito legal, onde a população teve voz e pôde se engajar na causa. Houve outras ações em destaque, mas eu acredito que, sim, a gente teve muitos avanços, mas a gente ainda carece muito de uma infraestrutura mais robusta de gestão de resíduos."
PRINCIPAIS DESAFIOS
"Nessa questão da gestão de resíduos, estão expandindo essas infraestruturas, mas é preciso incluir a cobertura total da coleta seletiva na cidade, principalmente pensando em estratégias de redução de envio para aterros sanitários. Então, a gente já conversa há anos e, se for olhar no cenário internacional, há cidades que já estão compostando majoritariamente seus resíduos. No Brasil, a gente já tem cidades que estão começando projetos-piloto de compostagem, e a gente tem um potencial muito grande para isso, pensando que a gente trabalha muito a agricultura familiar. Então, a gente pode se beneficiar muito dessa essa iniciativa de compostagem e ainda otimizar nossa destinação, nossa gestão de resíduos, diminuindo também nossos gases de efeito estufa, nossas emissões."
OUTRAS PRIORIDADES
"Algo que eu sempre trago, e que a gente fala muito dentro do Caxias Lixo Zero, é sobre engajamento da comunidade. Tem uma lacuna clara entre as práticas sustentáveis e ambientais que estão acontecendo em nível municipal e o envolvimento da população. Eu acho que isso alerta para uma falta de educação ambiental. Uma boa saída para isso é um programa de educação ambiental contínuo e integrado entre todas as áreas do município e também, se possível, entre as outras áreas não-municipais, entidades que trabalham com o tema, que possam se integrar nesse programa, para que ele seja único para toda a população. Também acho que, quando a gente consegue abrir essa participação social ao município, promover locais de escuta, como esses fóruns, esses conselhos que estimulam esse envolvimento da população, quando as secretarias conseguem fazer parcerias com a sociedade civil, acho que isso traz o processo de uma maneira mais participativa, mais transparente também, onde a comunidade entende o que está sendo realizado."
PRÓXIMOS 4 ANOS
"Uma das expectativas é a efetivação do PMGIRS. O plano foi revisado, simplificado, digamos assim, de uma maneira que a gente consiga aplicar de forma mais eficiente. Então, as metas dele existem por algum motivo e a gente precisa trabalhar para cumprir essas metas. No plano, ele mesmo fala de participação na sociedade civil, de criação de comitês, de fóruns, enfim. Então, ali dentro já tem vários tópicos importantes que podem ser contemplados. Outra questão é esse movimento participativo. Esperamos que o município possa dar abertura para eles também, nessa participação social. Por exemplo, as secretarias abrirem as portas e escutarem mais a sociedade civil, promoverem parcerias com elas, para que os processos também tenham uma resposta mais rápida, porque a gente sabe que os recursos são limitados. O poder público tem muito a ganhar com essas parcerias e, a partir do momento que eles se colocam num lugar de transparência, onde eles comunicam as coisas que estão acontecendo e também se permitem pedir ajuda, é algo muito mais produtivo para todas as partes, e acaba engajando a comunidade."