Foi surpresa até para operadores e analistas a reação rápida e abrupta do mercado financeiro – especialmente da bolsa – ao episódio do ataque ao candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro. Na quinta-feira, o Ibovespa subiu quase um ponto percentual após a notícia. Na sexta-feira de feriado, um índice negociado em Nova York, que busca reproduzir o efeito sobre 85% do conjunto de ações brasileiras, teve alta de 1,5%. O conjunto de ADRs, espécies de "espelho" das ações negociadas no Brasil, subiu 1,7% em Wall Street, com destaque para as da Petrobras, que avançaram 4%. A reação desses dois dias significa que o presidenciável conquistou de forma unânime o apoio do tal "mercado"? Longe disso. Há muitos investidores e especuladores que apoiam Bolsonaro – uns abertamente, outros de forma velada. Mas também há temores e, acima de tudo, incertezas.
O passado e o despreparo
Até ser presidenciável, Jair Bolsonaro se manifestava como a maioria dos apoiadores da ditadura, com viés intervencionista, nacionalista e estatizante. Em 1999, atacou Fernando Henrique Cardoso em nome dos militares: "Ele, que só sabe pensar com números para atender aos interesses externos, quer criar uma crise nas forças". Confrontado, nem disfarça: "Não entendo mesmo de economia". No Roda Viva da TVE, caracterizou o economista de orientação liberal Paulo Guedes como "seu" posto Ipiranga – a quem pergunta sobre economia.
A dependência do posto Ipiranga
A relação entre Bolsonaro e Guedes costuma ser tema de entrevistas porque a estabilidade da economia pode depender da firmeza da relação. Publicado antes da facada, artigo da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, nome respeitado no mercado financeiro, abriu discussão em redes sociais com foco em economia. Terminava assim: "Bolsonaro é o primeiro colocado nas pesquisas e, mesmo assim, é o que menos se manifesta sobre política econômica. Quando o faz, expõe as divergências com seu guru e fiador. Será mesmo que Guedes será o ministro da Fazenda de Bolsonaro?"
As ideias de Paulo Guedes
Em entrevista à GloboNews, aguardada com expectativa diante da dificuldade de obter posições claras do candidato, Guedes chocou economistas com a falta de compromisso com dados: estimou obter R$ 1 trilhão com venda de imóveis públicos e R$ 1 trilhão com privatizações. A avaliação de Zeina Latif: "O valor de mercado das principais estatais listadas em bolsa estava em R$ 430 bilhões ao final de junho, sendo a participação da União em torno de R$140 bilhões."
As divergências
Depois de Paulo Guedes ter incluído a Petrobras entre as estatais a serem privatizadas, sem ressalvas, Bolsonaro afirmou que o "miolo" da estatal seria mantido, assim como Caixa e Banco do Brasil. A observação de Zeina Latif: "Quando questionado sobre as dificuldades para implementar suas propostas, Guedes defende um meio do caminho entre seu programa e o de Bolsonaro. Muito confuso."
(Zeina Latif autorizou a coluna a usar trechos do artigo)