Empresa que mais recebeu recursos do Inter para a realização de obras não identificadas entre 2015 e 2016, a Keoma Construção, Incorporação e Planejamento, de Torres, emitiu sete notas fiscais que somaram R$ 635 mil com a justificativa de serviços prestados no Centro de Treinamento (CT) de Guaíba.
Nos dois anos da gestão de Vitorio Piffero, o clube não dispunha da Licença de Instalação no terreno, documento emitido pela Fepam, o que impedia a realização de intervenções no local. Até hoje, o CT de Guaíba não recebeu obras e a área segue tomada por mato e vegetação.
Na descrição dos serviços prestados, os documentos destacam "limpeza da área para sondagem" no CT de Guaíba.
Em 2015, época da emissão das notas, o Inter detinha apenas a Licença Prévia (LP) para o empreendimento de 41 hectares em Guaíba. A pedido da reportagem, a Fepam explicou que nenhuma obra ou limpeza pode ser feita enquanto um empreendimento tiver apenas a LP:
“Uma LP não autoriza intervenção alguma na área, pois ela somente descreve as condições e as restrições ambientais e autoriza a localização do empreendimento. Todas as intervenções necessárias para a instalação do empreendimento (descapoiramento, limpeza, supressão de vegetação, aterros, valas etc) somente podem ser executadas após a emissão da Licença de Instalação (LI)”, explica o órgão ambiental.
A LI, que autorizaria obras e limpeza no local, foi emitida somente em 22 de junho de 2017, quando já havia acabado a gestão do clube que está sob suspeita, alvo de inquérito do Ministério Público e de uma apuração interna liderada por uma comissão.
O Inter não tinha autorização para qualquer ação de "limpeza da área para sondagem" no CT de Guaíba, mas, ainda assim, o ex-vice-presidente de finanças da época, Pedro Affatato, apresentou notas da Keoma para justificar adiantamentos sacados por ele na tesouraria.
Obras da Keoma não foram localizadas por consultoria
A Keoma recebeu do Inter, nos dois anos de gestão Piffero, o total de R$ 5,3 milhões, divididos em 66 notas fiscais da empresa, dezenas delas sequenciais. Segundo a consultoria EY (antiga Ernst & Young), contratada pela atual direção do Inter para apurar procedimentos, as supostas obras realizadas não foram localizadas, tampouco foram encontrados processos de seleção e contratos assinados.
Após o Grupo de Investigação da RBS (GDI) revelar o nome, os sócios e os cruzamentos entre eles e a precariedade ou inexistência física das quatro empresas que receberam R$ 9,9 milhões do Inter entre 2015 e 2016 por obras não localizadas, a Keoma se manifestou via nota ainda em março. Na época, no texto, a empresa afirmou desconhecer qualquer serviço realizado para o Inter pela Keoma, seja no Estádio Beira-Rio ou em outra estrutura do clube.
"A empresa Keoma vem esclarecer que não mantém qualquer atividade há mais de cinco anos, sendo seu sócio administrador desconhecedor da emissão de notas fiscais ou mesmo da execução de qualquer obra ou elaboração de qualquer contrato desta empresa com o clube", diz trecho da nota.
Confrontados com o teor desta nota da Keoma, o ex-presidente Vitorio Piffero e o ex-vice Affatato não quiseram se manifestar.
O que diz Pedro Affatato
"De meu conhecimento, todas as licenças ambientais estavam regulares. A Keoma prestou serviços no local. Cada serviço deve ser analisado de acordo com as medições feitas do local, o que pode não ter constado discriminadamente em cada nota. O serviço foi prestado há três anos, razão pela qual fica prejudicada qualquer avaliação atual quanto à existência de vestígios da atividade."
O que diz a Keoma
Procurados por GaúchaZH desde a semana passada, os dirigentes da Keoma não se manifestaram sobre a obra no CT de Guaíba.