Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) divulgou pesquisa que aponta o aumento da desigualdade de renda do trabalho no Brasil. Segundo o estudo, o país atingiu o maior nível de desigualdade desde 2012. Naquele ano, a renda média do trabalho dos 10% mais ricos era 29 vezes a renda média dos 40% mais pobres. Em março de 2019, este número passou para 36,6, ou seja, a diferença entre ricos e pobres aumentou.
Para isso ocorrer, existem três possiblidades: a renda dos mais pobres diminuiu mais do que a renda dos mais ricos; a renda dos mais ricos subiu mais do que a renda dos mais pobres; ou, movimentos opostos, com o rico ficando mais rico e o pobre ficando mais pobre. O estudo do Ibre mostra que, no Brasil, aconteceu a terceira hipótese. Desde 2015, quando a crise se instalou, os 10% mais ricos acumularam ganho real de renda de 3,3%. Já os 40% mais pobres amargaram perda real de 22%.
Em análise preliminar, podemos associar este resultado à crise. Numa recessão, os pobres sofrem mais porque são os primeiros a perder os empregos. E, com isso, aumenta a oferta de trabalho, fazendo a renda dos que restam ser pressionada para baixo. Mas a questão vai além desta constatação.
O que deve ser discutido, agora, é como se dará o processo de recuperação econômica dentro deste contexto de extrema desigualdade. A plataforma liberal tradicional não se preocupa com aspectos distributivos. O argumento é de que a igualdade precisa ser de oportunidades, e não, necessariamente, de resultados. Acontece que as prescrições “liberais” já colocadas em curso não têm contemplado uma equalização de oportunidades.
Quem defende a pauta liberal brasileira está bastante empenhado na aprovação da reforma da Previdência, assim como apoiou a reforma trabalhista, e acha muito razoável flexibilizar as normas de segurança do trabalho – tudo em nome do aumento da produtividade. Porém, não parece haver preocupação com o que ocorre no Ministério da Educação, que é justamente o local em que é gestado o maior ativo de equalização de oportunidades e aumento de produtividade: conhecimento.
A “plataforma liberal” não se incomoda com um ministro que tripudia das manifestações pela educação, cria exemplo com bombons e faz dança com guarda-chuva dentro do ministério para responder às críticas. Isso se chama liberalismo de conveniência – que agrava e perpetua as desigualdades.