O debate sobre a situação financeira do Inter, acirrado com a votação das debêntures, deixou uma impressão quase de desespero para vender jogadores e equilibrar o caixa.
Mas, segundo o vice-presidente de futebol do clube, José Olavo Bisol, não é essa a realidade do Beira-Rio. Ele não esconde as dificuldades, mas, em sua visão, trata-se de situação semelhante a outras já vividas. Não há, para ele, motivo de desespero.
Em entrevista à Zero Hora, no CT Parque Gigante, o dirigente analisou o 2024, especialmente a partir de sua chegada, em agosto, e projetou 2025. Gauchão, Libertadores, prioridades, vendas de jogadores, contratações e uso da base foram alguns dos temas abordados. Confira.
Que análise o senhor faz de 2024?
Precisamos colocar a perspectiva do tempo. A comissão técnica chegou em meio aos efeitos da enchente (18 de julho), e a minha chegada foi já na parte final (5 de agosto), da repercussão, junto com André Mazzucco (diretor executivo) e D'Alessandro (diretor esportivo). Não vou fazer uma avaliação do período anterior, mas conseguimos compreender que, pelo nível de estrutura e competitividade que o grupo tem, tinha grande expectativa por resultados.
Mas o que mudou?
Para mim, foi a capacidade do Roger de tirar o melhor dos jogadores e dar um modelo de jogo em tão pouco tempo. Geralmente, um trabalho precisa de mais dias para ser assimilado, mas os atletas e a comissão técnica foram muito bem. Recuperamos nossas estruturas, como Beira-Rio e CT, com grande empenho do presidente Alessandro Barcellos, mas que custou um investimento financeiro alto. Mudamos fluxos, a comunicação interna aqui, algumas atividades e tudo isso gerou o resultado que vimos no final do ano. Por isso, é uma avaliação positiva frente ao que enfrentamos no ano, com perspectivas positivas. É um reflexo da estratégia do final do ano passado, quando reforçamos o grupo e fizemos uma janela bem ativa.
O futebol atual é bem mais profissional. O que o senhor faz desde que assumiu como vice de futebol?
Quando aceitei o convite, quis mais era entender o que funciona. Minha tarefa é muito mais de fiscalização do que está sendo feito pelos profissionais. E estou aqui para que nada falte e para provocar o conselho de gestão para fazer as melhorias. Meu perfil é esse. Chego cedo, pego o chimarrão, converso com todos os setores, vejo todos os treinos, as avaliações dos adversários, das palestras. Tudo para entender se o trabalho está atendendo o que esperamos. Claro, respeitando as funções de todos. Mas estou sempre próximo.
Participas também das negociações?
Fazemos um diagnóstico do plantel, com toda a estrutura executiva e com a comissão técnica. Isso vem sendo feito desde o meio do ano. Nosso diagnóstico está pronto há mais tempo. Só converso com empresários e atletas quando precisa da figura institucional, algum poder de convencimento. Em geral, um trabalho mais de fiscalização.
Como vai ser o perfil de contratações em 2025?
Nos notabilizamos por fazer movimentos que deram resultado esportivo e também em mercado. Posso citar Alemão, Pedro Henrique, Rômulo, Igor Gomes, Bruno Gomes, Wesley. Foram exemplos em que fomos criativos no mercado. E queremos fazer isso ainda mais agora, que vivemos um momento delicado. Vamos nos aprofundar no mercado, com responsabilidade, mas sem perder em competitividade.
Não estamos desesperados. Não vai ter desmanche no Inter. É um ano difícil como muitos outros foram no futebol brasileiro como um todo
JOSÉ OLAVO BISOL
Vice-presidente de futebol do Inter
Para contratar precisa vender?
No nosso planejamento não tem essa vinculação. Temos uma imposição orçamentária que nos obriga a fazer vendas. Mas todo ano é assim. Faz parte do futebol brasileiro. É uma meta que precisamos cumprir. E temos planos A, B e C para suprir eventuais vendas, do ponto de vista esportivo. Mas não estamos desesperados. Não vai ter desmanche no Inter. É um ano difícil como muitos outros foram no futebol brasileiro como um todo.
Tem chance de Bernabei jogar no Inter em 2025?
Tem, sim. O contrato dele se encerra agora no final do ano, mas temos cláusulas que nos dão opção de compra. Nosso momento não nos deixa ser agressivos e fazer essa opção. Mas temos um alinhamento com o atleta e estamos conversando com o Celtic. Bernabei está ambientado, já falou que quer ficar no clube. Não vamos fazer irresponsabilidades financeiras. Temos limites e já expusemos ao Celtic. Espero um desfecho positivo.
