Em entrevista ao GDI, o proprietário da Keoma, empresa que recebeu R$ 5,3 milhões do Inter por obras não encontradas por consultoria, reafirmou nunca ter tratado de qualquer serviço no Beira-Rio ou ter feito negociação com dirigente. Edson Joel Rodrigues assegura que jamais preencheu nota fiscal para cobrar o clube. Tampouco alcançou documento em branco para ex-dirigentes colorados. Ele disse que tinha como função na empresa a parte operacional, com atuação nos canteiros de obras em rodovias. A contabilidade era com o sócio e engenheiro Ricardo Bohrer Simões, afirma.
Rodrigues e Simões foram sócios desde meados dos anos 2000, mas seus nomes nem sempre constaram simultaneamente nos contratos sociais das empresas que operavam. Na Keoma, Rodrigues é o dono. Já na Pier Incorporadora, outra em que mantiveram negócios, os dois se tornaram oficialmente sócios em abril de 2014, embora atuassem nela conjuntamente desde meados dos anos 2000 (veja as ligações entre as empresas que receberam do Inter por obras não encontradas por consultoria) . Rodrigues afirma que seria Simões o responsável por emitir notas da Keoma para o Inter.
– Sou operacional, o cara do capacete e da botina. Quem fazia minhas notas? Onde estavam as minhas notas? Onde estava a Keoma? Na casa do Ricardo. A parte contábil era com o Ricardo – assegura Rodrigues.
A reportagem reuniu documentos que reforçam a ligação de Simões com a contabilidade da Keoma. Quatro boletos do 3º Tabelionato de protestos, com data de 2010, emitidos em cobranças contra a Keoma, tinham o endereço da residência da época de Simões, na Avenida Teresópolis, em Porto Alegre.
Uma correspondência de uma empresa de entregas, enviada ao endereço de registro da Keoma, no centro de Torres, tinha como destinatário nominal "Ricardo Bohrer Simões".
Emprestar? É o nome disso? Vender nota quer dizer empréstimo?
EDSON JOEL RODRIGUES
Um dos donos da Keoma, refutando a possibilidade de as notas terem sido "emprestadas" a ex-dirigentes do Inter
Entre 2007 e 2011, a Keoma prestou serviço de manutenção de estradas pedagiadas no Rio Grande do Sul. Ela era subcontratada pelas concessionárias para fazer serviços como tapa-buraco, roçadas e pinturas. Em 14 de dezembro de 2009, o consórcio Metrovias enviou um ofício para informar sobre o fechamento das demonstrações contábeis daquele ano. O documento, endereçado ao "departamento contábil" da Keoma, indicava como número de fax o telefone celular pessoal de Simões, mantido por ele até os dias atuais.
Para Rodrigues, os elementos indicam que Simões, por ser responsável pela contabilidade, ficou com os talões de notas fiscais depois de 2011, quando a empresa paralisou atividades. Ele refuta a hipótese de as notas terem sido "emprestadas" por Simões a ex-dirigentes do Inter entre 2015 e 2016, época em que a Keoma não exercia mais nenhuma atividade.
– Emprestar? É o nome disso? Vender nota quer dizer empréstimo? – rebate o proprietário da Keoma, que, apesar de paralisada, segue com o registro ativo em órgãos públicos.
Ricardo Bohrer Simões não foi localizado pelo GDI.
Confira a entrevista com Edson Joel Rodrigues
Por que a Keoma só teve vida de 2007 a 2011?
Eu adoeci. Resolvi parar. Imagina, eram mais de 3 mil quilômetros entre Rio Grande do Sul e São Paulo para percorrer. Então resolvi parar com a Keoma.
A Keoma fez algum serviço para o Inter?
Em momento algum, a Keoma fez algum tipo de serviço para o Inter. Nada. Zero. Nunca.
Como se explica que R$ 5,3 milhões em notas fiscais da Keoma foram apresentadas ao Inter cobrando serviços entre 2015 e 2016?
Em 2004, quando começamos a trabalhar em rodovias pedagiadas, a Pier Incoporadora (empresa na qual é sócio com Ricardo Simões) fazia limpeza de canaleta, pintura de canaleta e meio-fio. Depois assumimos roçada, tapa-buraco, desvios, e compramos a Keoma. Sou um cara operacional, o cara do capacete e da botina. Quem fazia a parte contábil da empresa? Ricardo.
Quem emitia as notas fiscais da Keoma?
A minha caligrafia não é boa. Nunca preenchi uma nota fiscal. Quem fazia minhas notas? Onde elas estavam? Na casa onde o Ricardo morava na Avenida Teresópolis (na Capital).
As notas da Keoma ficavam lá?
Sempre ficaram. Não só as notas, mas boletos de cobranças que vinham para a Keoma de fornecedores.
Pode ter sido o Ricardo Simões a preencher as notas ficais?
É uma escrita parecida com a dele. Por isso gostaria que fizessem perícia nas notas.
As notas fiscais da Keoma para o Inter são de 2015 e 2016. Qual foi a movimentação financeira da empresa nesse período?
Zero. Não teve. Coloco à disposição a quebra de qualquer sigilo bancário da Keoma. Podem puxar todos os extratos até a última movimentação.
Quando fechou a Keoma, o senhor chamou o Ricardo para ele devolver as notas?
Até ali, 2011, 2012, a gente conversava. Depois, fui no escritório do Silmar (Adão Silmar Feijó, contador de empresas que fizeram cobranças junto ao Inter por serviços não encontrados) e pedi todos os documentos.
O senhor conhece o Pedro Affatato?
Não.
E o Emídio Marques Ferreira?
Não conheço. Sei que o apelido dele é Português. Ele vendia asfalto frio em saco usado pelas concessionárias para tapar buraco nas rodovias. Sempre me diziam, vai no Português, manda os caminhões carregar lá.
O senhor conhece o contador Adão Silmar Feijó?
Conheci através do Ricardo.
Qual a sua relação com o Ricardo hoje?
Nenhuma. Tivemos uma amizade forte, éramos amigos. Ele tinha saído de uma empresa que quebrou. Teve um tempo em que eu fiquei doente, tive uma pneumonia muito séria, e o cara desapareceu. Depois reapareceu, do nada.
O Ricardo Simões foi procurador da Egel (outra empresa que emitiu nota ao Inter por serviços não encontrados). Ele tinha as notas fiscais da Egel?
Sim. Se olhar uma nota da Egel, com certeza vai fechar a caligrafia com uma das notas da Keoma.
O Ricardo Simões conhece o Emídio Marques Ferreira?
Não posso afirmar que ele conhecia o Emídio, posso afirmar que ele conhecia um Português.
O Ricardo Simões conhecia o Pedro Affatato?
Te afirmo que ele conhecia a Sinarodo (empresa de Affatato).