Não há tema mais suscitado e defendido por representantes de partidos conservadores, que gostam da adjetivação “conservadores”, e de alas conservadoras dos segmentos sociais, ou ainda políticos conservadores de partidos que não se assumem como tal, do que a defesa da liberdade de expressão. Semana passada ainda, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), fez piruetas para defender a liberdade de expressão depois de declarações controversas suas sobre a "liberdade de expressão" de defender uma ditadura. Agora, em Caxias do Sul, alguns vereadores de direita, liderados pelo vereador Hiago Morandi (PL), contestam o teor da exposição Baixa Colateral Distópica, do artista visual goiano Rondinelli Linhares. Em decorrência, surgiram ameaças ao patrimônio do Centro de Cultura Doutor Henrique Ordovás e a servidores que ali trabalham. Morandi foi acompanhado por manifestações dos vereadores Alexandre Bortoluz (PP) e Capitão Ramon (PL).
Cabe examinar a argumentação de Morandi. Ele entende que a exposição evidencia uma deturpação de símbolos católicos, como o terço, e questiona a realização dela em espaço público. “É isso que você, pagador de impostos caxiense, tá mantendo com autorização da Secretaria Municipal de Cultura, no espaço público?”, questionou ele em vídeo.
– Sou defensor demais da liberdade de expressão, mas aquilo não é arte, e sim um ataque à religião alheia, a pessoa não pode usar um local público, pago com dinheiro público, para se manifestar atacando qualquer religião – disse Hiago à coluna.
A prefeitura lembra que a exposição no Centro de Cultura Ordovás foi selecionada por uma comissão independente e a secretaria ressalta que “não tem a prática de intervir em processos de avaliação”. O grave também é que as ameaças desembocaram na necessidade de fechamento do Centro de Cultura para, na justificativa da Secretaria da Cultura, que cuida do espaço, garantir a proteção ao patrimônio e aos servidores.
Porém, é curioso que a defesa da liberdade de expressão não tenha sido lembrada neste momento pelos contrários à exposição, em outros momentos ardorosos defensores do conceito.
E por que a exposição não deveria ser realizada no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás? O entendimento de Morandi é um entendimento próprio, certamente acompanhado por um grupo de pessoas que pode ser numericamente relevante até, mas há outra parcela do público, que também não é desprezível, que tem entendimento diferente, e o espaço é público. Por esse motivo, comissões independentes avaliam os trabalhos a serem expostos.
A liberdade de expressão, curiosamente, foi deixada de lado por quem, em outros momentos, a defende ardorosamente.