Logo na entrada da cidade, como se fosse um recado para quem chega de carro a Porto Alegre pela freeway, uma rua simboliza o drama dos buracos para motoristas da cidade. Paralela à BR-290 e com grande fluxo de caminhões, o pavimento na Rua João Moreira Maciel tem problemas de todos os tipos: equívocos na concepção da via, dificuldade crônica para escoamento da chuva e abandono na conservação.
Para o professor Glicério Triches, coordenador do Laboratório de Pavimentação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), não há condição que permita uma vida prolongada do pavimento com água acumulada, sistema de drenagem pluvial entupido e solo de fundação — a base da rua — sem suporte para o tráfego intenso:
— Devido ao abandono da via, estes fatores agravam seus problemas. Além disso, há passagem intensa de veículos pesados.
Triches, que visitou com a reportagem 16 ruas e avenidas — as piores entre 65 recapeadas entre 2010 e 2015 —, classificou a João Moreira como uma das mais degradadas. Recapeada pela última vez em setembro de 2010, em seus cinco quilômetros costeando os rios Jacuí e Gravataí a via concentra sete problemas que se repetem cidade afora.
1 - Ocupação desordenada no entorno
Para absorver a grande quantidade de construções – em sua maioria, empresas –, o solo da rua deveria ter sido reforçado. Outro problema são os detritos e restos de demolição espalhados pela via.
2 - Baixa qualidade da mistura asfáltica
O desgaste excessivo do asfalto mostra que a mistura aplicada na via tem baixa qualidade para um trecho onde passam caminhões de carga. A mistura usa seixo de rio, uma pedra pouco durável.
3 - Reperfilagem sobre revestimento trincado
Camada de asfalto colocada sem retirar o pavimento que estava trincado. Isso faz com que as rachaduras apareçam no revestimento novo em curto espaço de tempo.
4 - Solo de fundação tem baixa capacidade de suporte
Infraestrutura do solo que está abaixo das bases do asfalto é frágil e devia ser reforçada antes da construção do pavimento.
5 - Tráfego muito pesado
Intenso fluxo de caminhões na via, tanto de empresas instaladas na avenida, quanto dos que chegam na Capital pela freeway. Estudo de tráfego na fase de projeto precisa prever o circulação de veículos pesados.
6 - Obstrução do sistema de drenagem da rua
A água da chuva não tem para onde escoar e acumula na via (como mostra a foto abaixo), ajudando a acelerar a gravidade das trincas.
7 - Via sem manutenção
Há pontos da rua em que o asfalto não existe mais: já é possível ver a camada de base, como se fosse estrada de chão batido.
O que poderia ser feito?
Segundo o professor Triches, todo o trecho entre a Ernesto Neuguebauer e a BR-448 deveria ser reconstruído. É necessário desenvolver projeto final de engenharia para a restauração e reconstrução de alguns segmentos da via de acordo com o grande fluxo de veículos pesados que passam no local.