Ainda tentando enfrentar os danos causados pela estiagem que castiga o Rio Grande do Sul desde o final de 2019, o governo do Estado estima que o cenário adverso seguirá pelo menos até o fim deste mês, intensificando a condição de alerta. A ausência de chuva constante e volumosa nas últimas semanas e a previsão de tempo seco na maior parte de março contribuem para esse cenário pessimista.
No início de janeiro, 14 municípios já haviam decretado situação de emergência em razão dos prejuízos causados pela escassez de chuva. Até a tarde desta quinta-feira (5), esse número estava em 129 — 31 já foram reconhecidos pela União. O trâmite garante ações de socorro para amenizar estragos.
— A situação nos municípios está se agravando porque a estiagem é um evento lento e gradual. As perspectivas da meteorologia são de que essa estiagem vai se prolongar até quase o final de março. Então, a tendência é dar uma piorada — alerta o coordenador da Defesa Civil no Estado, Coronel Julio Cesar Rocha Lopes.
Mesmo com a previsão de avanço da estiagem no Estado, o governo ainda adota cautela ao falar sobre possibilidade de seca. Conforme a Defesa Civil, esse fenômeno só ocorre em cenário de “incapacidade generalizada de abastecimento de água para consumo humano, e com um período superior a seis meses sem registros de chuvas. Rocha Lopes diz que é difícil cravar a chance de seca, pois a situação precisa ser avaliada “dia a dia” e as condições meteorológicas são “muito dinâmicas”.
Rocha Lopes garante que o Estado ainda não enfrenta situação de desabastecimento de água e nem de energia elétrica. Apenas casos pontuais são atendidos. No entanto, o coronel reforça o pedido para a população usar água com parcimônia no sentido de evitar desperdícios que podem impactar na falta do produto em eventual cenário mais complicado.
Segundo o coordenador da Defesa Civil no Estado, as regiões Sul, Central, da Fronteira Oeste e do Vale do Rio Pardo estão entre as mais afetadas pela falta de chuva. Os estragos atingem desde a agropecuária até o desabastecimento em localidades rurais, que costuma utilizar açudes e cacimbas no manejo.
Neste momento, as atividades da Defesa Civil na ajuda aos municípios está concentrada no apoio com reservatórios móveis de água e auxílio no reconhecimento dos decretos de situação de emergência.
A Corsan está com operação de caminhões-pipa em 11 municípios gaúchos. Entre essas cidades estão Barão de Cotegipe, Pinheiro Machado, Garibaldi e Fontoura Xavier. Segundo o órgão, o abastecimento está normalizado em todas essas cidades. O serviço de apoio ocorre para garantir os níveis, porque o volume de captação está limitado em razão da falta da chuva.
Governo anuncia ações
Na noite desta quinta-feira (5), o governador Eduardo Leite anunciou três medidas para ajudar a amenizar os efeitos da estiagem. A Brigada Militar distribuirá kits de irrigação, a Defesa Civil ampliará número de agentes para analisar a perfuração de poços e uma estação da Corsan será colocada em funcionamento em Capão do Leão. Também serão entregues microaçudes. A Secretaria de Obras irá liberar máquinas para 12 cidades, que não foram especificados.
Perdas na safra podem aumentar
Prevendo perdas provocadas pela estiagem nos primeiros meses do ano, a agropecuária lida com a possibilidade de resultados mais preocupantes com a expectativa de falta de chuva em março. Na terça-feira, a Emater estimou que a colheita de grãos no Estado chegará a 28,72 milhões de toneladas, queda de 13,8% em relação às 33,3 milhões de toneladas projetadas e de 8,8%, se comparado ao ciclo do ano passado.
— A cada dia que passa agrava ainda mais a nossa principal cultura, que é a soja. Hoje, nós estamos com estimativa de 16% na redução. Isso foi até o dia 28 de fevereiro. Se a gente demorar 10, 15 dias para ter chuva, a situação agrava mais — avalia o secretário estadual da Agricultura, Covatti Filho.
O chefe da pasta diz que é cedo para cravar a mudança do status para seca, mas salienta que, com a atual situação, o Estado flerta com essa possibilidade. Segundo Covatti Filho, as regiões Central e Vale do Rio Pardo estão entre as mais afetadas pela ausência de chuva.
Para esta sexta-feira, está prevista uma reunião entre o secretário da agricultura e integrantes da bancada gaúcha em Brasília e deputados estaduais na Expodireto-Cotrijal. Busca por apoio federal no enfrentamento à estiagem estará na pauta do encontro.
Presidente da Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo, Rafael Reis Barros (PSDB), prefeito de Rio Pardo, afirma que a situação na região segue complicada. No município administrado por Barros, o interior é uma das áreas mais afetadas.
— É muita gente sem água no interior. Estamos levando água em uma bolsa que foi cedida pela Defesa Civil e botando nas cacimbas do pessoal, aqueles poços que algumas famílias têm em suas casas. Mas já está chegando em um ponto onde está começando a faltar água para o gado — descreve.
Maior volume de chuva deve retornar apenas em abril
No fim da manhã desta quinta-feira (5), o coordenador da Defesa Civil estadual recebeu prognóstico pessimista em reunião com técnicos da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). No encontro, os especialistas afirmaram que a ausência de chuva mais encorpada no Estado deve seguir até pelo menos o dia 22 deste mês.
A Somar Meteorologia também prevê tempo seco em praticamente todo o Estado até o final da primeira quinzena de março. Na segunda metade do mês, a precipitação ocorre em algumas regiões, mas de maneira esparsa e em pequenos volumes.
— Em abril, já começa uma situação um pouco mais chuvosa no Rio Grande do Sul por conta de a gente estar no outono. A melhor chuva para o Estado é na primeira quinzena de abril. É uma chuva mais volumosa, que atinge todas as regiões do Estado e pode dar um alívio — projeta a meteorologista da Somar Doris Palma.
Seca ou estiagem
Estiagem: período prolongado de falta de chuva.
Seca: estiagem prolongada com incapacidade generalizada de abastecimento de água para consumo humano, e com um período superior há seis meses sem registros de chuva.