Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Minha casa fica a 3,5 quilômetros do meu trabalho. De carro, levo 10 minutos para chegar. De bicicleta, demoro 14 minutos. Quando vou a pé, gasto meia hora. São tempos que eu posso garantir com razoável certeza, pois já os repeti várias vezes. Não tenho esta mesma previsibilidade no ônibus. Utilizo a linha T9, da Carris, e nas minhas idas ao trabalho levo entre 25 e 50 minutos, a depender do cumprimento (ou não) da tabela horária. A informação oficial é de um intervalo de sete minutos entre os ônibus. Já esperei mais de 30 minutos – na média, espero 15. E tem piorado.
Meu caso não é exceção. Segundo dados da EPTC, o número de reclamações por atraso registrado em Porto Alegre aumentou 13% entre 2016 e 2018. Foram mais de 4,2 mil reclamações entre janeiro e maio deste ano. Considerando o dado da pesquisa Mobilidade da População Urbana de 2017, feita pela Confederação Nacional do Transporte, de que 45,2% de quem se desloca diariamente utiliza ônibus no Brasil, temos uma noção do tamanho do problema.
Em maio passado, o Plano de Mobilidade Urbana da Capital lançou o relatório Prognóstico da Mobilidade no Município de Porto Alegre. No documento, há destaque menor para o ônibus e maior para novas modalidades de transporte.
Os aplicativos aparecem com destaque, ainda que a Pesquisa de Mobilidade Urbana tenha apontado que apenas 1% dos entrevistados usam este modal e só 2,1% daqueles que abandonaram o ônibus migraram para aplicativos – 35,8% migraram para carro próprio, por exemplo.
Enquanto a palavra “ônibus” aparece apenas cinco vezes no relatório de 25 páginas, a palavra “patinete” aparece seis vezes, e a palavra “bicicleta” consta sete vezes. Hoje, patinete em Porto Alegre não passa de um brinquedo caro. Ele não tem integração estabelecida com outros modais da cidade, ainda que só tenha alguma utilidade para trajetos curtos. A bicicleta tem funcionado melhor, apesar do precário plano de ciclovias.
Tendo em consideração o tamanho de Porto Alegre e a concentração dos empregos em determinadas áreas, não me parece haver alternativa que não trazer à boa forma o sistema de ônibus – independentemente da tecnologia. Eles são fundamentais, inclusive, para o funcionamento dos demais modais. Ou acreditamos que ir do bairro Leopoldina ao Centro de patinete, bicicleta ou mesmo de aplicativo, diariamente, é algo factível para o usuário médio? Precisamos dos ônibus de volta!