A crise política na Venezuela ganhou força em janeiro com a posse de Nicolás Maduro como presidente por mais um mandato. Em resposta ao sucessor de Hugo Chávez, o presidente da Assembleia Nacional Venezuelana, Juan Guaidó, se declarou presidente interino do país. O Brasil, os Estados Unidos e o Canadá estão entre os países que declararam apoio ao movimento de Guaidó, além da Organização dos Estados Americanos (OEA).
No mês passado, Maduro afirmou que o país rompeu relações com os Estados Unidos e deu 72 horas para que as missões diplomáticas norte-americanas deixassem a Venezuela.
A tensão cresceu em fevereiro com o fechamento da fronteira com o Brasil, rota de fuga de parte dos venezuelanos que busca deixar seu território de origem.
Entenda a crise na Venezuela
2014
Preço do petróleo
A queda de mais de 50% nos preços do petróleo, em 2014, marcou o início da crise econômica na Venezuela, inflamando as tensões entre o governo e uma oposição empenhada em tirar Maduro do poder. A commodity representa a maior parte da renda do país.
2015
Oposição conquista vitória nas urnas
A oposição ao governo de Maduro conquistou vitória histórica nas eleições parlamentares em dezembro de 2015. O trunfo marcou o fim de 16 anos de hegemonia chavista com a maioria de pelo menos três quintos da Assembleia Nacional. Como manobra para enfraquecer a oposição, Maduro começou a usar a Suprema Corte e a Justiça Eleitoral do país para garantir hegemonia política, diminuindo os poderes do Parlamento.
2016
Fim de diálogo
A coalizão oposicionista, que controlava o Legislativo venezuelano, suspendeu o diálogo com o governo, que não teria cumprido acordos envolvendo o cronograma eleitoral e a libertação de opositores. O grupo contrário a Maduro pressionou por referendo revogatório contra o presidente, mas o processo foi descartado pelo Executivo. Os opositores, então, pediram a antecipação das eleições presidenciais, marcadas para 2018, o que também foi rejeitado.
2017
Suprema Corte assume o Parlamento
O Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela assumiu as competências do Parlamento em março. A decisão, segundo analistas, representou mais um passo rumo a modelo autoritário. O Congresso, de ampla maioria opositora, considerou a manobra um desacato. Após forte pressão internacional, o TSJ voltou atrás e revogou a decisão um mês depois.
Mortes em protestos
Mesmo com o recuo, a ação do Supremo foi o estopim para uma onda de protestos em todo o país. Com manifestações quase diárias, marcadas por confrontos entre manifestantes e forças de segurança, mortes, prisões de opositores e cenário de guerra, a crise política no país ficou ainda mais inflamada. A violência vinculada às manifestações entre abril e julho de 2017 deixou 125 mortos.
Invasão no Parlamento
Partidários de Maduro invadiram o Parlamento em julho de 2017. Vinte pessoas, entre elas sete parlamentares, ficaram feridas nos confrontos durante o ato.
O então presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, o opositor Julio Borges, disse que a ação foi ordenada pelo governo. Na época, Maduro condenou o ataque e pediu investigação dos fatos.
Constituinte
Em 30 de julho, mais de 8 milhões de venezuelanos votaram para definir os integrantes da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), órgão que seria considerado por Maduro como legítimo detentor do poder legislativo. O dia da eleição foi violento e terminou com 10 mortos – dois deles adolescentes.
A oposição e vários governos rejeitaram o resultado, considerando a votação "fraudulenta". A maioria votou de acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A oposição diz que Maduro usa a nova constituinte para garantir sua supremacia no poder. Em agosto, a ANC decidiu, por unanimidade, assumir as competências do Parlamento, deslegitimando a Assembleia Nacional, controlada pela oposição.
Com a manobra, o cenário político no país ficou mais tenso. Os opositores consideram a decisão ilegítima e como um instrumento do governo de Maduro para consolidar uma ditadura no país.
