Ao longo de duas décadas, não foram poucos os episódios controversos envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em relação tanto a questões com conteúdos polêmicos quanto a vazamentos de provas. Mas, se pairava no ar qualquer receio quanto à primeira edição sob o governo do presidente Jair Bolsonaro, as preocupações foram se desmanchando no transcorrer do domingo, conforme vinham a público os temas selecionados pelos organizadores e a constatação da quase falta de incidentes. Pode-se considerar um sucesso a aplicação da primeira etapa do Enem 2019, que será complementado no próximo fim de semana.
Além do êxito logístico e de segurança, o inegável grande mérito da prova deste ano foi a desideologização das questões
O Ministério da Educação (MEC) foi bem-sucedido na tarefa gigantesca de manter sincronizado e em sigilo um dos maiores exames realizados em todo o mundo, espalhado em mais de 10,1 mil locais de 1,7 mil municípios brasileiros. Um caso isolado de vazamento na internet de uma imagem da prova de redação – quando os candidatos já faziam a avaliação – não chega a manchar ou lançar suspeitas de que alguém tenha conseguido burlar as normas para tirar qualquer vantagem indevida. De qualquer forma, é necessário identificar o autor da irregularidade e puni-lo didaticamente, para desencorajar posturas semelhantes no futuro.
Além do êxito logístico e de segurança, o inegável grande mérito da prova deste ano foi a desideologização das questões. Houve espaço para abordar temas como direitos humanos, refugiados e violência contra a mulher, mas sem dar brecha para discussões políticas ou de visão de mundo que exacerbassem ainda mais as pragas da radicalização e da polarização, que, nos últimos anos, levaram a um país completamente cindido. A mesma ausência de viés nas provas de ciências humanas e linguagens foi observada na redação, que tratou da democratização do acesso ao cinema no Brasil.
Considerada por especialistas diversificada, abrangente e bem elaborada, a prova da primeira etapa do Enem 2019 entregou a promessa de ser feita de forma técnica, em meio às turbulências que durante o ano sacudiram o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia ligada ao MEC responsável por organizar e aplicar a prova. Quase 4 milhões de candidatos farão a segunda etapa, no domingo, testando seus conhecimentos em matérias de ciências da natureza e matemática. Fica a expectativa de que a 21ª edição da iniciativa que vem ajudando a democratizar o ingresso no ensino superior no Brasil chegue ao fim confirmando o seu amadurecimento.