*Por Cassio Grinberg, economista e consultor de empresas
Em uma cena tocante do filme Nasce uma Estrela (EUA, 2018), o personagem de Bradley Cooper aconselha a personagem de Lady Gaga: “Se não vier do fundo de sua alma, não vai durar muito tempo. Se você não disser a verdade, está ferrada. É só você e o que tem a dizer, e as pessoas não vão escutá-la para sempre”.
Trata-se de profunda lição de singularidade e propósito. Mas trata-se, sobretudo, de um discurso de liberdade: tendemos, tanto no plano pessoal quanto no empresarial, a provocar as reações marcantes justamente quando damos a nós mesmos a permissão de tirar o pitch de dentro da alma.
Mais adiante no filme, mesmo exposta a uma situação embaraçosa quando recebe o Grammy de artista revelação, a personagem enfrenta seu empresário — alguém que preferia comandar a criar — e cancela sua primeira turnê internacional por recusar-se a se afastar da pessoa que mais acreditou nela. E tal cena, extrapolando em verossimilhança, fala muito de como o empreendedorismo com propósito é recorrente entre as mulheres, embora, mesmo elas representando 80% das decisões de compra no mundo, o clube dos capitalistas de risco tenha uma membership rate de 90% de homens, para os quais muitas estrelas promissoras ainda precisam provar para conseguir incentivo ou mesmo respeito.
A Lady Gaga de verdade foi precursora em utilizar as redes. Não vacilou em superstição e martelou um espelho em dezenas de pedaços para colá-los num outfit de calças largas. Jenn Hyman teve a visão de que o closet se mudaria para a nuvem e criou a Rent the Runway, com vendas anuais de US$ 100 milhões. Kim Jordan inspirou-se em cervejas belgas para criar a New Belgium Brewing, uma das principais marcas de cerveja artesanal dos Estados Unidos. Barbara Corcoran fez isso com imóveis. Kate Spade, com bolsas. Michelle Obama, com política. Luiza Trajano, com lojas. Elisa Tramontina, com talheres. Elis Regina, com música. Dona Edith, com iogurte. Dona Eva, com teatro.
Prestem atenção nas estrelas. Abram espaço para elas. Existem constelações prontas para brilhar.