Cinco pessoas foram condenadas, nessa segunda-feira (4), por crimes cometidos contra o Sport Club Internacional na gestão 2015/2016. Foi o biênio que culminou com o histórico rebaixamento do Colorado à Série B do Brasileirão. Entre os sentenciados, estão o ex-presidente Vitorio Piffero e o ex-vice-presidente de Finanças Pedro Affatato.
O esquema, denunciado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, em desdobramento da Operação Rebote, tinha como principal mecanismo a tomada de adiantamentos na tesouraria do clube. Depois, notas fiscais frias eram emitidas para buscar justificar os saques, geralmente com a descrição de realização de obras. Até notas de empreiteiras inativas durante a gestão Piffero foram usadas. E a maioria das obras, mostraram as apurações, não existiu. Piffero foi condenado a 10 anos e seis meses de prisão, em regime fechado, por estelionato e formação de quadrilha. Affatato foi penalizado por esses mesmos delitos, acrescido de lavagem de dinheiro, com 19 anos e oito meses de reclusão. Ambos poderão recorrer em liberdade.
O assunto já foi tema de uma série de reportagens do Grupo de Investigação da RBS (GDI), publicada em GZH e Zero Hora a partir do dia 23 de março de 2018. As principais reportagens trouxeram detalhes e revelações sobre o uso de notas fiscais frias que foram utilizadas para justificar saques feitos por dirigentes, sobretudo Affatato, na tesouraria do clube. Confira, a seguir, a série de conteúdos do GDI:
Primeira reportagem da série fala sobre o dinheiro que foi sacado da tesouraria do clube a título de adiantamentos e não teve a devida comprovação de despesa, sendo que R$ 9,9 milhões teriam sido aplicados em obras no Estádio Beira-Rio. As alegadas construções não foram encontradas por consultorias contratadas para analisar as contas da gestão.
Em mais de 670 páginas, auditoria contratada pelo Conselho Deliberativo do Inter listou inconsistências como prestações de contas pendentes, saques sem a comprovação adequada e falta de assinaturas dos beneficiários.
Veja as ligações entre as empresas pagas na gestão Piffero por obras não encontradas por consultoria
Entre os problemas apontados pela auditoria, está a contratação de empreiteiras para execução de obras que somaram R$ 9,9 milhões — e que não foram encontradas por consultorias que analisaram as contas. O GDI constatou que as empresas têm ligações entre si e usam o mesmo escritório de contabilidade.
Uma quinta empresa — além das quatro que receberam R$ 9,9 milhões entre 2015 e 2016 — surgiu na lista de prestadores de serviço do Inter sob suspeita de ter se beneficiado de pagamentos sem realizar nenhum trabalho. No endereço que seria da empresa, no litoral catarinense, havia apenas uma casa humilde onde residia uma cabeleireira.
A empresa Keoma Construção, Incorporação e Planejamento, uma das quatro que receberam R$ 9,9 milhões do Inter entre 2015 e 2016 por obras não identificadas no complexo Beira-Rio, enviou nota ao Grupo de Investigação da RBS (GDI) dizendo que estava inativa durante a gestão de Piffero. A empreiteira afirma desconhecer o preenchimento de notas fiscais e a execução de qualquer obra para o Inter.
Pedro Affatato, ex-vice-presidente de Finanças, juntou documentos fiscais da Rodoseg, de propriedade de seu irmão. Prática é vetada pela lei federal que criou o Profut.
Pedro Affatato e Emídio Ferreira deram aval a notas da Keoma Construção, Incorporação e Planejamento, emitidas para cobrar do clube valores por serviços não encontrados pela consultoria EY.
Edson Joel Rodrigues diz que tinha como função a parte operacional, com atuação nos canteiros de obras. Segundo ele, a contabilidade ficava a cargo do sócio e engenheiro Ricardo Bohrer Simões, um dos condenados pela Justiça. Edson afirmou que a empresa Keoma jamais havia prestado serviços ao Inter.
Elo entre construtoras e o clube, engenheiro atuava em empresas de Emídio Marques Ferreira, vice-presidente de Patrimônio em 2015 e 2016.
O que os investigados disseram
Ex-dirigente se manifestou sobre suspeita de irregularidades em gastos milionários.
Presidente diz que críticas à gestão são resultado do rebaixamento à Série B.