
A BR-386 passa por 31 municípios gaúchos ao longo da sua extensão, para além das demais cidades que indiretamente estão ligadas a ela. São três macrorregiões abrangidas pela estrada: Metropolitana, Vale do Taquari e Norte. Cada área possui uma característica específica, com demandas diferentes em relação à principal ligação entre elas.
Zero Hora percorreu os quase 400 quilômetros da Estrada da Produção e procurou prefeitos e associações municipais para entender as principais reivindicações de cada região, e como está sendo feito o diálogo com as autoridades para concretizar as demandas. Entre elas, estão melhorias em acessos para municípios, construção de viadutos e até mesmo uma nova ponte para atravessar o Rio Taquari.
Enquanto algumas já estão previstas ou em andamento, outras ainda estão sendo negociadas. Veja abaixo algumas das questões apontadas em cada região.
Região Metropolitana
O trecho metropolitano da BR-386 é o de maior fluxo diário de veículos, conforme a CCR ViaSul, especificamente entre Canoas e Nova Santa Rita. Por conta disso, é também o segmento que apresenta as melhores condições de asfalto e sinalização, sendo totalmente duplicado. Montenegro e Triunfo também estão situados nas margens da rodovia.
No entanto, ainda há demandas que partem de prefeituras próximas à Capital. A principal delas é de Nova Santa Rita. Dois viadutos que deveriam ter sido entregues em fevereiro de 2023 sequer saíram do papel, mais de dois anos depois. A boa notícia para a população é que as primeiras movimentações de obras iniciaram na última semana, quando a reportagem atravessou a rodovia.
As duas estruturas serão construídas, respectivamente, nos quilômetros 434, no cruzamento com a Rua Dr. Lourenço Záccaro e a Estrada Sanga Funda, e 435, na rotatória por onde passa a Avenida Santa Rita, principal acesso à cidade.
Os dois pontos são cruciais para atravessar o município, cortado ao meio pela rodovia. Sem as estruturas, pedestres e motoristas precisam cruzar a movimentada 386 sem sinaleira ou faixa de pedestres. Funcionária de um restaurante na beira da estrada, Fátima de Oliveira, 46 anos, passa pelo desafio de atravessar o trecho a pé todos os dias.
— É bem difícil. Para nós que trabalhamos aqui, é complicado atravessar. Levo de cinco a dez minutos, dependendo do trânsito. Às vezes, está lento; às vezes, rápido, mas é difícil. Eu sempre fico com medo de atravessar. Até quando a gente está parado nos acostamentos é ruim —relata.
O resultado é a alta incidência de ocorrências de trânsito. Um levantamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) aponta que o trecho entre os quilômetros 435 e 440, que compreende os dois futuros viadutos, foi o segundo de toda a BR-386 que mais registrou acidentes em 2024, com 35 casos.
— Muitas pessoas já perderam a vida fazendo esse deslocamento de um lado para o outro da cidade, nessas localidades. No final da tarde, já tem um congestionamento muito grande. Isso é um fator que vem complicando e muito a mobilidade urbana aqui do município de Nova Santa Rita. E também gerando um risco à segurança das pessoas — afirma o prefeito, Rodrigo Batistella.
A CCR ViaSul afirma que o motivo do atraso se deu em razão do aguardo da emissão das licenças, além de um aumento no período de avaliação e adequação dos projetos funcionais e executivos. Uma placa foi colocada no trecho na última terça-feira (18) indicando a previsão de término das obras para o fim de 2026. Na sexta-feira (21), havia técnicos e trabalhadores avaliando o local onde serão implementadas as estruturas.

Vale do Taquari
Se a BR-386 é a ligação entre Região Metropolitana e Norte, o meio do caminho entre as duas é o Vale do Taquari. A estrada, mais importante rota entre as cidades da região, passa diretamente por 10 cidades: Tabaí, Paverama, Taquari, Fazenda Vilanova, Bom Retiro do Sul, Estrela, Lajeado, Forquetinha, Marques de Souza e Pouso Novo.
