
Entre julho e setembro deste ano, o Grupo de Investigação da RBS (GDI) examinou contratos públicos e contratou o Laboratório de Pavimentação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para realizar testes no pavimento das ruas da Capital. A série de reportagens "Capital dos buracos" mostra que as crateras enfrentadas por motoristas têm múltiplas causas.
Várias ruas que foram recapeadas entre 2010 e 2015 — um serviço que deveria durar 10 anos —, já têm buracos e ondulações. Entre as razões apontadas pelo engenheiro Glicério Triches, da UFSC, estão problemas na qualidade do material, erros de projeto e execução e falta de manutenção.
Os trechos analisados integram o Programa de Revitalização Asfáltica e foram executados pela empresa de engenharia Procon, contratada pela prefeitura. Seu diretor, o engenheiro Marcos Pinheiro, diretor da Procon, diz que as soluções de pavimentação são limitadas pela capacidade de investimento do município. Cita a falta de manutenção constante, de controle de peso dos veículos que circulam na cidade e as "condições heterogêneas" dos pavimentos como razões para o surgimento de buracos em vias que deveriam durar 10 anos.
— Cabe aos gestores municipais manter políticas de médio e longo prazo, principalmente no que tange a manutenção da malha viária existente. A manutenção tardia provoca danos maiores à estrutura do pavimento, exigindo intervenções mais onerosas — afirma.
Confira a posição do diretor sobre os problemas encontrados no teste do GDI.
Sobre as condições gerais das ruas
"Os problemas são decorrentes, na sua maior parte, pela falta de estrutura do pavimento, principalmente em trechos com circulação de veículos pesados e paradas de ônibus. Na medida em que o o processo de trincamento inicia e a manutenção não é realizada, a água penetra no pavimento e compromete a estrutura de base e solo. Este tipo de problema já era esperado que pudesse ocorrer em parte da área pavimentada, sem ter como estimar o tempo para isso, visto que não há controle de peso nos veículos que circulam no município e as condições da estrutura dos pavimentos são heterogêneas.
No entanto as soluções adotadas puderam ser realizadas com menor investimento inicial abrangendo uma grande área de pavimentos, apresentando patologias num pequeno percentual de toda a área pavimentada. Para que a solução tenha efetividade, cabe aos gestores municipais manter políticas de médio e longo prazo, principalmente no que tange a manutenção da malha viária existente. A manutenção tardia provoca danos maiores à estrutura do pavimento, exigindo intervenções mais onerosas."
Sobre haver buracos na Sertório apenas dois anos após o recapeamento
"Este trecho está localizado numa região da Zona Norte da cidade que convive com constantes alagamentos. O solo sempre com presença de água tem comportamento indefinido e acelera a fadiga do revstimento. Não é apenas mudando o revestimento que toda a condição do pavimento será resolvida. A solução proposta pelos técnicos da prefeitura foi paliativa para melhorar as condições de trafegabilidade. As manutenções deveriam ser realizadas num menor espaço de tempo, no intuito de minimizar a propagação das trincas e penetração de água nas camadas inferiores do pavimento. A questão da macrodrenagem é complexa e possivelmente muito onerosa. Entendo que a solução passa por decisões de gestão.

Soluções pontuais de microdrenagem não resolvem a situação nesse caso. O contrato firmado tinha como objetivo uma manutenção superficial da malha, que auxiliaria na melhoria das condições de trafegabilidade e aumento da vida útil da estrutura do pavimento. As soluções eram limitadas pela capacidade de investimento e necessidades do município. Cabia a empresa executar o determinado pela fiscalização."
Sobre aplicar asfalto sem corrigir a base das vias
"As soluções adotadas eram propostas pelos técnicos da prefeitura. Quando o revestimento antigo estava trincado, o pavimento era fresado e aplicado o novo revestimento, principalmente porque não havia deformação aparente. Pelo que visualizamos, houve reflexão de trincas em pontos isolados. Logo, consideramos que as soluções foram bem definidas pela fiscalização, pois os defeitos representam um pequeno percentual da área total pavimentada, com um baixo investimento inicial."
Sobre usar asfalto de baixa resistência
"O material utilizado (CBUQ) respeitou as faixas de acordo com as especificações técnicas da prefeitura. Em algumas vias de maior fluxo de veículos, a prefeitura tem adotado a utilização de cimento asfáltico modificado com polímeros, que tem melhor comportamento com relação a recuperação elástica e as variações de temperatura, aumentando a sua vida útil. Essa solução é mais onerosa, mas no médio e longo prazo apresenta resultados melhores. Insistimos que a gestão dos pavimentos deve ser tratada com políticas e investimentos contínuos. Os serviços para os quais fomos contratados para executar eram necessários, mas sem uma continuidade de manutenção perdem a sua eficácia."
Sobre asfaltar sem realizar, antes, drenagem
"Com exceção de trechos da zona norte da cidade que sofrem com alagamentos em virtude das condições de macrodrenagem, os demais segmentos não apresentavam problemas de drenagem. Pelo que visualizamos, pontualmente houveram problemas decorrentes da penetração de água através de trincas. No entanto, reiteramos que tais situações não comprometem o conjunto de soluções adotadas pelos técnicos dos munícipio. Os problemas são um pequeno percentual da área total pavimentada. Foi possível pavimentar mais áreas com menor investimento."
Quem fiscalizava o serviço
"Sim, havia fiscalização de engenheiros do município. Não houve solicitação para refazer serviços, que seguiam as orientações da fiscalização."