Por Cassio Grinberg, sócio da Grinberg Consulting
Ao completar um ano de mercado, no final da década de 1970, uma sorveteria toma uma decisão inusitada: oferece sorvete de graça a uma cidade com 42 mil habitantes. A cidade era Burlington, Vermont, nos Estados Unidos. Fazia frio sete meses por ano e, quando abriu as portas, a sorveteria concedia um centavo de desconto para cada grau abaixo de zero na rua.
Se lemos o parágrafo acima enquadrando as iniciativas como “crise de socialismo”, não apenas cometemos o mesmo engano daquelas empresas e mesmo economias que não exercitam o princípio da reciprocidade — mas ignoramos que esta sorveteria é, hoje, uma marca mundial com vendas anuais de US$ 1,25 bilhão.
Ben Cohen e Jerry Greenfield, os garotos menos atléticos da turma, que tinham como ambição máxima ser hippies detrás do volante de dois caminhões, arranjaram uma atividade que lhes tocava para financiar a aventura. Como Ben não tinha olfato, definiu o padrão do sorvete pela textura. E criou um sorvete tão singular que, um tempo depois, a Time Magazine denominou Ben & Jerry’s o “melhor sorvete do mundo”; e os donos de restaurantes ameaçaram parar de comprar porque os garçons liquidavam a sobremesa dos clientes no caminho até as mesas.
Agora, diga a verdade: você já pensou em investir em um banco que pagou bônus com fraude, em uma mineradora que estoura barragens, em uma montadora que manipula emissões de poluentes, em um frigorífico que mistura papelão com carne ou em uma operadora na qual você paga para entrar e reza para sair, mas nunca pensaria em emprestar dinheiro a dois hippies que utilizavam apenas ingredientes naturais, que apoiaram Occupy Wall Street e a causa LGBT quando ainda nem se falava no tema, que colocavam os maiores pedaços de chocolate e serviam sorvete a mais apenas para receber o largo sorriso dos clientes.
Talvez devêssemos, como fez a Unilever. Mas se apenas paramos, pensamos e nos movemos do estágio da inação para o estágio da pergunta sobre o que precisamos fazer para parar de consumir mal e começar a querer mudar nosso entorno, já demos um grande passo.