Nelson Jungbluth foi o responsável pela imagem da Varig nos anos dourados. O artista plástico gaúcho criou a rosa dos ventos utilizada a partir de 1963, na frota e nas campanhas publicitárias. Inicialmente, o desenho era azul e branco, e a partir de 1997 ganhou proeminentes tons de amarelo. Foi incorporado inclusive nos aviões que passaram à Gol, depois do leilão que acabou com a Varig, em 2007.
Os rabiscos desse período, da primeira concepção até a arte finalizada, foram encontrados pela reportagem de GZH no Morro Santa Tereza, zona sul de Porto Alegre. Estão na casa em que Jungbluth viveu até sua morte, em 2008, por complicações de uma fibrose pulmonar. O imóvel seguiu ocupado pela viúva, que em 2017 também morreu. Hoje, virou herança física e afetuosa, como um museu sem curadoria.
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Única filha do desenhista, Sue Jungbluth da Rocha Freitas, 70 anos, suspira quando fala dos tempos em que via o pai com bloco e pincel:
— Tava sempre rabiscando, com lápis e papel na mão. Me dava muita tinta e dizia "tem de que ficar rabiscando, rabiscando, isso que desenvolve a arte". Ele não parava.
O papel dos rascunhos já é amarelado, com pontas desgastadas pelo tempo. Conservam, mesmo assim, círculos à lápis. Imagina-se que ele perseguia a ideia de centralizar o “V”, de Varig, no globo terrestre - as artes que não o contentaram foram rasuradas com um “X”. O Ícaro, que ocupou esse espaço entre 1932 e 1962, foi incluído entre os logos descartados.
Algumas tentativas frustradas surpreendem, com cores pouco usada pela companhia: o verde e o vermelho.
Como os computadores ainda eram experimentais entre décadas de 1970 e 1990, o designer projetava manualmente como ficariam as marcas na cauda dos jatos.
— Dava aquele sentimento, a criação dele voando o mundo inteiro. A Varig foi muito importante para nós, deu uma tristeza quando faliu, parecia que tinha morrido alguém próximo — lamenta, escorada no autorretrato do artista de olhos claros.
O neto mais velho, Rafael Jungbluth Freitas, 47 anos, seguiu a profissão. Ele lembra de ter sido chamado pelo avô, poucos dias antes de sua morte. No atelier, o artista revirou os desenhos e disse a Rafael: “eu era bom, né?”.
— Me impressionou, ele mostrou materiais que eu nunca tinha visto. Anúncios da Renner, Ipiranga, Ceee, e esses estudos dos logos da Varig. Sem dúvida, ele foi um dos maiores diretores de arte do País — afirma.
Rafael deseja expor o material para marcar o centenário de nascimento de Nelson Jungbluth, no próximo dia 26 de novembro. Busca um espaço para a mostra e parceiros que viabilizem a ideia.
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