O maior ano da história do surfe brasileiro foi, sem dúvida alguma, o de 2018. Mesmo que o Brasil não venha a conquistar o título mundial desta temporada, os feitos protagonizados pelos atletas brasileiros ao longo do ano são considerados históricos. Claro que, se Gabriel Medina ou Filipe Toledo levantarem a taça ao final da última etapa do Circuito Mundial, que começa neste sábado (8), em Pipeline, no Havaí, coroaria a brilhante temporada da Brazilian Storm — apelido da nova geração de surfistas do país.
A temporada já havia iniciado com boas perspectivas. Pela primeira vez o Brasil superou a Austrália em número de representantes no Circuito Mundial, criado em 1992. Onze brasileiros contra oito australianos e seis norte-americanos, terceira potência na modalidade. De figurante passamos a ser protagonista. Há quatro anos, Gabriel Medina conquistava o mundo, colocando o surfe brasileiro em um novo patamar. Prova disso é que, em 2015, Adriano de Souza confirmou a ascensão do país no cenário internacional, faturando o bicampeonato para o Brasil. Em 2018, quatro brasileiros venceram oitos das 10 etapas disputadas até o momento. Façanha inédita.
— Já tivemos momentos muito bons, mas sem dúvida esse está sendo o melhor do que todos um dia sonhavam. Eu sempre imaginei que um dia o Brasil tivesse um campeão mundial, mas não tendo um "ataque" como está tendo agora. É além do que a gente imaginava — declarou emocionado Fábio Gouveia, o primeiro brasileiro a vencer uma etapa no Havaí.
Além de Medina e Filipinho, o australiano Julian Wilson também briga pela taça. No ranking do Mundial, Gabriel Medina tem 4.740 pontos a mais que Wilson e Toledo, segundo e terceiro colocados, respectivamente, empatados com 51.450 pontos. Para conquistar o título sem depender dos adversários, Medina precisa chegar à final em Pipeline. Segundo o ex-surfista catarinense Teco Padaratz, ícone do surfe no Brasil e bicampeão mundial do QS (Segunda Divisão do surfe), o favorito em águas havaianas se apresenta de forma muito clara.
— Esse ano quem esteve a frente dos outros foi o Gabriel pela constância dos resultados. Eu acho ele o grande favorito a vencer o título, até porque ele é um dos melhores em Pipeline. Se a gente for olhar pelas estatísticas, o Julian Wilson é muito bom, mas o Gabriel também é e só depende dele. Eu acho que todas as indicações são para o Gabriel, com certeza. Não tenho dúvida disso — analisou.
O mar é um fator preponderante na hora de destacar um postulante a taça. Pipeline é famosa por sua onda extremamente grande e tubular. No entanto, localizada no norte da ilha de Oahu, a famosa bancada de coral também tem seus dias ruins. Mesmo sendo o auge da temporada havaiana, existe uma ligeira diferença da qualidade dessas ondas, dependendo principalmente da direção do swell (ondulação) e do vento.
A análise é simples. Nos dias "bons" em Pipe, com ondas tubulares de 10 e 15 pés, Medina e Wilson saem em vantagem. Ambos conhecem e estão acostumados com o poder do mar havaiano. Já, nos dias "ruins", com mar pequeno e fraco, Filipinho cresce. Com um vasto repertório de manobras e aéreos, o paulista pode aproveitar a situação.
— Não tem nada ganho ainda porque o Havaí nem sempre se comporta como tal, pode ocorrer de o mar estar ruim também. O Gabriel treina muito lá, assim como o Julian, são dois caras que só vivem naquela onda quando vão para lá. Dos três, o Filipe é o que menos surfa aquela onda. Mas tudo pode acontecer, ainda mais se o mar tiver a favor do Filipe, com as ondas um pouco menores — disse Gouveia.
Fator John John
Dono de dois campeonatos em sequência, 2016 e 2017, o havaiano John John Florence foi o grande responsável por ofuscar os brasileiros nos últimos anos - interrompendo a série de títulos brasileira. Como se machucou em maio, quando sofreu uma lesão no joelho durante uma sessão de freesurf em Bali, está afastado das competições desde o primeiro semestre. Sendo assim, a grande pergunta que norteia a avassaladora ascensão brasileira é: a ausência de John John foi a principal responsável para o incrível ano brasileiro?
— Acredito que não porque existe uma disputa interna entre os brasileiros. Claro que se você não tem um adversário altíssimo, tem um caminho aberto. Acho que a disputa interna, entre o pessoal, que fortaleceu tanto. O Italo está afim de vencer, o Filipinho também no gás todo. Eu acho que a disputa entre esses três, Filipinho, Ítalo e Medina, ajudou mais para o momento do Brasil — analisou Gouveia.
— Pode se dizer que sim, por respeitar o nível de surfe do John John, que todo mundo sabe qual é. Mas antes mesmo de ele se machucar, ele já vinha tendo resultados ruins. Ele não estava em uma fase só ruim fisicamente, ele vinha de uma fase psicologicamente não tão boa. Acho que mesmo ele participando talvez pudesse ganhar uma ou duas etapas. Mas, com certeza, não teria uma performance avassaladora como foi a dos brasileiros esse ano —disparou Teco.
O certo a se dizer é que John John também não estará em Pipeline neste ano. Inscrito no evento, o havaiano anunciou, na última quarta-feira, a sua desistência do torneio. Segundo o próprio atleta, ainda não está recuperado totalmente.
— Acho que estou próximo dos meus 100%, mas ainda não estou totalmente recuperado. Essa semana recebi a notícia de que não posso executar todos os movimentos, então tive que tomar essa decisão — afirmou em comunicado.
O que cada um precisa para ser campeão
- Se Medina terminar em primeiro ou segundo lugar em Pipeline, é campeão Mundial.
- Se Medina terminar em terceiro, Julian Wilson e Filipe Toledo precisam vencer o evento.
- Se Medina terminar em quinto em uma posição até a 25ª, Julian Wilson e Filipe Toledo precisam de um segundo ou um primeiro lugar em Pipe.
Brasil no CT de 2019
Além de Medina e Filipe, mais cinco dos onze titulares da seleção brasileira deste ano, estão entre os top 22 que são mantidos na elite. O potiguar Italo Ferreira está em quarto lugar no ranking, o catarinense Willian Cardoso em 13º, o cearense Michael Rodrigues em 14º, o paulista Adriano de Souza em 17º e o catarinense Yago Dora ameaçado na 22ª e última posição.
O paulista Jessé Mendes não ficou entre os top 22, mas se garantiu pelo top 10 do QS. Entre tanto, o catarinense Tomas Hermes em 25º no CT e o pernambucano Ian Gouveia em 29º, estão perdendo suas vagas e devem disputar a Segunda Divisão no ano que vem. Outro que está fora é o paulista Caio Ibelli em 39º, que se contundiu na terceira etapa do ano e voltou a competir na Tríplice Coroa Havaiana, então pode receber um convite da WSL para participar da próxima temporada.
Pelo QS, o potiguar Jadson André, o paranaense Peterson Crisanto e o paulista Deivid Silva estão garantidos na elite mundial de 2019. Sendo assim, o Brasil contará com o mesmo número de surfistas que início 2018 em 2019, 11 atletas.