O Ministério Público (MP) de Soledade entende haver "elementos de prova suficientes" para a decretação da prisão do suspeito de cometer abusos sexuais em crianças e adolescentes que participaram do Grupo Escoteiro Guamirim, em Fontoura Xavier, no norte do Estado. A Polícia Civil fez dois pedidos de prisão de André Carvalho Lacerda, o MP concordou, mas o juiz José Pedro Guimarães, da Vara Criminal de Soledade, indeferiu as medidas.
Os pedidos foram feitos ao longo da investigação, a partir da análise dos depoimentos de supostas vítimas que estavam sendo coletados. O promotor de Justiça que atua no caso em Soledade, Bill Jerônimo Scherer, explicou que o MP foi favorável aos pedidos do delegado Marcos Veloso por entender "que estão presentes os pressupostos e os requisitos para a prisão, havendo elementos de prova suficientes para tanto".
Como o juiz não acatou os pedidos, o promotor recorreu e aguarda julgamento pelo Tribunal de Justiça (TJ). Além disso, Scherer segue acompanhando o andamentos das investigações. Nesta quinta-feira (15), por intermédio da assessoria de imprensa do TJ, o magistrado informou que não falaria dos argumentos para negar a prisão porque o caso segue sob sigilo. O TJ confirmou que há recurso para ser julgado.
A polícia já tem 18 depoimentos de ex-integrantes do Grupo Escoteiro Guamirim relatando que durante anos teriam sofrido abusos por parte de André. A advogada que acompanha o caso, Claridê Chitolina Taffarel, disse que a polícia também pediu à Justiça a avaliação psicológica de todos os jovens que depuseram. O TJ não revela se já houve decisão a respeito deste pedido.
As histórias de seis das 18 testemunhas foram reveladas pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) em reportagem nesta quinta-feira (15). Os ex-escoteiros contaram que André, que fundou e presidiu o Guamirim a partir de 2007, alegava ter câncer e que podia ser curado com o espermatozoide dos jovens. Os amigos guardaram em segredo durante anos os supostos abusos, sem coragem de contar uns para os outros ou para as famílias. Muitos nem entendiam a real natureza dos atos que dizem ter sofrido.
Foi a partir de conversas de um deles com colegas de faculdade que a certeza sobre os abusos começou a se firmar. O universitário de 23 anos se deu conta do que tinha sofrido, fez tratamento psicológico e resolveu criar um grupo reunindo os amigos para que todos falassem de suas experiências. Com relatos permeados de dor, procuraram a polícia.
O inquérito segue tramitando em Fontoura Xavier para a coleta de mais depoimentos e provas. O delegado responsável, Marcos Veloso, não fala do caso por estar sob sigilo.
Entenda o caso
Esta notícia é uma repercussão de reportagem especial do GDI, dividida em seis partes. Clique para acessar os conteúdos já publicados sobre o tema: