O governo estadual apresentou nesta sexta-feira (13) os detalhes e o planejamento referentes ao investimento de R$ 731,3 milhões para dragagem e outras obras de reforço estrutural das hidrovias no Rio Grande do Sul. Como destacado pelo Piratini, a ação, que terá o maior aporte de recursos da história do Estado para o setor portuário, tem o objetivo de restaurar e ampliar a infraestrutura logística gaúcha, gerando maior eficiência e competitividade para este modal de transporte.
Este investimento foi anunciado pelo governo ainda em novembro. Os recursos são provenientes do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), abastecido com os valores referentes à suspensão do pagamento da dívida do Estado com a União após a enchente de maio.
O conjunto de ações recebeu o nome de Programa Estratégico de Reconstrução I. O objetivo é reconstruir e restabelecer as infraestruturas terrestres, de acostagem e de controle dos portos organizados, com ênfase no porto de Porto Alegre, e também restaurar as profundidades de projeto dos canais de navegação sob a jurisdição da Portos RS, abrangendo o porto de Rio Grande, a hidrovia da Lagoa dos Patos, do Guaíba e seus afluentes, impactados pela enchente ocorrida em maio.
— A expectativa é muito boa, e o anúncio de fato é um motivo para celebrar, pois um investimento desse porte é uma demanda histórica do setor. O ponto é que esse investimento foi anunciado para um serviço emergencial, após uma tragédia, mas esse serviço tem que ser transformado em permanente, para que gere um incremento concreto e contínuo do fluxo logístico e também comercial do Estado através da maior utilização das hidrovias — projeta Wilen Manteli, diretor-presidente da Associação Hidrovias do RS.
O investimento de R$ 731,3 milhões será dividido em dois grupos de medidas. O primeiro receberá boa parte do valor, somando R$ 691,3 milhões para dragagem. Serão R$ 436,9 milhões para dragagem do canal de acesso ao porto de Rio Grande, com prazo de 18 meses para execução, e outros R$ 254,4 milhões para levantamento batimétrico e dragagem dos canais da Lagoa dos Patos e do Guaíba, com prazo de 24 meses para execução.
Dessa forma, com os recursos, serão executados serviços de batimetria e dragagem em cerca de 320 quilômetros de hidrovias interiores. Também serão realizados em mais 40 quilômetros de canais na área portuária de Rio Grande e do seu canal de acesso.
Os outros R$ 40 milhões destacados serão aplicados em ações de reforço na infraestrutura e em equipamentos de segurança e controle no porto de Porto Alegre. Neste conjunto, serão R$ 15 milhões destinados à elaboração de projeto elétrico do porto da Capital, além de execução para adequação a normas de segurança do trabalho no local. Já os outros R$ 25 milhões serão aportados para o restabelecimento das instalações de controle de acesso à área operacional, administração e recinto alfandegado do porto — cada ação tem previsão de 18 meses de duração.
Reforço do modal como alternativa logística
Como explica Wilen Manteli, a dragagem é uma forma de desassoreamento, voltada à garantia de navegabilidade ao longo dos cursos d’água conhecidos como hidrovias. Inclui os serviços de batimetria, sinalização, balizamento e monitoramento ambiental para manter a profundidade e a segurança no tráfego do canal.
— É preciso encarar as hidrovias como fator de atração de investimentos, um catalisador de desenvolvimento, que fomenta o transporte de cargas, a indústria de infraestrutura e também o turismo nos municípios ribeirinhos — complementa o diretor-presidente da Associação Hidrovias do RS.
O presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (CâmaraLog), Paulo Menzel, afirma que somente cerca de 3% de toda carga que sai exportada pelo porto de Rio Grande atualmente chega ao terminal por vias navegáveis. Ele defende que os investimentos anunciados podem reforçar essa via como alternativa logística mais significativa no Estado.
— Em logística, se diz que a infraestrutura puxa o desenvolvimento. Se eu tenho um canal de navegação totalmente iluminado, seguro, vou apostar nesse modal, vou escoar mais cargas por essa via, que além de tudo é mais barata e mais sustentável. Se houver um trabalho de reforço e cuidado permanente dessas vias navegáveis, esse canal pode ser cada vez mais utilizado, aliviando os outros modais — argumenta Paulo Menzel.
Em novembro, foi iniciada a dragagem do canal de Itapuã, na Lagoa dos Patos, ponto que tem registrado o encalhe de navios. A operação, orçada em R$ 8,8 milhões, deverá remover até 185 mil metros cúbicos de sedimentos, e tem previsão de 90 dias de execução.