Em Itu, a cidade famosa pelos exageros, no interior paulista, o Inter encontrou refúgio para treinar visando a sequência de temporada, após a interrupção dos jogos causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que prejudicaram a estrutura do clube, como o CT Parque Gigante e o Estádio Beira-Rio. Um ativo importante, considerada a principal contratação do ano, Rafael Santos Borré, que nem sequer completou três meses em Porto Alegre, assimilou a dimensão de tudo que a situação representa para o Estado.
Em conversa com GZH, após mais um forte treinamento, da espécie de intertemporada, complementada com uma “brincadeira” de futevôlei com Magrão e Thiago Maia, o colombiano projetou também a possibilidade, mesmo que mais difícil, de conquistar um título ainda na atual temporada.
O atacante, que caso não vingasse nos campos gostaria de ser professor de matemática, falar do Gre-Nal, previsto para o mês de junho pelo Brasileirão, faz rasgados elogios ao grupo colorado, ao futebol brasileiro e à parceria com Enner Valencia, que deverá, pela primeira vez, ser colocada em prática numa partida na retomada das competições.
Retomada
Como está a preparação para a retomada da temporada?
É uma preparação importante para a gente. Sabemos da relevância das partidas que teremos adiante. Nesta mini pré-temporada aqui, estamos nos saindo muito bem. As demais equipes têm ritmo de jogo competitivo, pois estão jogando seguidamente, nós estamos sem ritmo. Estamos fazendo o melhor possível
Mesmo com as dificuldades adicionais por mandar jogos fora do Beira-Rio, é possível conquistar um título em 2024?
Sim. Creio que para gente essa é a mentalidade. Desde que cheguei aqui a mentalidade é esta: buscar um título importante com o clube. Sabemos das dificuldades, mas a maior preocupação é com a nossa gente, não estar com os torcedores, no nosso estádio. Sinto que isso pode influenciar, mas confio nos jogadores que temos, que enfrentaram muitos momentos difíceis, sabem enfrentar as adversidades, não espero que isso seja diferente. É um grupo muito maduro e vai saber lidar.
A Sul-Americana é o caminho mais fácil?
Vai depender do calendário. À medida que jogamos as partidas, vamos nos sentindo mais confiantes e fortes e vamos sabendo se apostaremos numa coisa ou outra. O calendário vai ajudando e nós, como grupo, sentimos em cada torneio.
O que você acha do futebol praticado no Brasil?
Me dei conta que os brasileiros deveriam estar orgulhosos do seu futebol. Podemos ver todas as equipes com uma ideia de colocar a bola no chão, de jogar, fazer combinações, sair jogando. Também se vê a qualidade dos atletas para usar nas ideias de jogo. É difícil de ver em outras ligas e outros países. Aqui se tenta e tem a qualidade para fazer. É o que pude comprovar do que eu já pensava.
Quais foram as suas maiores dificuldades no começo?
A ansiedade e a mudança de adversários, de estádios, de viagens. Tínhamos partidas a cada três dias, me recuperava um pouco e já estava jogando novamente. Quando fiz o primeiro gol, adquiri tranquilidade, na partida seguinte já fui mais tranquilo e pude me soltar um pouco mais dentro de campo.
Os gols vieram antes da parada. Dá para manter o nível na retomada?
Foi o mais difícil para mim. Quando comecei a ter o ritmo dentro de campo, recuperamos jogadores importantes como Alan Patrick, Enner Valencia e Charles Aránguiz. A equipe estava se sentindo à vontade, mas veio tudo isso que é tão lamentável para todos. Também me dá tempo para conhecer os companheiros, ter essa pré-temporada com eles, ajuda muito na adaptação. Espero que agora que voltemos a jogar, tudo flua com mais naturalidade.
O Inter tem uma “legião” de estrangeiros. E dos brasileiros? Quem são os seus amigos no elenco?
Quem me surpreendeu muito foi o Fernando, que fala muito bem espanhol. Converso bastante com ele. Com o Thiago Maia também. Como chegamos juntos, tenho muita confiança, brincamos muito, pois ele não entende espanhol. Bruno Gomes também tenho relação e depois Renê e Alan Patrick. Na verdade, é um grupo muito bom e que te faz se sentir cômodo.