2018
Maduro reeleito
Em maio de 2018, Maduro foi reeleito presidente da Venezuela. Em um processo marcado por denúncias de fraude, abstenção de eleitores — o sufrágio não é obrigatório, e apenas 46% dos venezuelanos aptos votaram — e falta de reconhecimento de opositores e da comunidade internacional, o polêmico sucessor de Hugo Chávez obteve um mandato de mais seis anos, a partir de janeiro de 2019.
Crise migratória
Com o cenário caótico no país, alto índice de inflação, falta de produtos básicos e taxa elevada de desemprego, parte da população da Venezuela decidiu tentar a sorte em países vizinhos. Entre os destinos escolhidos, estão Brasil e Colômbia. Como Roraima não dá conta de absorver o alto fluxo de migrantes, o governo federal intensificou processo de interiorização, transferindo venezuelanos para outros Estados, como o Rio Grande do Sul.
Janeiro de 2019
Posse de Maduro
Em 10 de janeiro de 2019, sob críticas e suspeitas internacionais, Maduro tomou posse para um novo mandato, que irá até 2025. Ele conta com o respaldo das Forças Armadas e da Suprema Corte, mas sofre resistência interna da Assembleia Nacional, que é comandada pela oposição. Países como o Brasil e os Estados Unidos não reconhecem o novo mandato de Maduro.
Presidente do Congresso contesta mandato
Um dia após a posse de Maduro, o presidente do Congresso venezuelano, Juan Guaidó, anunciou que assumiria a presidência do país, não reconhecendo o novo mandato do sucessor de Chávez. Guaidó afirmou que vai comandar a Venezuela com o apoio da população e do Exército para "convocar uma processo de eleições livres e transparentes que facilitem uma transição pacífica e democrática no país". Guaidó afirma que a decisão segue a Constituição do país.
Guaidó se declara presidente interino
Cumprindo a promessa, Guaidó fez um juramento constitucional e se proclamou presidente interino da Venezuela. O gesto foi reconhecido pelo Brasil, pelos Estados Unidos, pelo Canadá e pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Apoiadores e opositores do governo Maduro realizam protestos em Caracas. Os tumultos no país deixam saldo de pelo menos quatro mortos. Uma estátua de Hugo Chávez foi queimada.
Maduro chama Guaidó de golpista e rompe relações com os EUA
Em um discurso inflamado no Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano, em Caracas, Maduro rechaçou qualquer possibilidade de deixar o cargo. Para o presidente, Guaidó tenta um golpe de Estado semelhante ao de Pedro Carmona, que tentou derrubar Chávez em 2002. Em retaliação, Maduro ordenou que todas as missões diplomáticas dos Estados Unidos deixassem o país.
— Aqui há dignidade, c... — afirmou.
Crise econômica
O embate político na Venezuela tem como pano de fundo a intensa crise econômica que afeta o país. A instabilidade provocou escassez de comida e remédios e, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação em 2019 vai chegar a 10.000.000%. Conforme a ONU, 2,3 milhões de pessoas deixaram o país desde 2015.
Fevereiro de 2019
Ajuda humanitária
O Brasil anunciou na quinta-feira (21) que prepara operação para fornecer ajuda humanitária em "cooperação com o governo dos Estados Unidos" à Venezuela. Conforme o governo federal, caminhões com medicamentos e alimentos seriam enviados para cidade de Pacaraima, em Roraima, na fronteira com o país vizinho.
O envio de ajuda humanitária se tornou novo foco de embate entre Maduro e Guaidó. O sucessor de Chávez teme que a entrega poderá facilitar a intervenção dos Estados Unidos e pediu aos militares que impeçam a entrada das mercadorias. Guaidó, por sua vez, discursa a favor da entrada dos produtos.
Fechamento de fronteira com Brasil
Com a tensão formada em torno da ajuda humanitária, o posto de fronteira entre o Brasil e a Venezuela foi fechado na quinta-feira (21) após determinação de Maduro. O trânsito segue interrompido no local nesta sexta-feira (22), o que provocou a revolta de grupos que buscavam permitir a entrada de mantimentos no país. Em confronto com indígenas, no Estado de Bólivar, na fronteira com o Brasil, militares venezuelanos mataram pelo menos duas pessoas.