Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta segunda-feira (13), a lei que restringe o uso de celulares em escolas públicas e privadas em todo o país ainda é alvo de discussões entre professores, diretores, famílias e especialistas na área da educação.
A proposta, de autoria do deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), foi aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado em dezembro, após nove anos de tramitação no Congresso Nacional.
Convidada pelo governo federal para participar da solenidade de assinatura da lei, a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Cruz, de Farroupilha, Veridiana Brustolin Balestrin foi entrevistada no programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha. A escola, que já proíbe o uso do celular dentro de sala de aula e no ambiente escolar desde o retorno das aulas pós-pandemia, é líder estadual no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2023, o último divulgado pelo Estado.
— Com a pandemia, o fato de os alunos terem ficado muito conectados fez com que isso se tornasse um problema e esse material começou a aparecer mais na escola. A nossa orientação, sempre muito firme, foi que não se pudesse usar em sala de aula — explicou Veridiana.
Mesmo que os alunos quisessem usar o aparelho no horário do intervalo, por exemplo, a escola restringiu o uso justamente por entender que a socialização é parte importante do processo de aprendizagem.
— Nós insistimos, também, na proibição do uso do celular no pátio, na hora do intervalo. Eles estão na escola e têm que socializar entre eles, com os professores, com a equipe, com as pessoas que os servem — justifica.
Escola enfrentou resistência das famílias
Quando a restrição de uso dos celulares foi posta em prática pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Cruz, a diretora observou resistência por parte das famílias dos estudantes.
— Nós temos o apoio do Poder Público nas decisões que a gente toma e as famílias foram entendendo aos poucos, de forma natural. Alguns ainda questionam, mas a gente se mantém firme, porque no momento em que a criança entra no ambiente escolar, a responsabilidade é de quem gere, dos profissionais que estão ali pela criança — destaca a diretora.
Para garantir o contato entre famílias e alunos, em casos de necessidade, a escola dispõe de telefone ou WhatsApp.
— Qualquer coisa que vier a acontecer com a criança, a gente liga para as famílias. Então, isso não é um problema e nem um argumento. A gente proíbe o uso e não o fato de ter consigo o celular. Contanto que o celular esteja desligado, escondido no fundo da mochila, não é um empecilho. Ela não vai poder fazer uso em nenhum momento no ambiente escolar, a não ser que seja com fins pedagógicos — explica.
Para desenvolver as atividades, a escola conta com laptops específicos para acessar os sites e conteúdos educativos. Por isso, diminui a necessidade de utilizar o celular em sala de aula.
"O foco da escola é a aprendizagem e bem-estar do aluno"
Para Veridiana, é necessário enfrentar o desafio de restringir o uso dos celulares no ambiente escolar. Apesar do desconforto, ela aponta que a escola é local para a aprendizagem.
— A lei já existia de forma estadual, então a gente vai protelando as coisas até chegar no limite. Eu acho que o limite já passou. A gente precisa encarar que é um desafio ter que brigar para colocar em prática essa lei. O foco da escola é a aprendizagem e bem-estar do aluno. Acredito que quando o grupo se convence disso, ele vai convencer a comunidade — defende.
Para a diretora, a família também deve estar atenta ao uso do aparelho, não apenas em casa, mas também em outros ambientes.
— Eu acho que a maior responsabilidade, sem dúvida, é da família. A gente precisa estar atento. A gente tem que controlar o horário e isso dá muito trabalho, porque desgasta e porque a gente também está no celular. O adulto também está conectado o tempo todo. A gente tem que sair desse vício para depois chegar na criança — indica.
Escola é líder no ranking do Ideb há uma década
A Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Cruz, de Farroupilha foi reconhecida pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2023, como a escola com melhor desempenho nos Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino Fundamental de todo o Rio Grande do Sul.
Só na categoria dos Anos Iniciais, a escola é líder do ranking gaúcho há 10 anos. Já na categoria Anos Finais, são oito anos na primeira colocação.
A classificação no ranking foi o motivo pelo qual a diretora foi convidada pelo Governo Federal para estar presente do ato de assinatura da nova legislação.
— Nossos alunos têm ótimos rendimentos, os nossos índices são bem positivos. Nós não somos uma escola que acredita na reprovação como alternativa, a gente esgota todas as possibilidades, porque a gente também entende que existe o tempo e a parceria entre família e escola — explica.