Ambientação boa já, inclusive com futevôlei…
Gosto de conhecer a cultura de todos. Têm uns que jogam bem. Na Colômbia, temos o costume de jogar um pouco menos. Aqui é como um esporte, lá é para diversão. Dá para ver quem sabe, tem campeonatos, gosto de entender como é.
Parceria com Valencia
E a expectativa pela parceria com Valencia?
Estamos nos entrosando, nos conhecendo. Vou vendo o que ele gosta, ele vê o que eu gosto, tipo de movimentação dentro e fora da área. Coisas do dia a dia. Esse tipo de intertemporada ajuda muito. Temos que ter algo mais claro do que funciona para nós dois.
As características de vocês dois são parecidas. Como encaixar?
Tanto com Enner e com outros atacantes, são boas opções para o treinador. Temos muitas similaridades. Ele gosta de sair da área e nesse momento vou ter que estar dentro. Eu também gosto de sair, ele vai ter de ficar dentro de área. Vamos ir trocando, entrando e saindo, levando dificuldades a equipes rivais. Esperamos que seja a fórmula para conseguirmos muitas vitórias.
Vocês dois estão ansiosos?
Queremos que os bons jogadores estejam juntos. Temos uma equipe muito competitiva, com atletas de muita qualidade e hierarquia. É ótimo para a gente. Quando parou o Campeonato Brasileiro, conseguimos recuperar Alan, Charles e Enner. São jogadores diferentes que ajudam muito.
Gre-Nal
Qual é a sua expectativa para o primeiro Gre-Nal?
Estou com muita ilusão. São partidas especiais, tenho oportunidade em minha carreira de jogar grandes jogos, grandes clássicos, Boca e River na Argentina. Na Espanha se pode ver um Barcelona e Real Madrid. Sinto que são jogos especiais. Aqui não é exceção. O que me dizem os companheiros, pelo o que vejo no dia a dia, o Gre-Nal é muito importante. Eu como jogador, .
Tenho muita gana de sentir essa emoção, de jogar esse tipo de partida
BORRÉ SOBRE GRE-NAL
Seleção da Colômbia
A convocação para a seleção colombiana lhe tira dos próximos jogos do Inter. Tem chances de postergar a apresentação?
É um orgulho estar na seleção, representar o nosso país. Agora, isso é entre o clube e seleção. Que se consiga um acordo para me organizar. Eu gostaria de ficar, jogar, estar aqui competitivo para atuar nas partidas. Precisam de um acordo, e que seja o melhor para mim.
O que a Colômbia pode fazer na Copa América?
Vamos com a mentalidade de sermos protagonistas. Estamos tentando isso nas Eliminatórias, queremos colocar um estilo de jogo de sermos competitivos, de buscar as partidas, não vamos mudar essa mentalidade.
Vocês ganharam do Brasil recentemente. O que dá para projetar sobre o reencontro?
É uma partida espetacular para a gente. Atuar contra os grandes te mede para saber como está. O Brasil é um dos grandes. Sabemos que é um rival que deve avançar.
Enchentes no RS
Você foi flagrado como um dos atletas que ajudaram a população durante as enchentes. Como imagina a reconstrução?
Creio que é algo difícil de assimilar. Cheguei no Rio Grande do Sul, a cidade me encantou, as pessoas, não somente no futebol, mas no âmbito pessoal também. Encontrar boas pessoas, gente conhecida, isso me agradou muito. Essa situação (chuvas) deixa complicada as coisas. Sempre busco as formas de ajudar, como posso, onde conheço, onde me permitem, pois é algo que ninguém estava preparado para viver isso. Vamos reconstruir novamente o tão lindo que é o Rio Grande do Sul.
O que dizer sobre a união dos dois maiores rivais numa campanha agora?
Isso mostra muito o que é o povo brasileiro. Falam muito bem das pessoas do Brasil. Não só os jogadores, mas os gestos, a mentalidade que vocês têm, de equipes de tanta rivalidade e história se juntarem para ajudar o seu povo, a sua cidade. Têm que ter orgulho de onde são. Para nós, é importante ajudar as pessoas.