A suspeita de que compras da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Porto Alegre foram direcionadas a partir de informações que chegavam aos servidores já prontas, gravadas em pen drives ganha cada vez mais força na investigação da Polícia Civil.
Durante buscas feitas na Operação Capa Dura, que apura irregularidades em aquisições feitas pela pasta, foram apreendidos pen drives com o empresário Jailson Ferreira da Silva que continham dados sobre atas de registro de preço envolvendo prefeituras de cidades catarinenses.
O empresário é investigado por ter intermediado compras feitas pela Smed, como representante comercial. Uma das suspeitas é de que ele possa ter participado de direcionamento desses processos para determinados fornecedores. O Grupo de Investigação da RBS (GDI) teve acesso a trechos do depoimento que Jailson, conhecido como Jajá, deu à polícia depois de ser preso e de o material ser encontrado durante as buscas da Operação Capa Dura, da 1ª Delegacia de Polícia de Combate à Corrupção.
No material apreendido havia, além de atas, modelos de documentos necessários para esse tipo de negociação, como o ofício que as prefeituras devem fazer solicitando a autorização de adesão à ata e o ofício de resposta dos consórcios. Esses documentos estariam gravados no modo editável, ou seja, prontos para terem dados pontuais inseridos.
Questionado sobre o motivo de ter esse material consigo, Jailson explicou:
— Eu baixo editais e fico analisando. Gosto de aprender, de ler, de saber.
O empresário negou que tenha entregue informações prontas para os processos de compras feitos pela Smed:
— De minha parte, foi da maneira mais republicana possível.
Jailson foi questionado sobre a reunião que teve com Sônia da Rosa apenas seis dias depois de ela assumir o comando da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Porto Alegre. O encontro constou na agenda oficial de Sônia e ocorreu em 9 de março de 2022. Uma semana depois, a Smed deu início a uma série de seis compras de materiais de empresas ligadas a Jailson, todas por adesão à ata de registro de preço, somando R$ 43,2 milhões em pagamentos.
— Quando marquei essa reunião com a secretária Sônia, ela já conhecia nosso trabalho de robótica em Canoas, onde vendemos, entregamos, fizemos a formação e o qual estava sendo um sucesso. Eu li no jornal que ela estava vindo para Porto Alegre (Sônia saiu de Canoas para assumir a pasta na Capital) e liguei para a secretária pedindo uma audiência com ela. O que eu sou? Sou vendedor, tenho que ir lá para vender. Ela não vai descobrir que eu tenho o material se eu não for lá ofertar — disse em depoimento aos policiais.
Perguntado sobre uma postagem nas redes sociais em que comemorou a chegada de Sônia à pasta da Capital, o empresário disse:
— Claro que comemorei. Eu trabalho com Educação. Quero o melhor para Porto Alegre na educação. Se perguntar para mim, do Brasil inteiro, qual a melhor secretária preparada para o RS, chama-se Sônia.
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