Depois de uma pequena temporada longe de Porto Alegre, a professora Lisete Rigoni, 55 anos, levou um susto quando retornou. Ela e o marido, Paulo Roberto Rigoni, 62, passaram um tempo fora do Estado visitando os filhos e, na sequência, emendaram alguns dias no litoral gaúcho.
Ao voltarem para a Capital, depararam com a interrupção das atividades do comércio e os supermercados lotados. Embora tentasse fazer caminhadas e corridas na praia, a rotina era diferente da qual está habituada, com aulas regulares de pilates, alongamento e algumas pernadas na esteira.
— No dia 18 de março, a academia que eu frequentava fechou. Pensei: e agora? Então, começaram as lives — conta.
Na academia “física”, Lisete faz aulas com a professora de educação física Roberta Ortega, que, diante do isolamento, iniciou o projeto Ginástica para Todos. Diariamente, Roberta dá aulas variadas em seu perfil no Instagram. Lisete não só acompanha as lives como levou junto o marido e as irmãs, uma delas, inclusive moradora do Interior.
— Ainda não convenci meu filho! — ri.
Apesar da distância física, Lisete vê nas lives uma oportunidade de se aproximar virtualmente dos colegas da academia, além de experimentar outros exercícios com os quais não está acostumada.
— Acabei descobrindo outros exercícios, como os de glúteos, de condicionamento. O pilates dá condicionamento, mas os aeróbicos são importantes também. Inclusive, antes do pilates, tenho feito uma atividade aeróbica.
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Há um mês em isolamento com o filho, Henrique, de cinco anos, a arquiteta Michelle Moraes da Silva, 42 anos, tem usado a criatividade para se manter ativa. Praticante de corrida há 13 anos, ela improvisou uma pista no corredor do apartamento, onde corre de duas a três vezes por semana. Fora isso, faz outras atividades propostas pelo grupo de corrida. Quando consegue, usa as escadas do prédio onde mora para se exercitar: sobe ligeiro os 10 andares e desce ao menos quatro vezes.
— Na próxima, vou fazer 10 — promete.
A ideia de seguir com os exercícios, mesmo em confinamento, serve para ter um momento para si, garantindo a saúde do corpo e da cabeça.
— Não correr na rua não está me abalando, consigo dar conta aqui. Fiz uma cirurgia e tinha ficado 30 dias sem fazer nada. Aí entendi o que é “ficar sem fazer nada”. O fato de eu poder fazer coisas já está maravilhoso. É passageiro, todo mundo está no mesmo barco — tranquiliza.
Habituada a percorrer entre 40 e 50 quilômetros em uma semana, agora, ela reduziu o ritmo: mediu o corredor e o dividiu em voltas. Percorre cerca de 190 voltas, sempre com a companhia do filho no primeiro “quilômetro”. Uma das receitas para o sucesso é não cobrar resultados: tirou o relógio do pulso e aliviou a cadência. Sua dica para quem deseja manter o corpo em movimento é não exagerar na dose.
— Quem não faz nada, não deve começar a se exercitar enlouquecidamente. Tem muita live, muito vídeo. Para quem tem experiência acho que é válido. Do contrário, busque alternativas, como caminhar no corredor. Minha mãe está caminhando pela casa, pelo corredor, e se deu conta agora de como isso é importante — sugere Michelle.
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Não pire, não invente. Aproveite
Sacos de arroz, garrafões de cinco litros de água, cabo de vassoura, mantas de sofá, tapetinhos e elásticos: essa é minha nova academia. Ela divide espaço com a redação e o ambiente para refeições, tudo em plena sala da minha casa. Desde o dia 24 de março, trabalho no sistema home office, assim como a maior parte da equipe de GaúchaZH.
Seguir uma rotina de exercícios, além de manter meu corpo ativo, descansa a minha cabeça nesse momento tão complicado. Antes desse turbilhão todo, eu saía do jornal e seguia direto para a academia – com algumas escapadas, às vezes, admito. Hoje, com a limitação de circulação, as “matadas” rarearam. Muito mais do que me movimentar, as aulas diárias (aos finais de semana também!), pontualmente às 18h30min, têm o poder de me levar, mesmo que em pensamento, para o ambiente da academia. Ouvir a voz da minha professora de mat pilates cumprimentando cada colega é um alento nesses dias difíceis. Parece que estou lá de verdade.
E não é porque estou em casa que faço os exercícios “de qualquer jeito”. Muito pelo contrário, acho que tenho me esforçado até mais. Como esse se transformou no meu momento do dia, curto cada gotinha de suor que escorre pelo rosto e cada dorzinha sentida no dia seguinte. Nos finais de semana de sol, aproveito o privilégio de ter um pátio grande para pular corda na rua ou subir e descer algumas vezes as escadas. Nunca foi tão prazeroso me exercitar!
Para quem, assim como eu, está em isolamento, minha dica é manter as atividades. Não se cobre em manter aquele ritmo de sempre e tenha consciência de que perdas (ou ganhos!) acontecerão. E tudo bem.
Não pire. Não invente. Procure acompanhar aqueles profissionais que você já conhece e que, provavelmente, já conhecem você. Crie uma rotina: estabeleça o seu horário exclusivo para as atividades físicas. Tente desligar do resto e aproveite. Seu corpo e sua mente agradecem.