Por Fábio Bernardi, sócio-diretor de criação da Morya
Nenhum negócio é apenas um negócio. Nenhum trabalho é apenas um trabalho. Nenhum produto é apenas um produto. E entender isso pode fazer toda a diferença.
Certa vez, Steve Jobs, o cara que fez a Apple ser a Apple e uma das maiores e mais controversas personalidades empresarias da história moderna, entrou furioso na pequena sala onde trabalhava o engenheiro-chefe Larry Kenyon, que estava finalizando o sistema operacional Macintosh. Jobs reclamou que o sistema demorava demais para ligar. O engenheiro então deu uma longa explicação sobre por que era impossível reduzir o tempo de inicialização, já que eles estavam embarcando a melhor tecnologia e uma variada gama de recursos até então inexistentes na indústria. Mas Jobs o interrompeu com uma questão simples e instigante: “se fosse para salvar a vida de uma pessoa, você acharia um jeito de diminuir em 10 segundos esse tempo”? Kenyon disse que provavelmente sim. Jobs, então, foi até um quadro branco e demonstrou que, se houvesse 5 milhões de pessoas usando um mac, e todo dia a máquina levasse 10 segundos a menos para começar, isso somaria mais ou menos 300 milhões de horas por ano que seria possível poupar, o que equivaleria a, pelo menos, cem vidas salvas por ano. Poucas semanas depois, o engenheiro-chefe conseguiu fazer a máquina ligar 28 segundos mais depressa.
Não se trata apenas de fazer a pergunta certa e, sim, de ter a perspectiva certa. Todas as horas são horas de vida de alguém. O tempo é sempre o mesmo, independentemente do que você está fazendo com ele. É fácil entender a importância de um piloto de avião para a vida dos seus passageiros, mas por que não olhamos para o gari com a gratidão de deixar nosso dia mais agradável? Será que o gari olha para si mesmo pensando nas vidas que afeta cotidianamente? Não é uma questão de fazer o trabalho — qualquer trabalho — ser importante e valorizado, mas de fazer a vida — qualquer vida — ser importante e valorizada. Vale para líderes com seus colaboradores, vale para um garçom atendendo seu cliente com algumas doses a mais.
Steve Jobs sabia como ninguém colocar o propósito no chão de fábrica, e que a constância do propósito é o segredo do sucesso, na vida e nos negócios. Mas o mundo muda tão rápido que hoje o estilo de liderança de Jobs seria anacrônico e, provavelmente, ele teria que se adaptar.
O que muda o mundo não é apenas o trabalho que você faz, mas como você faz. Quando colaborar e cocriar têm cada vez mais valor, é o como você coloca seu propósito em ação que vai dizer quem você é de fato e não apenas o cargo, a visão ou o poder que você tem.