Entre as diversas reivindicações pleiteadas pelas administrações, uma das mais antigas é construção de uma nova ponte sobre o Rio Taquari, entre Lajeado e Estrela, que serviria de alternativa para a atual. A demanda voltou a ganhar força após as duas enchentes, de 2023 e 2024, causarem estragos na travessia, impactando até hoje o deslocamento dos motoristas.
Até a publicação dessa reportagem, a pista norte da ponte seguia interditada, por apresentar risco de colapso, obrigando os usuários a utilizarem uma faixa contrária. Com isso, o trecho se tornou o principal gargalo de trânsito em toda a rodovia. Em horários de pico, a espera para cruzar de uma cidade a outra pode levar de 30 minutos a uma hora.
— Essa demanda não é exclusiva desses dois municípios, abrange todos, afinal de contas, a grande maioria deles trafega por essa região. A gente percebe que é uma necessidade. Pela nossa região, passa mais da metade da produção do Estado do Rio Grande do Sul, e o Vale do Taquari tem uma significativa importância no contexto de produção — afirma o presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) e prefeito de Sério, Sidnei Moises de Freitas.
O projeto de uma nova ponte, no entanto, não está previsto no contrato da CCR ViaSul e, por isso, não está nos planos executá-lo. Um pedido de realização do estudo de viabilidade foi feito. O objetivo é averiguar as capacidades estruturais, o impacto na tarifa de pedágio e quanto custaria a construção. No entanto, cabe à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) autorizar a concessionária a realizar o estudo. Até o momento não houve o aval do órgão regulador. A reportagem questionou a agência e aguarda o retorno.
Além da ponte, outras reivindicações apontam para melhorias em acessos locais. Um deles fica em Fazenda Vilanova, no acesso à RS-128, que leva até o município de Teutônia. Há um grande fluxo entre as duas rodovias, sendo um dos principais pontos de atenção elencados pela PRF para o risco de acidentes. A demanda é pela construção de um viaduto, que facilitaria o tráfego no trecho. A obra consta no contrato da CCR ViaSul, mas é prevista apenas para o ano de 2031.

Região Norte
A maior área de extensão da BR-386 fica no norte do Estado. São 17 municípios entre São José do Herval e Boa Vista das Missões. Em meio à expectativa pela duplicação, há uma preocupação de alguns municípios em relação a melhorias em acessos que não estão contemplados no pacote de obras e que poderão ter o trânsito impactado pela faixa adicional.
Em Fontoura Xavier, município cortado pela estrada, há uma demanda da população pela criação de um trevo de acesso que liga os dois lados da cidade. Atualmente, para sair de um acesso para o outro, é necessário fazer um retorno pela própria BR-386. O comerciante Paulo de Andrade teme que, com a ampliação da estrada, o que já é difícil possa piorar.
— Se não tiver o trevo, é o retorno, que se torna muito longe. Dois quilômetros cada lado, enquanto tem o risco de acidente também. Esse é o problema. Vai dificultar mais a vida dos fontourenses. É uma faixa a mais para atravessar — conta.
A Associação dos Municípios do Alto da Serra do Botucaraí (Amasbi) está apresentando as propostas para que sejam elaborados novos estudos a fim de aprimorar a estrutura desse e de outros acessos. Atualmente, no caso de Fontoura Xavier, não há previsão contratual para executar o trevo de acesso ou demais melhorias.
Mais ao norte, onde não há concessão, as demandas estão relacionadas tanto à BR-386 quanto à BR-158. O principal pedido é para duplicar todo o trecho de Carazinho a Iraí. Um projeto já está sendo feito para contemplar o segmento Carazinho e Barra Funda. No entanto, um estudo de viabilidade não apontou para a necessidade de duplicar o resto da estrada. Prefeitos seguem pleiteando junto ao governo federal alguma alternativa.
Além disso, há cobrança por melhorias nas condições do asfalto, no acostamento e na iluminação.