Por Ely José de Mattos, economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS
Você já se perguntou o que (ou quem) é o mercado? É comum nos referirmos a ele como uma instituição de grande importância na nossa sociedade. Seguidamente, nos deparamos com uma notícia de que “o mercado não gostou disso” ou “o mercado reagiu bem àquilo”. E isso penetra no nosso imaginário como uma verdade suprema. O mercado gostar de algo seria um sinal de que aquilo está certo; se o mercado repudiar é sinal de que é ruim.
De fato, o mercado é uma instituição fundamental em qualquer economia capitalista. O tanto de produtos ofertados e demandados, o nível de emprego, as taxas de juros dos empréstimos, os investimentos das empresas: tudo isso é regulado, diretamente, por diferentes dimensões do mercado. Qualquer sociedade democrática - onde o Estado não assuma o controle de todos esses fluxos e da vida das pessoas – é influenciada por este ente, por essa associação de forças de oferta e demanda.
Porém, aquele “mercado” de que geralmente ouvimos falar, que está calmo, nervoso, animado ou deprimido, é um mercado bastante particular. Trata-se do mercado financeiro. Quando a PEC dos Gastos foi aprovada, este mercado ficou bem animado; quando a reforma da Previdência saiu de pauta, ele ficou nervoso. Em ambos os casos, o mercado financeiro reagiu, exclusivamente, à melhora ou piora das condições fiscais do governo, que influenciam os resultados dos investimentos. Não há nenhuma relação com o impacto de tais medidas sobre a sociedade como um todo. O mercado financeiro é ignorante em relação a isso.
Um exemplo dessa ignorância foi a Bovespa passar a operar em forte alta minutos após o atentado sofrido por Jair Bolsonaro, na quinta-feira. Analistas reportavam que os investidores reagiram imediatamente, imaginando que um eventual afastamento de Bolsonaro da campanha daria espaço para Geraldo Alckmin, que contaria com o maior apreço deles. Um atentado contra a vida, contra a democracia, teve importância menor que as avaliações dos resultados da eleição.
Ou seja, o mercado financeiro não está preocupado com qualquer aspecto que não seja o lucro. E ele não está errado! Este mercado trata disso mesmo. Nós, cidadãos, é que devemos compreender que avaliar propostas políticas, projetos de lei, reformas ou, mesmo, candidatos, com base no ânimo do mercado financeiro está errado. Seria uma avaliação distorcida, considerando o poder de uma parte ínfima da sociedade.