A tramitação processual da Operação Capa Dura, que investiga possíveis delitos de fraude licitatória e associação criminosa na prefeitura de Porto Alegre, contém documentos e relatórios que detalham os bens móveis e imóveis considerados de “alto padrão” adquiridos pelo empresário Jailson Ferreira da Silva. Conforme a investigação, moradias e veículos foram comprados por ele em datas próximas, sempre posteriores, aos pagamentos feitos pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) da Capital por livros da editora Inca Tecnologia de Produtos e Serviços.
Preso temporariamente na terça-feira (23), Jailson atuou nas cinco vendas de livros sob suspeita. No total, foram comercializados 544 mil exemplares por cerca de R$ 34 milhões.
Os documentos mostram que, em quatro das contratações, as liquidações dos pagamentos da prefeitura em favor da Inca ocorreram entre 6 de julho e 11 de agosto de 2022.
A investigação diz que, em datas “imediatamente posteriores aos pagamentos”, uma empresa em nome de Jailson, a World Company Soluções e Inovações Tecnológicas, adquiriu quatro carros: Hyundai Tucson Turbo GLS (2019), Mercedes Benz S500L (2015), Maserati Levante (2019) e Porsche Panamera 4EHYB (2020). Pesquisa na tabela Fipe indica que, somados, os veículos podem chegar ao valor de R$ 1,9 milhão.
Os documentos relatam que os carros permaneceram por menos de 40 dias como propriedade da World, sendo transferidos posteriormente a terceiros. As autoridades registraram formalmente a suspeita de que possa ter ocorrido lavagem de dinheiro na operação.
Entre agosto e novembro de 2022, em datas posteriores aos pagamentos da Smed, foi registrado que Jailson adquiriu três imóveis. Um deles, em um condomínio em Xangri-lá, no Litoral Norte, foi arrematado em leilão judicial por R$ 375 mil. Além disso, dois apartamentos em um mesmo complexo turístico na praia de Jurerê, em Florianópolis, foram comprados pelo suspeito. Um deles custou R$ 500 mil (vendido quatro meses depois por R$ 930 mil) e o outro, R$ 850 mil. Os aportes nos imóveis alcançaram R$ 1,7 milhão.
No somatório de compras, o valor potencial chegaria a R$ 3,6 milhões entre imóveis e veículos. Essa cifra corresponde a pouco mais de 10% dos R$ 34 milhões pagos pela Smed pelos livros sob suspeita.
Quatro das cinco vendas foram feitas pela Inca Tecnologia. A quinta comercialização, consumada em outubro de 2022, coube à Sudu Inteligência Educacional, mas ela forneceu os mesmos materiais da editora Inca, com igual intermediação de Jailson.
A Operação Capa Dura é da Polícia Civil e a decisão judicial que autorizou as prisões temporárias, afastamentos de função pública, mandados de busca e apreensão e bloqueio de bens é da 1ª Vara Estadual de Processo e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro.
Contraponto
O advogado José Henrique Salim Schmidt, responsável pela defesa de Jailson, afirmou, em nota, que “os bens de propriedade do investigado possuem origem declarada, estando inteiramente à disposição das autoridades para esclarecimentos”.