Por Nadja Hartmann, jornalista
Como assessor especial do governador Eduardo Leite, Mateus Wesp estava na hora certa e no lugar certo durante as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul. Por estar em Passo Fundo, fora da zona de risco, ele tomou à frente de um trabalho que transformou o município no maior centro de operação logística durante a tragédia. Com a capital colapsada e grande parte do sistema digital do governo literalmente embaixo d´água, Passo Fundo se transformou no principal braço do governo nos piores momentos da crise.
Em contato direto com o tenente-coronel Darci Bugs, da Defesa Civil do Estado, Wesp conta que somente no primeiro final de semana, enquanto a prioridade era o resgate de pessoas, saíram do aeroporto de Passo Fundo 47 voos com 12 toneladas de doações. Para isso, contaram com o apoio de empresários que cederam aeronaves, voluntários e da Prefeitura de Passo Fundo, que foi fundamental na cedência da área da Manitowoc, hoje o depósito referência do Estado em doações.
— Em poucos dias, criamos aqui uma gigantesca empresa de logística — afirmou à coluna.
Burocracia
Além disso, Wesp vem atuando também na agilização de liberação dos recursos federais aos municípios, já que os prefeitos, neste momento, estão sem condições de cuidar da parte burocrática do processo. Segundo ele, através deste trabalho, que conta com o auxílio de servidores cedidos de outros departamentos, já foram liberados cerca de R$ 110 milhões a 300 municípios. Inclusive, quanto a isso, Wesp faz uma crítica a uma certa “incompreensão” que vem encontrando junto a órgãos federais em relação à urgência da situação.
— O sistema federal é moroso e burocrático e não facilita os fluxos — disse.
Ainda em relação ao governo federal, Wesp considera as medidas anunciadas até agora tímidas e insuficientes e defende a quitação da dívida do RS com a União, e não apenas a suspensão por três anos. Também considera equivocada a decisão do presidente Lula de nomear Paulo Pimenta como secretário extraordinário, com status de ministro, em uma clara tentativa de tirar o protagonismo do governador.
A propósito I: como bom estrategista, o governador Eduardo Leite tenta virar o jogo e fazer do limão, uma limonada. Em entrevista ao programa Roda Viva, na noite de segunda-feira (20), atribuiu a Paulo Pimenta o compromisso de fazer com que o governo Lula considere quitada a dívida do Estado com a União... Te vira Pimenta!
Visibilidade
Falando em protagonismo, não restam dúvidas de que, pelo menos junto ao governador, Mateus Wesp sai ainda maior desta tragédia. Porém, ao transformar Passo Fundo no maior centro de apoio do governo, também garantiu visibilidade ao prefeito Pedro Almeida, que soube dar destaque ao trabalho da prefeitura em toda a operação.
Mesmo que insistam em não politizar a tragédia, seria ingenuidade acreditar que a atuação dos políticos neste momento não irá influenciar na decisão dos eleitores em outubro ou seja lá a data que for a eleição... Portanto, a atuação do governo federal na reconstrução será fundamental para os candidatos identificados com a esquerda e centro-esquerda nos municípios, assim como a atuação do governo Leite será determinante para os candidatos dos partidos aliados ao PSDB.
Resta saber se o trabalho de Wesp o coloca novamente no páreo para uma possível candidatura à vice de Pedro Almeida ou até mesmo em um voo solo...
A propósito II: a superexposição de alguns políticos em redes sociais tem causado indignação nos milhares de voluntários anônimos que não fazem de cada ação um flash... Nada contra em divulgar o trabalho, até no sentido de incentivar que outras pessoas participem, mas não podemos esquecer, que ao contrário dos voluntários, homens (e mulheres) públicas não fazem mais do que a sua obrigação...
Coerência
Vereadores de Passo Fundo aprovaram por unanimidade, nesta segunda-feira (20), a moção de apoio de autoria do vereador Rufa Soldá (PP) ao projeto de lei do senador gaúcho Ireneu Orth (PP), que propõe o remanejamento de R$ 2,2 bilhões do Fundo Eleitoral para as obras de reconstrução do RS. Vamos combinar então que, aprovada ou não pelo Congresso, a lei seja colocada em prática pelos vereadores do município, com eles doando à população atingida os recursos do Fundo Eleitoral que por ventura venham a receber... Na política, coerência é tudo.
Migração
Propostas bem intencionadas é o que não faltam em momentos de crise como o Estado está vivendo. Diretor do Badesul e ex-presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Flávio Lammel vem sugerindo que prefeitos de regiões não afetadas pela tragédia acolham trabalhadores e empresas que queiram se transferir dos locais atuais.
Porém, como alerta o presidente da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e Agronegócio (Acisa), Evandro Silva, a questão é bem mais complexa do que parece. Segundo ele, esta migração inevitavelmente irá provocar um grande aumento de demandas sociais, como saúde, educação e habitação. Além disso, muitos destes trabalhadores vem de municípios com matriz econômica específica, que não necessariamente irão se adaptar a outras atividades.
O empresário defende que entidades empresariais e prefeituras façam o movimento contrário, auxiliando na reconstrução das cidades atingidas. Porém, o dirigente confessa a preocupação com o movimento que vem sendo feito por prefeitos e pelo governo de Santa Catarina para atrair estas empresas e trabalhadores.
— Tudo que o RS não precisa neste momento é perder receitas para outro Estado — declarou à coluna.
A sugestão também foi discutida entre os empresários da Associação Comercial e Industrial de Carazinho. Vice-presidente da entidade e conselheiro da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande Sul (Federasul), Jocélio Cunha afirma que, no âmbito empresarial, é possível as empresas da região disponibilizarem vagas de emprego, priorizando as pessoas atingidas pelas enchentes.
Por outro lado, também chama a atenção para a complexidade da iniciativa junto aos municípios que venham acolher esta mão de obra. Assim como o presidente da Acisa, o empresário de Carazinho também defende que o momento agora é de garantir ajuda humanitária nos locais atingidos e na reconstrução das cidades.
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