O juiz criminal de Soledade, José Pedro Guimarães, falou sobre decisões no caso envolvendo 18 ex-escoteiros que afirmam terem sido vítimas de abuso sexual no Grupo Escoteiro Guamirim, de Fontoura Xavier, no norte do Estado. Guimarães negou dois pedidos de prisão do suspeito, André Carvalho Lacerda, feitos pela Polícia Civil.
O argumento foi de que os fatos não eram recentes. Os abusos teriam ocorrido entre 2007 e 2016, mas só agora os ex-integrantes do Guamirim romperam o silêncio.
— A Justiça não atua por vingança ou sentimentos pessoais de quem quer que seja. O caso, como qualquer outro, será objeto de normal tramitação processual com respeito ao devido processo e à defesa do acusado. O Poder Judiciário não atua mediante espetáculo ou de modo açodado — disse o magistrado.
Ao referir que os fatos relatados pelas supostas vítimas não são recentes, o juiz explicou que assim está "ausente um dos fundamentos para a decretação da prisão cautelar, ou seja, antes do processo e da sentença penal delitiva".
O promotor de Justiça que atua no caso em Soledade, Bill Jerônimo Scherer, e que foi favorável aos pedidos feitos pela polícia, recorreu do indeferimento das prisões. O recurso será julgado pelo Tribunal de Justiça (TJ).
A Polícia Civil também havia solicitado a avaliação psicológica das 18 supostas vítimas. Em função de "limitação para designação de peritos remunerados pelo Tribunal de Justiça", Guimarães só autorizou a perícia para sete dos ex-escoteiros que relataram abusos.
O Ministério Público (MP), no entanto, está providenciando para que os demais jovens que já prestaram depoimento à polícia sejam avaliados por profissionais do Gabinete de Assessoramento Técnico do MP.
Os ex-escoteiros contam terem sofrido abusos por parte de André ao longo de anos. Foi ele que fundou e presidiu o Grupo Guamirim. O Grupo de Investigação da RBS (GDI) revelou as histórias dos supostos abusos em reportagem na semana passada.
Os relatos dos ex-integrantes do Guamirim mostram a forma como André agiria para envolver os escoteiros e evitar que eles denunciassem os abusos: ele teria dito aos meninos que tinha câncer e que precisava de sêmen dos jovens para se curar.
O grupo de amigos começou a conversar sobre os supostos abusos em meados de 2017 e, no final do ano passado, decidiu procurar a polícia. O inquérito tramita em Fontoura Xavier sob coordenação do delegado Marcos Veloso.
Como denunciar
Denuncie casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes para a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-6400. O anonimato é garantido.