Marcio Pimenta, Explorador e fotógrafo da National Geographic Society
O reconhecimento oficial do bioma Pampa no Brasil, em 2004, marcou um ponto crucial na valorização e na preservação de um dos ecossistemas mais ameaçados da América do Sul. Duas décadas depois, é imprescindível refletir sobre sua importância ecológica e cultural.
De origem quechua, “Pampa” significa “região plana”. Estende-se por mais de 1 milhão de quilômetros quadrados entre Brasil, Argentina e Uruguai. No Brasil, restrito ao Rio Grande do Sul, grande parte de sua área foi descaracterizada. Sob sua aparente simplicidade – vastas planícies, praias serenas e pântanos –, encontra-se uma biodiversidade única, com espécies raras e endêmicas.
O Pampa é um elemento essencial da identidade cultural gaúcha. É cenário do chimarrão compartilhado, das danças tradicionais, das histórias narradas ao redor do fogo sob um céu estrelado e de práticas que estreitam os laços entre uma diversidade de comunidades e a terra. Preservá-lo significa, também, proteger um modo de vida que exalta a simplicidade e a harmonia com a natureza.
Celebrá-lo é reconhecer sua singularidade e a urgência de sua preservação
O Pampa é frequentemente tratado como secundário, eclipsado por políticas públicas e pela atenção da mídia que priorizam florestas tropicais na luta contra as mudanças climáticas. No entanto, sua vegetação predominantemente herbácea abriga fauna única, protege o solo, armazena carbono e regula recursos hídricos.
Durante as enchentes de 2024, o Pampa foi, mais uma vez, esquecido, evidenciando o desconhecimento sobre sua relevância. A perda da cobertura vegetal original no Pampa pode ter amplificado as dimensões do desastre, já que a vegetação nativa desempenha funções cruciais: desacelera a enxurrada antes que atinja os leitos dos rios, aumenta a infiltração da água no solo e protege o solo contra erosões. Porto Alegre, é bom lembrar, está inserida no Pampa.
Celebrar o Pampa é reconhecer sua singularidade e a urgência de sua preservação. Proteger esse bioma é garantir um legado de diversidade, equilíbrio ecológico e cultura para as futuras gerações.