Dois prejuízos em dois meses
A advogada Ana Vitória D'Ávila foi vitimada duas vezes por buracos no curto período de dois meses. Na primeira ocasião, em março, transitava à noite com sua CRV pela Avenida Protásio Alves quando, na esquina com a Rua Carazinho, bateu a parte de baixo numa cratera. O buraco rasgou o cárter e o veículo perdeu todo o óleo. Resultado: o motor estragou. Quando mandou fazer uma avaliação, Ana quase não acreditou na estimativa de prejuízo.
— Disseram que custaria R$ 20 mil para arrumar. Como eu tinha seguro, paguei franquia de R$ 3 mil e mandei consertar. Fiquei quase três meses sem o carro, porque tinha fila de espera na oficina — recorda ela.
No período em que estava sem a caminhonete, Ana pegou emprestado do pai um carro i30. Por incrível que pareça, numa noite de chuva ela transitava pela Rua Artur Rocha quando, na esquina com a Rua Eudoro Berlink, o automóvel entrou num grande buraco. O pneu dianteiro rasgou. Novo prejuízo, dessa vez de pouco mais de R$ 600.
— A verdade é que circular de carro por Porto Alegre virou um rali. Uma situação que se arrasta há anos. Quem vai pagar os prejuízos que tive, duas vezes em dois meses? Mesmo que ingresse na Justiça, pagam em precatórios, que se arrastam por anos, décadas — reclama Ana.
Dois buracos em dois metros
O jornalista Henrique Jasper foi surpreendido por dois buracos consecutivos na Rua Carlos Trein Filho, no bairro Bela Vista. Escapou do primeiro, cortou um pneu do seu HB20 na segunda cratera. Era noite e o movimento era grande. Ele chegou a ver a buraqueira, tentou desviar, mas o trânsito era intenso e outros veículos passavam ao lado do seu, impedindo manobras bruscas. Foi desastre anunciado.
— O buraco tem borda afiada e rasgou um lado do pneu, que esvaziou imediatamente. Andei uma quadra e tive de trocar o pneu no escuro, na Praça da Encol, à noite. O prejuízo foi de R$ 450, fora o custo da geometria (mais R$ 80) — resume Jasper.
Ele diz que os dois buracos, situados um em frente ao outro na esquina da Carlos Trein Filho com a Rua Jaraguá, apareceram no início do ano e nunca foram consertados.
— São o retrato de uma Porto Alegre que está muito jogada, abandonada. Espero que isso mude, mas ao longo dos anos só tem piorado no quesito pavimentação — analisa Jasper.
Cratera encoberta por alagamento no Anchieta
O empresário Lucas Brondani estragou o carro na Rua Ângelo Dourado, bairro Anchieta, no mesmo quarteirão onde trabalha na indústria com o pai.
— O problema é que a rua tem mais buracos do que asfalto — sintetiza Brondani.
Não há exagero na afirmativa dele. Assim como outras ruas do bairro Anchieta, a Ângelo Dourado possui uma fina camada de asfalto sobre uma base de paralelepípedo. Com o tempo, o asfalto se deteriorou e crateras se formaram. Na maioria, rasas. Algumas, capazes de detonar as rodas dos carros. Foi o que aconteceu com o Mini Cooper de Brondani, que teve uma roda dianteira, de liga leve, quebrada num buraco. O prejuízo com roda e pneu foi de R$ 800, relata.
Na noite em que sofreu a perda da roda, chovia e o bairro estava alagado. Aliás, é uma das regiões da cidade que mais ficam submersas, porque está abaixo do nível do Guaíba.
O curioso nessa história é que Brondani e outros empresários, enquanto aguardam ajuda da prefeitura para o conserto dos buracos, ajudam o poder público. Partiu deles e de moradores do bairro Anchieta a iniciativa de pagar pelo conserto das bombas de sucção do Departamento de Esgotos Pluviais, que ajudam a drenar os alagamentos do bairro. Das quatro existentes na Casa de Bombas do DEP, só uma estava funcionando, precariamente. Os empresários locais se cotizaram e juntaram verba para o conserto de duas delas. Nesta semana, a prefeitura fez um tapa-buracos na Rua Ângelo Dourado. Brondani agradece, mas acha pouco.
— Tem de asfaltar tudo de novo. O bairro virou um polo cervejeiro, atrai visitantes no fim de semana, mas dá vergonha receber o pessoal, porque caem nos buracos — conclui o empresário.