Hoje investigado por supostos abusos sexuais de escoteiros, André Carvalho Lacerda ingressou no movimento escoteiro em 1980, com 13 anos. Ele começou no Grupo Escoteiro Japão, em Porto Alegre, como membro juvenil, e depois chegou a participar da direção da entidade na Capital.
Conforme a União dos Escoteiros do Brasil (UEB), depois de fundar e ser presidente de grupos, André está afastado oficialmente do movimento desde maio de 2016, quando parou de renovar seu registro e, portanto, deixou de ser associado. Em Fontoura Xavier, no norte do Estado, André criou em 2007 o Grupo Escoteiro Guamirim — do qual foi presidente —, cujos ex-integrantes contam ter sofrido abuso sexual por parte dele.
Segundo a UEB, o Guamirim ficou ativo até meados de 2017, mas André havia saído do comando direto em 2016. Mesmo sem estar com registro regularizado junto ao Movimento Escoteiro, ao longo de 2016 e 2017, segundo a UEB, André participou informalmente da formação de outras duas unidades: o Grupo Fênix, em Sananduva, e o Grupo Bravo das Colinas, em São João da Urtiga, ambos municípios gaúchos.
"André não possui qualquer vínculo oficial com os Escoteiros do Brasil, não estando registrado desde 1º de maio de 2016. Infelizmente, isso não impediu que tenha se utilizado do conhecimento sobre o funcionamento da organização para atuar como se registrado fosse", explicou a UEB por meio de nota.
Em relação às suspeitas contra André, a UEB disse ter tido conhecimento da investigação e afirmou que acompanha o caso: "Nunca houve qualquer denúncia contra ele enquanto atuou regularmente no movimento escoteiro e, se eventuais fatos forem comprovados pela Justiça, serão adotados os procedimentos administrativos para averiguação e tomada de decisões pertinentes".
Cuidados que adotamos para a realização desta reportagem:
1 - Os jovens entrevistados pelo GDI não são identificados para evitar constrangimentos. Por isso, as imagens e as vozes foram distorcidas. 2 - A mãe de um ex-escoteiro que foi entrevistada também não é identificada, para preservar o filho. 3 - Confirmamos junto à Polícia Civil e ao Ministério Público que os relatos foram formalizados em depoimento pelos ex-escoteiros e que o caso está sob investigação de autoridades. 4 - Confirmamos com a União dos Escoteiros do Brasil a participação e a trajetória no escotismo do homem apontado como suspeito dos abusos sexuais.
Conforme Mário Muraro, presidente da Região Escoteira do Rio Grande do Sul da UEB, a confiabilidade em torno da figura de André, no Interior, foi fortalecida pelo fato de ele ser gerente de banco e bem relacionado na comunidade:
— Em outros grupos dos quais participou, nunca houve denúncias contra ele.
Do Grupo Escoteiro Japão, que chegou a presidir, André ganhou duas homenagens: a medalha por bons serviços (pelo tempo de atuação) e a medalha de gratidão (por atividades relevantes). A UEB também explicou que até 2016, André sempre apresentou, como pré-requisito para associar-se, negativa de antecedentes criminais comprovando não ter nenhum impedimento de ordem criminal. Além disso, realizou "o Curso EAD (educação à distância) sobre Proteção Infanto-juvenil, que também é pré-requisito a todos adultos voluntários para associação".
Segundo a UEB, desde novembro de 2013, os escoteiros do Brasil possuem uma Política Nacional de Proteção Infanto-juvenil com o objetivo de prevenir possíveis casos de abuso e violência: "Os escoteiros do Brasil assumem um compromisso com a sociedade de assegurar um ambiente escoteiro seguro para as práticas de suas atividades educacionais, alinhado ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece que é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente".
Em relação ao caso de André, Muraro explicou que, assim que tiver acesso oficial ao caso, poderá abrir de ofício uma sindicância junto à comissão de ética do movimento para apuração das suspeitas. Se houver comprovação de atos cometidos durante o exercício do escotismo, André pode ser expulso e proibido de se associar novamente ao movimento.
Como denunciar
Denuncie casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes para a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-6400. O anonimato é garantido.
Contraponto
O que diz Vitor Guazzelli Peruchin, advogado que acompanhou o depoimento de André Carvalho Lacerda à Polícia Civil:
"O senhor André disse que não vai se manifestar na reportagem, pois todos os esclarecimentos já foram prestados à autoridade policial".
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