Após diversas reclamações de clientes que ficaram mais de uma semana sem luz devido à passagem de um ciclone extratropical no Estado, no dia 12 de julho, a CEEE Equatorial divulgou na manhã desta quinta-feira (20) que o sistema opera em normalidade em todas as regiões da área de concessão. A companhia garante que atende apenas pontos isolados localizados principalmente no sul do RS, mas não dá um prazo específico para resolver estes casos (veja, abaixo, os relatos).
Conforme o último balanço divulgado na quarta-feira (19), 2,8 mil pontos ainda estavam sem energia. O número passou de 700 mil na semana passada, em razão dos estragos causados pela chuva e vento forte.
A demora para reverter a falta de energia gerou protestos. Na quarta-feira, manifestantes obstruíram totalmente a BR-293, em Capão do Leão, no local conhecido como Capela da Buena.
No mesmo dia, o diretor-presidente da CEEE Equatorial, Raimundo Barretto Bastos, disse ao Gaúcha Atualidade que a companhia enfrentava o "momento mais crítico", porque restaram os locais onde a destruição da rede havia sido muito grande. Ele ainda negou que a concessionária enfrentasse falta de pessoal ou que teria faltado planejamento.
Em contato com a reportagem da Rádio Gaúcha, um funcionário da concessionária, que não quis se identificar, desabafou sobre a rotina incansável de trabalho para tentar solucionar os problemas.
— Estamos trabalhando mais de 17 horas por dia faz uma semana, vocês noticiam muito pela falta de energia, mas precisam noticiar a sobrecarga horária a que estamos sendo submetidos. Começamos a trabalhar às 7h30min e, por vezes, é 1h da manhã e ainda estamos trabalhando. Só queria desabafar que às vezes parece que os funcionários são incompetentes, mas estamos muitos cansados e assim mesmo não deixamos de trabalhar arduamente — relata o profissional, que foi de Porto Alegre para Rio Grande.
O funcionário ainda citou a logística de atendimentos e a distribuição da demanda.
— Mandavam a gente ir pra Camaquã, São Lourenço do Sul e outras regiões menos afetadas, aí Rio Grande e Pelotas eles tinham como referência as ligações dos consumidores. Quando a mídia começou a expor os problemas, eles perceberam que lá o o estrago foi maior. Se a Equatorial tivesse disponibilizado a maioria de seus funcionários pra lá, o trabalho todo já tinha sido sanado tanto lá quanto em outras áreas — opina.
Com relatos de falta de luz há nove dias, moradores pedem providências
A falta de resposta e de um prazo claro é o que mais incomoda os moradores que permanecem sem luz no sul do Estado. Em São Lourenço do Sul, a dona de casa Nice Rodrigues, 34 anos, contou que está sem energia desde o dia 13 de junho e se sente desanimada.
— Ontem nos informaram que tinha uma equipe lá fazendo todo o conserto, porém não terminaram, porque surgiu um chamado de emergência e eles acabaram abandonando e voltando para esse outro chamado. Voltamos todo mundo à estaca zero e ao início da fila. Hoje de manhã, eu fiz mais duas solicitações, pediram para aguardar até o final do dia. Com certeza, não seremos atendidos novamente — lamenta.
Em Morro Redondo, o produtor rural e funcionário público Cássio Gabriel Signorini, 45 anos, diz que está preocupado com a casa do pai, que é idoso, e está sem energia desde a noite de 12 de julho.
— Estou cuidando do meu pai aqui, ele tem 88 anos, teve AVC, é cadeirante, acamado. É uma dificuldade, sabe, os alimentos estragando, uma dificuldade pra cuidar dele sem luz, sem nada, pra dar banho... É um descaso total. Tu não vê um carro (da CEEE Equatorial) circulando para cima ou para baixo (...) Se a cada ciclone que tiver a gente passar por isso... é terrível — reclama o morador.
Em Pelotas, a pescadora Gracinda Santos Feijó, 54 anos, também alega estar há nove dias às escuras, se virando com velas e baterias. Ela salienta que perdeu alimentos e que precisa ir até a casa de parentes para conseguir tomar banho.
— Eles vieram com dois caminhões ontem (quarta-feira), arrumaram o poste, mas não arrumaram os fios. Já veio caminhonete, já veio caminhão, não ligaram a luz. A gente manda mensagem, só dizem que estão trabalhando na rede, mas aqui não aparece ninguém. A gente liga para eles, eles dizem que tem que esperar, que tem gente na frente, mas há nove dias sem mandar ninguém, sem arrumar, eu acredito que é mentira, né? — desabafa.