Inflação extremamente baixa e atividade ainda claudicante abriram espaço para o Banco Central (BC) anunciar na quarta-feira mais um corte na Selic. A taxa básica, assim, cai para 5% ao ano, renovando a sua mínima histórica. E, pelo que sinalizou o Comitê de Política Monetária (Copom), virá uma nova redução de 0,5 ponto percentual em dezembro. Uma boa notícia, mas que, para multiplicar seus benefícios, precisa ser acompanhada da diminuição do juro na ponta, para o tomador final.
É desapontador constatar que o ciclo de queda verificado na Selic desde o final de 2016 foi até agora pouco sentido por consumidores e empresários
É desapontador constatar que o ciclo de queda verificado na Selic desde o final de 2016 foi até agora pouco sentido por consumidores e empresários. Na vida real, as taxa no Brasil seguem escorchantes. Basta uma rápida vasculhada nos números da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que faz o acompanhamento dos percentuais cobrados no mercado, para verificar o quadro. No cheque especial, de acordo com o último levantamento, de setembro, a usura chegava a 275,24% ao ano. No cartão de crédito, a 266,06%.
É verdade que os lucros dos bancos são altíssimos, mas não pode ser atribuída apenas à escassa concorrência a tímida queda do juro no país. Há outros elementos, como a inadimplência e os reflexos da discussão judicial em torno de dívidas para buscar a redução do custo do crédito contratado e a protelação do pagamento. É uma situação que leva as instituições financeiras a acabar tirando essa diferença dos bons pagadores. O cadastro positivo, em vigor desde julho, é uma esperança para quem cumpre em dia suas obrigações.
Medidas regulatórias do BC podem auxiliar na diminuição dos spreads – diferença entre o custo do dinheiro captado pelos bancos e o que cobram pelos empréstimos aos clientes –, como o incentivo à maior competição, principalmente pelo crescimento das fintechs, as startups de serviços financeiros. É algo que vem ocorrendo, inclusive com o acertado incentivo da autoridade monetária.
Deve ser saudada a iniciativa dos grandes bancos de anunciar redução dos juros nas principais linhas logo após o anúncio do BC na quarta-feira, mas é necessário mais. A educação financeira é outro aspecto que deve ser melhor trabalhado. O baixo acesso à informação faz com que muitas vezes os cidadãos se endividem em modalidades mais caras, como o cartão de crédito e o cheque especial, realimentando a bola de neve dos passivos.
O alto desemprego no país é uma das razões da inadimplência, um dos principais fatores que influenciam na formação da taxa final cobrada na ponta, junto da Selic, do lucro, dos custos administrativos e dos impostos e compulsório. Uma retomada mais forte da economia ajudaria bastante. Mas, para isso, junto às reformas em andamento, seria necessário um esforço para o distensionamento do país, contaminado pela disputa política que parece não ter fim.