O Ministério Público ingressou com dois recursos no Tribunal de Justiça do Estado referentes ao processo da tragédia da Boate Kiss. Um deles é pedindo que o julgamento de um dos réus, o do produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha Leão, que está marcado para o próximo dia 16, em Santa Maria, seja suspenso. Isso porque o órgão também recorreu da decisão do próprio Tribunal de Justiça que concedeu o desaforamento aos réus Mauro Hoffmann e Marcelo de Jesus dos Santos, para que eles sejam julgados fora de Santa Maria, assim como Elizandro Callegaro Spohr. Ou seja, o MP não quer nenhum julgamento até que se tenha uma decisão final sobre a comarca onde todos os réus serão julgados, assim como pede que os quatro sentem juntos no banco dos réus na cidade onde ocorreu a tragédia.
O presidente Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Flávio Silva, reforça que o recurso é um desejo da entidade e também do MP para que todos os réus sejam julgados juntos em Santa Maria.
— Desde o início estamos trabalhando para que o júri seja realizado em Santa Maria e com os quatro réus juntos, uma vez que o crime aconteceu em uma noite só e fez todas aquelas vítimas. Então, entendemos que eles devam ser julgados todos juntos em um só júri. O que pedimos é muito coerente, é apenas a suspensão desse júri para aguardar a decisão desses recursos. A gente espera que o Tribunal aceite esse pedido de suspensão — destaca Silva.
CONTRAPONTOS
Jean Severo, advogado de Luciano Bonilha Leão
"A gente reage com indignação. Mas, ao mesmo tempo, isso demonstra que o Ministério Público não tem absolutamente nada contra o Luciano. Eles querem colocar o Luciano junto com os outros réus para tentar arrumar argumentos que não existem contra ele. Nós queremos ir ao julgamento, queremos o júri no dia 16. Quem está adiando esse júri sei lá para quando é o Ministério Público"
Jader Marques, advogado de Elizandro Callegaro Spohr
"O Ministério Público insiste num caminho já trilhado e que foi rechaçado pelo Segundo Vice-Presidente do Tribunal de Justiça. O Desembargador Túlio Martins foi muito claro ao dizer que um Desembargador, em pedido de liminar, não pode suspender a decisão tomada por uma Câmara Criminal, que analisou o mérito da questão do desaforamento. Esta conduta apenas cria insegurança em relação ao julgamento já designado"
Mauro Cipriani, advogado de Mauro Londero Hoffmann
"A defesa recebe com surpresa o, no mínimo inusitado, pedido do MP, e acredita que o TJRS não dará efeito suspensivo nem ao pedido de desaforamento tampouco à sessão do júri marcada para o dia 16/03 para Luciano. A petição ministerial, além de não conter elementos básicos para a admissão do recurso, mostra, novamente, que é o responsável pelo retardamento do processo, pois se desde o princípio tivesse capitulado de forma adequada a acusação, este processo já teria sido julgado há anos"
Tatiana Borsa, advogada de Marcelo de Jesus dos Santos
"A defesa de Marcelo está surpresa com a manifestação do MP e da Associação com o recurso interposto neste momento, nas vésperas da sessão plenária de julgamento de um dos réus, e acredita-se que o TJ, da mesma forma que decidiu em relação ao réu Elizandro, se manifestará contrariamente ao pedido do MP em relação ao efeito suspensivo do desaforamento e da sessão plenária aprazada para o dia 16. Salienta-se que essa é mais uma forma que o MP encontrou de retardar o julgamento já agendado"