E Wesley?
Wesley se valorizou nesse ano, foi muito bem no campeonato, e é visto como um jogador importante no mercado. Vamos sempre considerar as melhores possibilidades de vendas, e não me refiro apenas ao Wesley. Precisamos manter a competitividade.
O caso de Wesley teria reposição no grupo, Wanderson por exemplo. Mas e no caso de Vitão?
É um jogador extremamente importante, se perdermos, teremos de fazer uma reposição à altura. Mas no mesmo estilo, indo ao mercado, estudando e tentando acertar. Não está no nosso horizonte perder o Vitão, contamos com ele para a próxima temporada. Se possível, vamos reforçar a defesa.
Estamos buscando alternativas para todos os setores. E precisam ser criativas, pensando em eventuais saídas.
JOSÉ OLAVO BISOL
Vice-presidente de futebol do Inter
Zagueiro é prioridade?
Não chega a ser prioridade porque temos opções no grupo. Seria se perdêssemos Vitão. Não é o caso. Estamos buscando alternativas para todos os setores. E precisam ser criativas, pensando em eventuais saídas. Se for algum negócio de ocasião ou de baixo custo, vamos avaliar.
Ano que vem, o Gauchão pode ser histórico. O Grêmio, se for campeão, iguala uma marca da qual o Inter se orgulha, de ter sido o único octa. O quanto vale o Estadual de 2025?
Esse elemento de ser o oitavo Gauchão (conquistado pelo Grêmio) seguido não pode ser desconsiderado porque é uma questão histórica. Mas é apenas um elemento. Há tantos outros. Estamos há bastante tempo sem vencer, a torcida está angustiada, temos a nossa expectativa criada todos os anos, e que não é da boca para fora, fomos vice do Brasileiro (em 2020 e 2022), caímos na semifinal da Libertadores (em 2023) e ainda não digerimos. O octa é importante e não desconsiderável. Mas a responsabilidade de trazer títulos para a torcida é o que nos alimenta. Vamos fazer todo o esforço possível para ganhar o Gauchão.
Por ser mais curto, o Gauchão, que poderia virar uma preparação para o ano, tem um aspecto decisivo. Ele vai ser disputado no máximo desde o início?
O calendário atrapalha a organização, mas é o que está posto. Mesmo assim, já sabíamos da dificuldade que se apresentará. O ano que vem tem rodada final do Brasileirão em 22 de dezembro. Por isso, retornaremos ao trabalho no dia 6 de janeiro e já teremos jogo em 21 ou 22 de janeiro. Queremos iniciar a pré-temporada com os jogadores prontos para a comissão técnica tomar as melhores decisões. Nosso mantra vai ser jogo a jogo, como no Brasileirão. Se conseguirmos manter isso, com o nível do Brasileirão, podemos ir bem. É um desafio importante.
Em 2024, a ideia seria priorizar o Brasileirão. Mas teve a eliminação no Gauchão, veio a enchente, tudo mudou. Em 2025, terá de volta a Libertadores. Em um cenário brasileiro que tem clubes com muito dinheiro, um campeonato longo é mais difícil para quem tem menos condições. Como será a priorização das competições?
Está cada vez mais difícil mesmo. É um debate em nível nacional e mais latente aqui essa dificuldade de fazer frente a clubes com orçamentos bilionários. Estamos tratando para tentar amenizar isso. Nosso desafio é ter competitividade com menos, ter criatividade para isso. Acertar nas contratações e nas decisões. Os números mostram que tivemos lucratividade absurda nas contratações dos últimos anos. Mas não quero dizer que não vamos ter competição. Pelo contrário, vamos competir em alto nível. Não faremos nem deixaremos de priorização do Brasileirão, não é isso. Nosso primeiro desafio é o Gauchão. Depois vamos fazer o acompanhamento de acordo com o ano.
Qual é a ideia de aproveitamento da base?
Trazer o Pablo Fernández para a comissão permanente do profissional ajudou. Temos alguém alimentando diariamente as informações. Do ponto de vista técnico, se diz que precisa ter um equilíbrio de idade em cada posição. Sempre o terceiro jogador é oriundo da base. Estamos tentando fazer um grupo extremamente equilibrado, entre idade, afirmação e jovens. Esse é o conceito.
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