Após nova fase da Operação Capa Dura, a Polícia Civil considera o empresário Jailson Ferreira da Silva foragido da Justiça. Ele é alvo de mandado de prisão preventiva, sem prazo para libertação, mas não foi localizado pelas equipes da Polícia Civil que tentaram executar a ordem judicial nesta terça-feira (12). O suspeito tampouco se apresentou às autoridades. Por isso, passou à condição de foragido.
Conhecido como Jajá no meio político e empresarial, ele representou duas empresas que fizeram seis vendas de livros e de laboratórios de ciências e matemática à Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (Smed) em 2022. O custo total das negociações foi de R$ 43,2 milhões e a suspeita é de que o grupo econômico de Jailson foi beneficiado por direcionamento das compras. Também teria ocorrido pagamento de vantagem indevida a agentes políticos.
A ação, realizada pela 1ª Delegacia de Combate à Corrupção (1ª Decor) e batizada Prefácio, é mais um desdobramento da Operação Capa Dura, que investiga os supostos crimes de fraude licitatória, associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva e ativa na Educação da prefeitura de Porto Alegre.
Jailson já havia sido preso temporariamente na primeira fase da capa operação, em janeiro de 2024.
Deflagrada nesta terça-feira, a terceira etapa da Capa Dura busca esclarecer como agentes políticos teriam intermediado a aproximação de Jajá com a prefeitura de Porto Alegre. O ex-vereador Alexandre Bobadra (PL), afastado das funções públicas de policial penal e alvo de buscas e apreensões, teria intermediado uma reunião sobre educação no gabinete do prefeito Sebastião Melo em 9 de julho de 2021. Na data, Bobadra compareceu ao encontro levando Jailson e um sócio dele. Eles apresentaram kits de robótica na ocasião, em encontro com o prefeito e outros integrantes do primeiro escalão. Oito meses depois, em março de 2022, Sônia da Rossa assumiu a titularidade da Smed e deu início às compras das empresas vinculadas a Jailson, somando mais de R$ 43 milhões em contratos. As investigações apontam que, além dos supostos direcionamento e pagamento de vantagem indevida, não houve planejamento para a aquisição dos materiais escolares, tanto em qualidade quanto em quantidade.
O vereador em exercício Pablo Melo (MDB) também foi alvo de mandado de afastamento das funções públicas por 180 dias. Ele também é suspeito de intermediar a aproximação entre o empresário Jailson Ferreira da Silva e a Smed.
Também foram presos preventivamente um ocupante de Cargo em Comissão (CC) na Procuradoria-Geral do Município (PGM), Reginaldo Bidigaray, e o advogado Maicon Callegaro Morais, que já atuou em diferentes órgãos da prefeitura de Porto Alegre e, atualmente, não exerce função pública.
Na casa de Morais, foram encontrados US$ 13 mil, cheques com valores altos, ouro, dois relógios Rolex e uma pistola. A arma é legalizada. Além de Bobadra, foi afastado da função pública Mateus Viegas Schonhofen, também ocupante de cargo comissionado na PGM por suspeita de envolvimento com o caso. Ele é tesoureiro do MDB de Porto Alegre.
As apurações da Polícia Civil foram iniciadas após reportagens do Grupo de Investigação da RBS (GDI) terem revelado, a partir de junho de 2023, o desperdício de material escolar em depósitos e em escolas da Capital. Na sequência, o GDI mostrou o suposto direcionamento de compras da Smed para o grupo econômico representado por Jailson.
Contrapontos
O que diz a defesa de Jailson Ferreira da Silva
O advogado Nereu Giacomolli enviou a seguinte manifestação: "Ainda não obtivemos acesso à decisão que decretou a prisão preventiva. Assim que soubermos dos motivos, vamos questionar a prisão no Tribunal de Justiça."
O que diz a defesa de Alexandre Bobadra
O advogado Fabiano Barreto da Silva enviou a seguinte nota:
A defesa já teve autorização para acesso dos autos da investigação e vai analisar os documentos, para verificar sobre a suposta participação do Alexandre Bobadra nos crimes citados.
O que diz o vereador Pablo Melo:
— Recebo com surpresa e indignação a informação de que, por decisão judicial, estou sendo afastado das funções públicas pelo prazo de 180 dias. Tenho vida pública e partidária há mais de 20 anos, sem qualquer tipo de ação ou conduta que desabone minha trajetória. Caso isso seja confirmado, cumprirei a decisão, me colocando à disposição para qualquer tipo de esclarecimento.
O que diz a prefeitura de Porto Alegre:
A Prefeitura de Porto Alegre deu início às apurações, em junho de 2023, por determinação do prefeito Sebastião Melo, e dividiu todas as informações com os órgãos de controle e segurança. A gestão repudia qualquer malfeito com dinheiro público e seguirá atuando em plena colaboração com as investigações. Até o momento, a prefeitura não foi notificada com relação a desdobramentos da operação policial.
O que diz a defesa de Reginaldo Bidigaray
A defesa de Reginaldo Bidigaray, composta pelos advogados Jader Santos e Olga Popoviche, informa que, até o presente momento, não teve acesso integral aos autos que fundamentaram a decretação da prisão preventiva de Reginaldo, no âmbito da Operação Capa Dura. Aguardamos o pleno acesso aos elementos da investigação para, com base em uma análise técnica e detalhada, proceder com os esclarecimentos devidos e tomar as medidas cabíveis em defesa de seu cliente.